- Athaliba, não duvido que o protocolo de cerimônia de posse do índio Ailton Krenak, sendo eleito imortal, na ABL - Academia Brasileira de Letras -, seja quebrado. Quem viver verá que será um fato histórico, inimaginável, na área da literatura. O ritual, com certeza, terá o líder Raoni, com mais de 90 anos, da etnia caiapó, e Sônia Guajajara, 1ª ministra dos Povos Indígenas, oriunda da terra Arariboia, no Amarante do Maranhão. O Centro do Rio de Janeiro abrigará uma multidão.
- Inclua aí, Marineth, o xamã Davi Kopenawa, liderança yanomami; Piyãko, o líder do povo ashaninka; e Célia Xakriabá, a 1ª deputada federal indígena eleita por Minas Gerais. Aliás, esse estado se configura bairrismo, no caso, explicando a candidatura de Krenak, mineiro de Itabirinha, que disputará vaga deixada por José Murilo de Carvalho, também mineiro, de Piedade do Rio Grande. E ele tem credenciais para isso, pois é da Academia Mineira de Letras - AML.
- É isso aí, Athaliba. O Ailton Alves Lacerda Krenak, ambientalista, filósofo, poeta e escritor é professor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF. É considerado um dois mais respeitados líderes do movimento indígena do país, com prestígio internacional. Já tem na bagagem literária os livros O amanhã não está à venda, Ideias para adiar o fim do mundo e A vida não é útil, inclusive com mais de uma dezena de traduções.
- Marineth, o José Murilo de Carvalho morreu de COVID-19, em 13/8. A epidemia, no país, causou 705.054 mortes, de 2020 a março/2023. A direção da Organização Mundial da Saúde, em maio, determinou o fim de emergência do COVID-19, que matou quase sete milhões de pessoas no mundo. Portanto, fica esperta. O fim da emergência não significa que a pandemia acabou.
- Athaliba, o Ailton, nascido 29/9 de 1953, atualmente, vive na Reserva Indígena Krenak, na cidade mineira de Resplendor. No discurso de posse, na Academia Mineira de Letras, o índio revelou que “a minha escrita é pela oralidade, foi o que disse ao me perguntarem se, agora, iria me dedicar a escrever um livro; afinal, as minhas obras são transcrições de palestras; bem, pode ser que me dedique a falar um livro, porque é assim que eu escrevo”.
- Marineth, na AML, o índio recebeu 36 dos 39 votos. Ocupa a vaga do escritor e jornalista Eduardo Almeida Reis, cadeira 24, que foi inaugurada em 1909 por João Lúcio Brandão, poeta, contista e romancista. Tem a poetisa e ativista política Bárbara Heliodora como patronesse. Ela é reconhecida como “Heroína da Inconfidência Mineira”, movimento do qual participou ativamente. Nasceu em São João Del Rei, em 1759, e foi casada com o inconfidente Alvarenga Peixoto.
- Athaliba, o Krenak, vale registrar, é o 1º indígena a assumir uma cadeira em academias de letras no Brasil. Na posse dele, a integrante da AML, a pesquisadora do CNPq, professora e escritora Maria Ester Maciel disse que “o grande líder Ailton Krenak tem conjugado um vigoroso ativismo em defesa dos povos originários ao trânsito criativo por diferentes linguagens, culturas e territórios”. Acrescentou: “A isso se soma também seu impressionante trabalho de reflexão sobre o mundo devastado do presente e as práticas genocidas que, desde o início da colonização, vêm sendo infligidas contra as comunidades indígenas do Brasil”.
- Pois e, Marineth, os livros, depoimentos e poemas dele, como Maria Maciel sinaliza, “são registros vivos de um pensador-escritor que, com sabedoria, inteligência e sensibilidade poética, é capaz de ver a ancestralidade no futuro e nos apresentar vias possíveis para o adiamento do fim do mundo”.
- Tem mais, Athaliba. Ela o comparou “a um arbusto em extinção que tem como principal característica a capacidade de sobreviver em ambientes hostis”. Em agosto de 2020, o tal arbusto foi descoberto por pesquisadores das universidades federais de Juiz de Fora - UFJF - e do Rio de Janeiro - UFRJ -, tendo recebido o nome científico de Lippia Krenakiana, homenageando o índio Ailton Krenak. Tomara que o arbusto “acaricie” o lombo dos genocidas dos povos indígenas.
- Marineth, em 2020, o Ailton foi distinguido como intelectual do ano, ganhando o Troféu Juca Pato, ao vencer a 62ª edição do prêmio da UBE - União Brasileira de Escritores. O troféu é réplica de personagem criado pelo jornalista Lélis Vieira, imortalizado pelo chargista Benedito Carneiro Bastos Barreto (1896/1947) que tinha o pseudônimo Belmonte. E o prêmio foi criado por iniciativa do escritor Marcos Rey.
- Athaliba, ocê vai à posse do Krenak, igual a ele, que pintou o rosto com tinta do jenipapo, na Constituinte de 1988, protestando contra os retrocessos à luta pelos direitos dos índios?
Comentários
Em tempo certo. Isso dinamizara as desejões da academia
Bela crônica. Instigante!