Coluna

O CAPITÓLIO DE JAIR BOLSONARO

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Rio de Janeiro - Quando o Secretário de Comunicação chegou no Palácio do Alvorada com o discurso do presidente embaixo do braço, Jair Bolsonaro ainda estava trancado no banheiro, chorando.

Presidente, o senhor precisa sair daí. A eleição já acabou. O senhor está trancado no banheiro há dois dias. Os brasileiros estão esperando o seu pronunciamento à Nação. O senhor ainda é o presidente do país. As ruas estão um caos.

O ex-presidiário já foi?

Já. Pode sair. A eleição acabou. Seus amigos do Centrão  estão todos aqui para apoia-lo.

Eu não vou fazer nenhum pronunciamento, taokey. Não vou reconhecer uma eleição manipulada e fraudulenta, taokey. Eu só perdi porque os nordestinos, analfabetos, não conseguiam ler ‘Bolsonaro’ na urna, então, votaram ‘Lula’ que é um nome mais fácil de ler. 

Enquanto o senhor chora a derrota, seus apoiadores estão bloqueando nossas principais rodovias, levando o caos e a desordem ao país. Os bloqueios já estão indo para o terceiro dia, com manifestantes prometendo manter as interdições por tempo indeterminado.

As movimentações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser o da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônios e cerceamento do direito de ir e vir - disse o presidente.

Presidente, já está havendo destruição de patrimônio, cerceamento do direito de ir e vir e prejuízo no abastecimento de alimentos e combustíveis. O senhor precisa ordenar explicitamente a desmobilização de bloqueios de rodovias, feitos por seus apoiadores que contestam, sem provas, o resultado das urnas e pedem um golpe.

Isso daê já é outra cuestão, taokey.

Já estou aqui com o seu discurso. Quer que eu leia para o senhor? É bem curto.

Taokey.

“Quero começar agradecendo primeiramente aos 58 milhões de brasileiros que votaram em mim no último dia 30 de outubro. Quero também parabenizar o candidato Luiz Inácio Lula da Silva pela vitória alcançada, democraticamente, nas últimas eleições. Dizer também que os atuais movimentos populares frutos de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral, ou não, devem ser dispersados imediatamente. As rodovias devem ser desbloqueadas e o direito de ir e vir da população respeitado…”

Pode parar - cortou o presidente. - Nada disso daê. Zero! No tocante ao agradecimento ao gado, digo, aos eleitores que votaram em mim, tudo bem. Posso até agradecer, mas reconhecer a vitória do ex-presidiário, não. Não reconheço nem vou passar a faixa para ele. Se o Mourão, aquele traidor, quiser passar é problema dele. Só Deus tira essa faixa do meu peito…

Ele já tirou - sussurrou o secretário, irônico. - Em grupos nas redes sociais, o seu silêncio foi interpretado como um apoio às mobilizações golpistas.

Sempre  joguei dentro das 4 linhas da Constituição. Nunca falei em controlar a mídia e as redes sociais mas não posso impedir o povo de transitar lépido e fagueiro pelas rodovias do país. 

O povo está decepcionado com o senhor.

Vão sentir saudades da gente aqui - gemeu o presidente.

Já estamos sentindo - disse Ciro Nogueira, líder do Centrão.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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