Rio de Janeiro - Quem viveu nos anos 80 lembra da famosa frase: 'o primeiro sutiã a gente nunca esquece'. Comercial, de 1987, para a Valisère, criado pelo publicitário Washington Olivetto.
Do primeiro jornal, também não.
Hoje, remexendo o passado, lembrei que o "Cartoon" - meu primeiro jornal de humor - completa este ano 33 anos.
O "Cartoon", um tabloide de humor, lançado por mim, no início dos anos 90, foi um negócio de doido.
Em todos os sentidos.
Eu tinha um bar na Lapa. "Retiro dos Artistas" (Rua do Lavradio, esquina com Rua do Riachuelo), frequentado por artistas, boêmios, jornalistas, prostitutas e travestis.
A freguesia não era lá essas coisas, mas a vizinhança era boa.
Jaguar, cronista e cartunista do jornal "O Dia", morava num apart-hotel, ao lado e, às vezes, passava pra tomar uma; Danilo Alvim, o "Principe Danilo", jogador do Vasco, morava alí perto e almoçava lá; O pintor e ceramista chileno, Jorge Selarón, morava ali perto, na Rua Manoel Carneiro, também conhecida como "Escadaria Selarón", estacionava lá sua bicicleta vermelha, pela manhã , para tomar seu cafézinho; Madame Satã morava na Rua Morais e Vale, bem perto. Uma pequena rua onde moraram Chiquinha Gonzaga, Jaguar e o Poeta Manoel Bandeira; Oswaldo Nunes, compositor do Bafo da Onça, também era vizinho e freguês do bar.
O sambista, autor de "Oba', de 1962, que acabou virando hino do Bloco, morava em um prédio em frente, onde, aliás, foi assassinado, vítima de homofobia.
Eu vendi o bar pra fazer o jornal.
Eu editava, escrevia, ilustrava e ainda varria a redação, que, segundo alguns difamadores, era o que eu fazia de melhor.
Guardada as devidas proporções, o "Cartoon" foi como o "Carapuça", do Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta e o "Pif-Paf" do Millôr Fernandes. Teve vida breve. Saíram só cinco números.
Era um jornal meio amador, não tinha retorno financeiro, periodicidade, publicidade… fazíamos pelo prazer. Ninguém ganhava nada!
A coisa era tão desorganizada, que nem eu tenho os cinco números que saíram. Tenho quatro, mesmo assim, porque recebi de presente do cartunista e amigo Ferreth, que comprava numa banca em Copacabana.
Os primeiros três números foram bem. Pudera! o "Pasquim" vivia seus últimos dias e não havia nenhum outro jornal de humor, na época.
Aliás, havia "O Planeta Diário", que apesar de ser feito por cartunistas, não publicava cartuns.
O jornal publicou muita gente nova e boa. Alvim, que depois foi pro "Jornal dos Sport"; Netto, um rapaz de Niterói que publicou em "O Fluminense"; Ferreth e Ykenga, de "O Dia"; Fred e William, cartunistas da Paraíba; Aragão e Celim de Minas Gerais; Amorim, do Rio de Janeiro e Gonzalo Cárcamo, um cartunista chileno que veio trabalhar no Brasil e hoje pinta aquarelas e mora em São Paulo.
Além dos consagrados Nani, Lan, Chico e Paulo Caruso, Jaguar, Ziraldo e outros, que gentilmente colaboravam, sem ganhar nada.
Outros, a gente "chupava" dos jornalões.
Depois que fechávamos o jornal, nos reuníamos no Capela, ou no Bar Brasil, alí perto, pra comemorar.
Por falta de publicidade, o jornal fechou.
Não ganhei nada. Mas me diverti pra cacete.
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