Uma rotina é uma forma de aprisionamento. Acordamos, tomamos café, saímos de casa para trabalhar, paramos para almoçar, depois lanchar, terminar a tarefa do dia, depois estudar, jantar, ligar a TV e depois dormir: pura rotina, puro vai e vem de uma vida em apuros.
Por que não inventamos cada dia uma nova rotina? Por que não procuramos uma coisa nova para todos os dias? Por que não despertamos pensando diferente todos os dias? Somos rotineiros por quê?
Antes de tudo, somos obedientes, somos medrosos, a organização nos traz a segurança contra o imprevisto. Somos aventureiros cautelosos.
Se acordamos tarde, perdemos a hora, a impressão é que o dia se adianta para nós. Que o relógio ri, gargalhando sempre a nossa frente, como se perdêssemos o trem da vida. Nos sentimos diferentes dos outros; interpretamos os sorrisos dos colegas como um deboche, como reprovados na prova do dia a dia.
No mundo moderno, a tentativa do novo a cada dia é a quebra de um protocolo de vida, de comportamento. Corremos o risco de ser o degredado social, o revoltado sem causa. O despertado em meio a um mundo sonolento.
Que bom seria se viéssemos à vida a passeio. Se cada dia fosse um novo dia para comemorar a vitória de estar vivo. Maldizemos aqueles que fazem da vida um comportamento sem regras. São covardes diante do mundo social, do mundo do trabalho, porque não querem nada com o batente, com a responsabilidade.
Será que no fundo não sentimos inveja? De eles serem os corajosos e nós os medrosos, agarrados às nossas convenções e aos nossos medos? Criticamos aqueles que não têm as nossas atitudes. E então, por que olhamos para as revistas de viagens, os relatos de aventureiros e nos fascinamos com eles? Talvez porque para cada um desses vitoriosos, centenas se entregam a derrotas esmagadoras. E tememos ser um dos derrotados, mas jamais tentamos, pelo menos tentamos, ser um vitorioso.
Mas a vitória nem sempre é estar na capa da revista, ou no famoso programa de entrevistas da televisão. Ser novo a cada dia é tentar, mesmo que seja dentro de um processo rotineiro. Perdermos esse medo urbano.
Se acordamos, acordemos imaginando o dia que está por vir e o tornaremos vibrante ao seu final. Que o café seja diferente, que não seja em casa, seja no bar da esquina, escutando as conversas e não lendo a pasteurização da mídia. Que a ida ao trabalho seja por um outro caminho, mais longo, o que nos obrigaria a sair mais cedo. Que o almoço seja em algum lugar diferente, ou com um colega diferente. Que a volta para casa não seja naquele horário, que seja mais tarde, saltando um ponto antes ou um depois.
É claro que isso não é possível, acessível a todos. Mas que pelo menos, em um ponto seja diferente e novo a cada dia.
Que as vitórias que lemos no jornal tragam para a nossa vida um pouco de experiência, uma nova forma de exercícios, o aprendizado em olhar para as coisas à nossa volta de forma diferente.
Que as notícias, que nos abalam e afetam nosso humor e nossa rotina, aconteçam, mas, que estejamos despertos para a reação. Que na medida do possível sejam encaradas com naturalidade e que nos provoquem sorrisos. E um sorriso sempre é capaz de quebrar qualquer rotina. E a quebra da rotina nos faça temer menos e nos deixe sempre prontos para despertar. Se outros se agarram às redes sociais, nos agarremos aos livros, aos passeios, às observações do cotidiano.
Comentários