Rio de Janeiro - Voltei ao ‘Real Chopp’.
Na última vez que estive lá, os proprietários do boteco, os portugueses Hermínio e José Afonso, ainda brigavam pelo nome, com o vizinho. Parece que ganharam a briga.
Na época, rolava, na porta do boteco, um protesto contra o vizinho Jorge, dono do ‘Galeto Viva Flor’, que queria impedir os portugueses de usarem a marca ‘Real Chopp’.
Na manhã daquela terça-feira, Jaguar chegou ao protesto com um crachá em que se autodenominava um “black chopp”, em referência aos “black blocs”.
Estavam lá, além do Jaguar - que desenhou os cartazes exibidos no protesto do Real Chopp - eu, o ator Otávio Augusto, o cartunista Chico Caruso, e uma galera, assídua do bar.
O sucesso do ‘Real’ começou em 2006. Naquele ano, o bar foi incluído no ‘Guia Quatro Rodas’, como um legítimo representante da cultura carioca, uma casa de sucos que virou botequim – dos melhores, por sinal.
O ‘Real Chopp’, considerado um clássico da Zona Sul, recebeu o título de patrimônio cultural carioca da Prefeitura do Rio. Com a entrega da placa, o botequim passou a integrar o Circuito dos Botequins, que identifica os locais característicos e tradicionais da boemia, ressaltando o significado deles para a cultura carioca.
O ‘Real’ passou a figurar em uma relação, que conta com bares como Belmonte do Flamengo, Amarelinho da Cinelândia, Bar do Momo, Bracarense, Bar da Portuguesa, Adega Pérola e Casa Paladino, entre outros.
Conhecido por ter o melhor chope do bairro e o bolinho de carne mais famoso de Copacabana, o bar tem ainda pastéis feitos na hora, com diversas opções de recheios.
O polvo à vinagrete é o carro chefe da casa. Outras boas opções são as ovas de peixe cozidas, servidas ao molho vinagrete; e o bacalhau com cebola, salsinha e muito azeite português. Uma opção de prato principal é a picanha na pedra com fritas, arroz, farofa e molho à campanha.
Antes, era ‘Real Sucos’. Eis que, em 2008, quando o Rio recebeu a primeira edição do ‘Comida di Boteco’, a casa foi convidada a participar da contenda.
Jaguar - que aparecia por lá, quase que diariamente para uma rodadas de chope com Steinhäger - foi quem sugeriu a mudança do nome da casa de ‘Real Sucos’ para ‘Real Chopp’: “Vocês vão participar de um concurso de boteco com o nome de ‘Real Sucos’? Bota ‘Real Chopp’. Botaram. E ficou.
Apesar de ter mudado o nome fantasia, os empresários nunca se preocuparam em registrá-lo. Em 2012, quando foi fazer a troca, Hermínio percebeu que o vizinho Jorge, dono do ‘Galeto Viva Flor’, já havia registrado a marca.
No início de 2014, os proprietários receberam uma intimação que lhes obrigavam a retirar a marca do letreiro e de tudo mais que contivesse a expressão "Real Chopp". Desde então, as marcas foram cobertas com adesivos e a casa só estampa o nome "Real". A briga foi parar na Justiça.
Antes de usar a marca ‘Real Chopp’ no botequim, que fica na esquina das ruas Barata Ribeiro e Paula Freitas, em Copacabana, o bar dos portugueses se chamava ‘Real Sucos’.
Mas não vendia suco, vendia chopp.
Uma vez, o cartunista Otelo Caçador me disse: “o Leblon é engraçado. Tem a Luvaria Gomes, que não vende luvas, vende pratos. Tem o Café e Bar Bilhares, que nunca teve bilhar. Tem o Bar Raquete, um pé-sujo. Nunca entrou um tenista. E tem o Bar Memória que ninguém se lembra dele”.
Em Copacabana também é assim. No Real até tinha suco, mas o forte da casa era o chopp.
O boteco também já foi conhecido como "Bar dos Anões". O epíteto dado pelo cartunista Jaguar, tinha uma explicação: antes da última reforma, o piso do lado interno do balcão era mais baixo que o do lado de fora, e fazia os portugueses Afonso e Hermínio, donos do bar, parecerem ainda mais baixinhos do que eram.
‘Real Chopp’, tá escrito no letreiro. É, o ‘Real’ venceu.
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