“O dia em que o morro descer e não for carnaval
Ninguém vai ficar pra assistir o desfile final
Na entrada, rajada de fogos pra quem nunca viu
Vai ser de escopeta, metralha, granada e fuzil.
Guerra civil”
- Marineth, os horrores das sucessivas e barbaras tragédias do Rio de Janeiro, submerso em irreversíveis ondas colossais de violência, escorrem pelos telejornais. Pela manhã, à tarde e à noite. A disputa desenfreada de facções de narcotraficantes e milicianos por domínio do território carioca já ocorre no asfalto, nas áreas mais urbanizadas. E a população refém, está entregue ao deus-dará. Isso lembra “O dia em que o morro descer e não for carnaval”, samba do talentoso compositor e poeta Paulo César Pinheiro e do saudoso amigo baterista Wilson das Neves.
- É, Athaliba, o trem é doido. Está descarrilhando há muito tempo. O Rio de Janeiro está de ponta-cabeça. Cantada em hino como “Cidade Maravilhosa”, a urbe tem que ser implodida e reinventada. A marchinha do carnaval de 1935, composta por André Filho, que diz no estribilho “Cidade maravilhosa/Cheia de encantos mil/Cidade maravilhosa/Coração do meu Brasil” já foi pro brejo. Será que aquele samba irá substituí-la, tornando-se o hino oficial da cidade?
- Marineth, o Rio de Janeiro, a cada dia, se afoga no caos. A bagunça é geral. E, creia, não existe nenhuma estratégia à vista do poder público em por ordem na desordem generalizada. No papo com Anabia, por telefone, sobre a descomunal violência, ela se lembrou da sugestão do LP O som sagrado de Wilson das Neves que recomendei fosse dado de presente ao seu pai. E ele se encantava com as músicas que, de certa forma, amenizavam os efeitos da doença. O disco foi lançado em 1996 e traz “O samba é meu dom”, que dá título ao documentário de Cristiano Abud, com depoimento de Chico Buarque, Aluisio Machado, Elza Soares e Paulo César Pinheiro.
- Athaliba, quando ocê fala na incompetência das autoridades em por ordem na desordem no Rio de Janeiro não esqueça que seis governadores foram presos por corrupção e formação de quadrilha. Isso, sucessivamente. Se no pico da pirâmide a podridão campeia solta, a base toca o terror. A lista de ex-governadores presos e que, hoje, respondem a processos em liberdade, tem Moreira Franco, Rosinha Garotinho, Anthony Garotinho, Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão e o ex-juiz Wilson Witzel. Aquele que dizia: “A polícia vai mirar na cabecinha... e fogo!”.
- Marineth, ocê sabia que o ex-prefeito César Maia, hoje, vereador pelo Rio de Janeiro, dá nome à favela em Vargem Pequena, perto da Praia dos Bandeirantes? O alvoroço à infraestrutura original tornou o local inabitável, dominado por milícia, que explora o mercado imobiliário informal. A comunidade dá ibope no noticiário policial, principalmente, após a morte de Ryan Cordeiro de Assis, apelidado de Morte. Ele foi morto em confronto com policiais, que o acusavam de torturar e esquartejar adversários, depois de matá-los, escrevendo a faca a sigla TCP no peito das vítimas. Aquela favela é área de atuação de milicianos, aliados à facção de traficantes de diversas favelas da cidade. É uma mistura doida, alienada, insana, que resulta em receita de banais assassinatos.
- Athaliba, é triste se vê a população carioca e da região da Baixada Fluminense e de São Gonçalo, entre outras localidades do Rio de Janeiro, refém do crime organizado. A intervenção do governo federal, de 16/2 até o final de 2018, comandada pelo general Braga Netto, não deu em nada, né? Aliás, ele chegou a dizer que o caso do cruel assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 14/3 de 2018, estava resolvido. E que era responsabilidade do então governador Wilson Witzel divulgar o nome de quem mandou matar e por que. E daí?
- Marineth, o assassinato da Marielle, agora, é investigado pela Polícia Federal, através do delegado Guilherme de Paula Machado Catramby. Muito se especula sobre quem deu a ordem para matar a parlamentar e por que. Nas ruas, becos e vielas ecoam nomes de supostos autores. Enfim, o crime de repercussão mundial, é a maior vergonha do Brasil. Além daquela intervenção, o Rio teve outras tentativas de dar um basta à criminalidade. Até passou pelos “homens de ouro”, do então secretário de segurança da antiga Guanabara, Luiz de França, general do Exército. Ele suicidou-se em 1988, aos 78 anos, atirando-se do 6º andar do prédio do Hospital do Exército.
- Athaliba, chega! Eternizamos a memória pessoas mortas por irreais “balas perdidas”, entre elas as crianças Ágatha, Emily e Rebeca, além de Vladimir, professor de Educação Física.
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