‘O Pasquim’ foi um jornal que revolucionou a imprensa brasileira e fez a cabeça da minha e de muitas outras gerações.
Agora, mais de meio século após ter chegado às bancas, em junho de 1969, o velho ‘Pasca’ ganha uma biografia: Rato de Redação - Sig e a História do Pasquim (Editora Matrix - 192 páginas), escrita pelo jornalista Márcio Pinheiro.
‘O Rato de Redação’ tem como ponto central a narrativa de uma das grandes histórias do jornalismo brasileiro: a saga da criação, o sucesso e o fim do jornal 'O Pasquim'.
Leitor e colecionador de ‘O Pasquim’, Pinheiro, de 55 anos, baseou o livro em exemplares de sua coleção e em conversas com Sérgio Augusto, Martha Alencar e Reinaldo Figueiredo, três ex-integrantes da patota.
O livro, pensado para comemorar os 50 anos de ‘O Pasquim’, por causa da pandemia, teve o projeto adiado e só foi lançado agora, em 2022.
De início, o livro mostra que o jornal, criado por jornalistas porras-loucas, agressivos e debochados, apesar de não contar com a retaguarda de uma grande empresa jornalística, já começou marrento e auto-suficiente: “O Pasquim surge com duas vantagens: é um semanário com autocrítica, planejado e executado só por jornalistas que se consideram geniais e que, como os donos de jornais não reconheciam tal fato em termos financeiros, resolveram ser empresários”, diz Tarso de Castro, no editorial da edição de estreia, de 26 de junho de 1969.
No auge, o debochado tabloide chegou a vender mais de 200 mil cópias por semana, superando publicações consagradas como as revistas ‘Veja’ e ‘Manchete’.
“Achei que meu livro seria mais um dentre vários que surgiriam com a efeméride”, conta o autor, que ficou surpreso ao ver que foi o único que teve a ideia, ou que a levou adiante.
Com narrativa fluída e repleta de detalhes e opiniões, a obra percorre o caminho de 22 anos de atividade do periódico. Relatos de ação e baixaria, escritos com texto ágil e uma cronologia bem construída marcam a obra do início ao fim e recuperam a trajetória de um jornal que revolucionou a imprensa brasileira.
O livro conta tudo sobre a escolha do nome do jornal, a prisão de parte da equipe em 1970, a repressão, os dribles na censura, o fim do regime militar, a redemocratização, as grandes sacadas, as entrevistas famosas, os altos e baixos do tablóide, as brigas e o fim do periódico em 1991.
A obra, no entanto, comete um pequeno lapso, esquece de mencionar o fotógrafo José Duayer - autor de fotografias bem abertas, responsáveis pelo visual moderno e a inovação da apresentação gráfica - que trabalhou lá por 15 anos e foi citado pelo próprio Jaguar como “fotógrafo dos bons, que clicava as entrevistas, as fotopotocas e as pasquim-novelas, no período de maior sucesso do hebdomadário”.
Mas, ao mesmo tempo, corrige um erro histórico, colocando a poeta Olga Savary entre as figuras que fundaram o jornal, fato, até então, menosprezado por muitos que escreveram sobre o tablóide.
Quando publiquei a crônica “A Mãe do Pasquim”, em abril de 2018, em minha coluna no jornal ‘O Dia’, até então, só no livro 'O Som do Pasquim', uma coletânea de entrevistas com artistas da MPB, publicadas no tablóide, o nome de Olga Savary é citado - na página 86, ela faz "uma" pergunta a Waldick Soriano.
O saldo, entretanto, é positivo. O título, apontado como a ‘biografia’ do hebdomadário, recebeu diversas críticas positivas na imprensa, sendo considerado um dos relatos mais reais e bem escritos sobre a história de ‘O Pasquim’.
O livro conclui que, com o fim da ditadura, as constantes brigas entre os fundadores e uma debandada dos jornalistas para outras redações, que exigiam exclusividade, o semanário foi morrendo.
Sig, o rato debochado, satírico e mordaz, filho do Jaguar e do Ivan Lessa, que simbolizou e sintetizou a alma do jornal, ficou até o fim. Acabou sendo, como disse Jaguar, o primeiro caso de um navio que abandonou o rato.
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