Rio de Janeiro - “Os Corações Perdidos” (Editora Intrínseca - 336 páginas) o novo livro da escritora Celeste Ng aborda o clima de terror anti-China nos EUA.
É uma história sobre o medo e como ele pode levar ao fanatismo, ao racismo, xenofobia e ao ódio institucionalizado. Qualquer semelhança com o caso da pandemia de Covid-19, que começou na China e se espalhou para o Japão em 23 de janeiro de 2020, não é mera coinciência.
Extremamente bem escrito e bem executado. A história é uma reflexão sobre o poder, por vezes, acidental das palavras, a força de uma história e a persistência da memória.
Após uma forte crise econômica, com os Estados Unidos em frangalhos, um culpado é eleito: a China. A decisão, então, faz com que os asiáticos-americanos passem a ser alvos de perseguição política e crianças são retiradas das casas de pais não-patrióticos.
Tudo referendado pela Lei de Proteção dos Costumes e da Cultura Americana (PACT).
Esse é o mote principal de “Os Corações Perdidos”.
O romance é situado num futuro distópico onde asiáticos-americanos são vistos com desprezo e desconfiança por seus vizinhos americanos e pelo governo.
O livro apresenta um retrato assustador muito próximo da realidade. Depois de anos de instabilidade econômica e violência, o governo dos Estados Unidos criou leis para preservar a “cultura norte-americana”.
Sob a justificativa de manter a paz e restaurar a prosperidade, as autoridades passaram a retirar a guarda dos filhos de qualquer pessoa que se oponha à nova legislação — especialmente as de origem asiática — e a forçar as bibliotecas a recolher livros considerados anti patrióticos.
Bird Gardner, ou Noah - como está na certidão de nascimento - um menino de doze anos, que mora com a mãe e o pai, nunca questionou as decisões do governo e sabe que não deve fazer perguntas nem chamar atenção. O menino leva uma vida tranquila com o pai, um ex-linguista que agora trabalha numa biblioteca universitária.
Sua mãe, Margaret, uma poetisa sino-americana, largou a família sem deixar rastros quando o filho tinha nove anos. Bird não sabe o que aconteceu com a mãe e por que ela foi embora, mas, quando recebe uma misteriosa carta contendo apenas um desenho, ele suspeita que ela esteja envolvida e decide investigar.
Sua busca por respostas o levará até Nova York, onde descobrirá muito mais do que ele imaginava sobre a mãe.
“Os Corações Perdidos” é uma história atemporal sobre as injustiças para as quais a sociedade escolhe fechar os olhos, o poder da arte — e suas limitações — na luta contra o sistema, as lições e o legado que passamos para os nossos filhos e como podemos manter nosso coração intacto em um mundo despedaçado.
É impossível não se emocionar com a história do menino Bird Gardner e sua família.
Uma história comovente.
* Livro gentilmente cedido pela Editora Intrínseca.
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