Coluna

A FARRA DA CBF E O TÍTULO IMAGINÁRIO DO PALMEIRAS

sede cbf
Reprodução / Facebook - 

Rio de Janeiro - Eu ia escrever hoje sobre o novo vexame do ‘Flamengo de Sampaoli’, contra os reservas do Internacional, ontem, no Maracanã. Desisti. Criticar o Sampaoli tá mais fácil que empurrar bêbado na ladeira.

O cara só faz merda.

Mas Sampaoli não está sozinho. A CBF (Concedendo Benesses no Futebol), também desandou a fazer cagadas.

Depois da farra da entidade, distribuindo títulos da ‘Taça Brasil’ e 'Torneio Roberto Gomes Pedrosa’ para Palmeiras e Santos, como se fossem conquistas nacionais, a mesma distribui mais um esta semana: o 'Torneio dos Campeões', de 1937 - que teve até a participação de um time da Marinha do Brasil - para o Atlético Mineiro, como se fosse um Campeonato Brasileiro.

Mil novecentos e trinta e sete! Nessa época - novembro de 1937 - Getúlio Vargas  outorgada uma nova Constituição, idealizada e redigida pelo ministro da Justiça, Francisco Campos. A nova Carta, inspirada em regimes autoritários vigentes na Europa - como os de Portugal, Espanha e Itália -, com o Congresso Nacional fechado e com a decretação de rigorosas leis de censura, Vargas pôde conduzir o país sem que a oposição pudesse se expressar de forma legal. Foi com esse espírito 'esportivo' que a CBF resolveu dar ao Galo Mineiro, mais esse título.

Acho constrangedor! O Campeonato Brasileiro de Futebol começou em 1971 e foi vencido pelo Atlético Mineiro. O resto é torneio e ilusão de times que se acham campeões, mas não são.

Distribuir títulos para times de Estados poderosos como São Paulo e Minas Gerais é o mesmo que Bolsonaro fez, distribuindo verbas do Orçamento Secreto para políticos com bases em estados populosos, em troca de votos. São atos políticos (vergonhosos). 

Os dirigentes e torcedores desses clubes - que são beneficiados indevidamente - deveriam se negar a recebê-los. Renegá-los! Esses títulos nada somam à história desses clubes. Ao contrário, denigrem e mancham trajetórias, às vezes, brilhantes e honrosas.

E quando o título não é distribuído graciosamente pela CBF, os próprios clubes se auto intitulam campeões. Caso do Palmeiras, que se considera Campeão Mundial por ter vencido a Copa Rio de 1951, um torneio organizado pela Confederação Brasileira de Desportos, antiga CBD, com apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro. O torneio tinha como objetivo ser a primeira competição de clubes intercontinental, porém, não contou com chancela da Fifa, da Uefa ou da Conmebol, mas foi realizada - com o patrocínio do ‘Angu do Gomes’ -, assim mesmo.

A Copa Rio de 51 teve a participação de 8 clubes: Palmeiras, Vasco, Nacional, Áustria Viena, Juventus, Sporting, Nice e Estrela Vermelha. A competição teve uma segunda edição, em 1952, onde o Fluminense se sagrou campeão na final contra o Corinthians. Anualmente, em 2 de agosto, dia em que conquistou a ‘Copa Rio’ de 1952, o Fluminense celebra sua conquista mundial. E também se acha Campeão do Mundo. Vergonhoso! 

Era a época romântica do futebol. A maioria das equipes ainda eram amadoras; os jogadores jogavam com a meia-calça da mulher na cabeça e as traves ainda eram de madeira. Em tempo: Nova Iguaçu, Americano e Madureira também já conquistaram a ‘Copa Rio’. Viva os “Campeões Mundiais” cariocas!!!

Daqui a pouco todos os clubes terão títulos anexados a sua história, distribuídos por políticos ou dirigentes mal intencionados e o torcedor - que nem era nascido na época - fica sem saber se acredita ou não neles.

Porque na CBF, ninguém mais acredita.
 

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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