Rio de Janeiro - Eu e mais 72 cartunistas fomos convidados a participar da exposição “Angeli Por Nós”, uma homenagem ao mestre Angeli. A mostra tem curadoria de José Alberto Lovetro, o JAL, presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil e de Jorge Damião, presidente do Memorial da América Latina.
“A exposição foi pensada para celebrar uma nova fase na vida de Angeli, na qual será livre para continuar produzindo sua arte sem amarras. Também estarão em exposição as vitrines dos bonecos e cenários da produção ‘Dossiê Rê Bordosa’ (Coala Produções) do diretor Cesar Cabral, além de um Bob Cuspe em recorte de madeira para quem quiser garantir sua selfie com um dos personagens mais icônicos de Angeli. Neste espaço Gabo do Memorial da América Latina todos nós, cartunistas, reverenciamos esse mestre do desenho e criador de personagens inesquecíveis”, declara JAL.
“São muitos os expoentes da ilustração brasileira que tiveram em Angeli sua maior inspiração. A grandeza de um artista está também na capacidade que ele tem de sensibilizar a todos com seu trabalho. Os artistas presentes em Angeli por nós confirmam isto. E assim, reafirmamos, mais uma vez, nosso papel como espaço de reflexão, integração e difusão da cultura e do saber latino-americano”, afirma Jorge Damião, presidente da Fundação Memorial da América Latina e um dos curadores da exposição.
“Angeli Por Nós” é composta por ilustrações de Angeli e por desenhos de diversos artistas que o homenageiam. Participam da mostra, Adão Iturrusgarai, Adnael, Agê Santos, Alviño, Amorim, André Camargo, André Ribeiro, Aurélio Gomes de Albuquerque, Baptistão, Benjamin Cafalli, Bira Dantas, Brum, Bruno Honda, Bruno Luup, Cacinho, Camilo Riani, Caó Cruz, Carol Cospe Fogo, Cassio Manga, Cristóvão, Dodô, Douglas Fernandes, Ed Carlos, Eder Santos, Ediel Ribeiro, Edra Amorim, Erasmo Spadotto, Evandro Olante, Evaristo Omido, Faoza, Fernandes, Fernando Gonsales, Flavio Luiz, Fred, Fredson Silva, Guabiras, J.Bosco, JAL, Jean Clauyde S. Ribeiro, Jeremias Castro, Joaquim Monteiro, Jorge Inácio, Josi, Junior Lopes, Kako Sapo, Laerte, Luciano Giovani, Manoel Dama, Marcel Bartholo, Marcelo Martinez, Marcos Miller, Marcos Venceslau, Matheus Souza, Mauro Luis Iasi, Mayrink , Miguel Paiva, Morgani , Nei Lima, Nilson Felix, Paffaro, Queiroz, Renato Aroeira, Ricardo Freitas, Samuca, Sergio Más, Seri, Silvano Mello, Sizenando, Synnöve Dahlström Hilkner, Toni D’Agostinho, Vicente Bernabeu, Walmir Orlandeli e Will.
Quando Angeli parou, escrevi aqui n´O Folha de Minas a crônica abaixo:
ANGELI
É comum que as pessoas se surpreendam ao descobrir que 'Os 3 Mosqueteiros' eram, de fato, quatro: Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnan.
‘Los 3 Amigos’ também eram quatro: Angeli, Laerte, Glauco e Adão Iturrusgarai.
Mas o grupo começou, originalmente, como um trio. ‘Los 3 Amigos’ eram Angeli Laerte e Glauco. Até que um dia em um boteco em São Paulo, Adão Iturrusgarai ouviu: “Ei, Adão, tá a fim de desenhar com a gente?” O convite, feito pelo Laerte, numa tarde de 1990, mudou a composição do grupo, que passou a ser um ‘trio de quatro’.
O trio que se reunia semanalmente para produzir a série 'Los 3 Amigos', ganhou novo integrante naquela ocasião, mas só engrenaria como quarteto três anos depois, com a volta de Iturrusgarai de uma temporada em Paris.
Sempre fui fã do quarteto, mas, para mim, Angeli é o melhor.
Talvez por ser quadrinista, admire mais o Angeli. Os quatro são geniais, mas, nos quadrinhos, Angeli é imbatível. Ele influenciou não só a minha maneira de trabalhar, mas o meu estilo.
Arnaldo Angeli Filho, mais conhecido como Angeli, é cartunista e chargista. Nasceu em São Paulo, no dia 31 de agosto de 1956. Começou a desenhar ainda criança. Aos 14 anos, publicou seu primeiro desenho na revista 'Senhor'.
Ainda na adolescência, conheceu o periódico carioca ‘O Pasquim’ e se apaixonou pelos cartuns de Millôr Fernandes, Jaguar e Ziraldo. Autodidata, ele confessa que começou copiando o trabalho desses desenhistas.
Com o tempo, seu trabalho ganhou influência dos cartuns underground do cartunista norte-americano Robert Crumb e dos franceses Wolinski e Jean Marc Reiser.
Em 1973, começou a carreira como chargista no jornal ‘Folha de S. Paulo’. A partir desse período colabora também com os jornais alternativos ‘Movimento’, ‘Versus’, ‘O Pasquim’ e com o ‘Diário de Notícias’, de Lisboa.
A partir de 1983, sua produção se afasta do tom politizado de suas charges e reencontra as influências do underground das décadas de 1960 e 1970. Angeli, então, abandona a charge para se dedicar às histórias em quadrinhos.
Ainda na ‘Folha’, deixa o caderno de política e passa para a 'Ilustrada', caderno de cultura, em que publica tiras de seus personagens que retratam tipos urbanos, com narrativas de situações tipicamente paulistanas, da boêmia e da vida cotidiana, com destaque para Rê Bordosa, Bob Cuspe e os velhos hippies Wood & Stok, ao lado de quadrinistas estrangeiros.
Ainda na década de 80, publica, pela editora Circo, a revista 'Chiclete com Banana'. Surgem aí novos personagens como Walter Ego, Rigapov, Rhalah Rikota, Mara Tara, Moçamba, Bibelô, Meiaoito e Nanico, Ritchi Pareide, Aderbal e Os Skrotinhos, entre outros.
Com Laerte e Glauco cria a série 'Los 3 Amigos'. Em 1995, publica ‘FHC: Biografia Não Autorizada’, pela Editora Ensaio, coletânea de charges produzidas durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Para a TV, Angeli produz esquetes e roteiros, atuando junto às equipes dos programas 'TV Colosso' e 'Sai de Baixo', ambos da Rede Globo.
Com base em seu trabalho, o diretor Otto Guerra lança, em 2006, o longa-metragem de animação 'Wood & Stock - Sexo, Orégano e Rock'n Roll'.
Em 2008, é um dos homenageados no 1º Festival Internacional de Humor do Rio de Janeiro, que apresenta 'Angeli/Genial', uma mostra retrospectiva da produção do cartunista.
Também nesse ano, é lançado o curta-metragem de animação 'Dossiê Rê Bordosa', dirigido por César Cabral e baseado na personagem criada por Angeli. Seus desenhos estão incluídos na 'Enciclopédia del Humor Latino Americano', da Colômbia, na 'Antologia de Humor Brasileiro' e no Museu do Cartum e Caricatura de Basiléia, Suíça.
Nesta semana, um diagnóstico de afasia, levou o cartunista a anunciar a aposentadoria precoce, aos 65 anos com 50 anos de carreira.
Esse distúrbio neurológico pode ser causado por vários motivos: um AVC, tumores ou infecção e afeta uma parte do cérebro. A afasia compromete a comunicação do paciente, traz dificuldades para falar, se expressar, e compreender o que é dito.
Carolina Guaycuru, mulher de Angeli, disse em entrevista que o cartunista, apesar da aposentadoria, tem um vasto material inédito ainda a ser publicado. "Ele produziu muito nos últimos tempos. Parte desse trabalho deve sair em breve para comemorar os cinquenta anos de carreira. Um livro em dois volumes com mais de mil imagens" - disse ela.
Embora longe das páginas dos jornais, Angeli não vai parar de desenhar. Segundo Guaycuru, ele seguirá desenhando enquanto conseguir . "Desenhar é a forma de expressão dele. Isso não se perde. E se ele perder, buscará outras formas de expressão. A arte resiste!”, diz ela.
A carreira de Angeli na imprensa se encerra, mas a do artista continua, para alegria dos fãs.
Força, Angeli!!
Serviço: “Angeli Por Nós”
Espaço Gabo
Avenida Mário de Andrade, 664 - Barra Funda, acesso pelos portões 8 e 9
Inauguração: 22 de setembro, às 19h
Visitação: De 23 de setembro a 6 de novembro
De terça a domingo, das 10h às 17h
Entrada gratuita
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