- Marineth, mensagem do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, publicada no Twitter, indica que o Rio de Janeiro poderá virar indústria do crime, dominado por milicianos ou narcotraficantes. Diante da comoção nacional, com repercussão no exterior, do brutal assassinato do congolês Moïse, ele postou o seguinte: “A ocupação irregular de áreas estratégicas por grupos de milícias está por trás da crise de segurança pública; o MPRJ e o MPF precisam avançar nessa área; o caso Moïse traça suas raízes no poder do Estado paralelo e na invisibilidade do controle armado”. A violência desde sempre imperou no Rio, sob a película de “Cidade Maravilhosa”.
- Athaliba, a preocupação do Gilmar Mendes precisa ser levada em consideração. O Rio de Janeiro corre o risco sim de ser dominado plenamente por criminosos. Já tem bolão clandestino de aposta circulando a boca pequena sobre que gangue alcançará a supremacia do poder. Será o grupo de milicianos ou de narcotraficantes? Ocê tem preferência por um dos grupos?
- Marineth, o trem é doido. O assunto é sério. Tem, infelizmente, quem prefere encontrar pela frente um bandido a um policial militar. A população vive assustada, em estado de choque, nesse caldeirão de insegurança que transborda violência por todos os cantos da cidade. Num bairro do subúrbio, recentemente, atravessei “corredor polonês” com 50 metros de extensão e, em ambos os lados, tinha homens armados, ostensivamente. Estava com a mãe do nosso filho, professor de Educação Física, vítima de “bala perdida” há 15 anos. Dirigia o carro a velocidade de 10Km/hora, com luz do pisca alerta e do interior (salão) acesa. Não tive a menor dúvida que, naquela localidade, eles tinham o poder absoluto em todas as atividades no bairro.
- Phorra, Athaliba, ocê não sentiu “friozinho na barriga”, como jornalistas perguntam?
- Marineth, essa situação é real em muitas das localidades do Rio, inclusive nas cidades limítrofes que integram a Região Metropolitana. É como diz Gilmar Mendes: “Ocupação irregular de áreas estratégicas por grupos de milícias”. Ele, aliás, usa com frequência a palavra milícia para se referir a grupo de bandidos. Na presidência do STF, 2008, criticou a existência de grupos de juízes, procuradores e policiais federais que atuariam como espécie de “milícia”, distorcendo o correto processo investigativo e legal no país. A declaração foi dada ao deputado federal Marcelo Itagiba, que presidia CPI dos Grampos, e deputados integrantes da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado. O ministro revelou ter seu telefone celular grampeado.
- Athaliba, o Gilmar Mendes talvez seja o ministro mais polêmico do STF, né?
- Provavelmente, Marineth. Por ocasião dos atritos entre militares e o governo federal, ele, em reunião com o então comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, afirmou o seguinte: “Tenho dito que as forças armadas não são milícias do presidente da República, nem de força política que o apoie”. Referia-se ao hipotético mito pés de barro que ocupa o trono da presidência do Brasil. No ano passado, o ministro rejeitou pedido de habeas corpus para o ex-vereador do RJ, Cristiano Girão Matias. Ele é acusado de duplo homicídio qualificado por mandar matar um ex-PM e a namorada dele, que ameaçava sua liderança na milícia do bairro Gardênia Azul. A denúncia do Ministério Público envolve o sargento reformado da PM Ronnie Lessa, um dos autores dos tiros. Ronnie está preso pelo assassinado da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes. Ela e ele foram trucidados barbaramente a tiros em 14 de março de 2018.
- Athaliba, na sequência da brutal morte do congolês Moïse, na Barra da Tijuca; o sargento da Marinha, Aurélio Alves Bezerra, matou a tiros o vizinho Durval Teófilo Filho, que chegava em casa. Alegou ter confundido-o com bandido. E a diarista Jurema Álvares, 66 anos, foi baleada no peito e morreu na Unidade de Pronto Atendimento. Ela levava vassoura para o 1º trabalho do ano, quando, no carro do filho Marcelo Álvares, foi atingida por disparo a poucos metros de uma companhia destacada da Polícia Militar, na Cidade de Deus. É tragédia, tragédia, atrás da outra.
- Marineth, a partir da morte da Marielle e do Anderson foi turbinada as investigações para desarticular o “Escritório do Crime”. Há mais de dez anos, os matadores colecionam execuções no Rio, segundo a polícia. A cidade já teve “homens de ouro” para combater o esquadrão da morte, no período da ditadura civil-militar, entre 1964 a 1985. Recentemente, o general Braga Netto foi interventor federal da segurança pública no Rio. E continua “tudo como dantes no quartel de Abrantes”. Isso dá a exata dimensão da indústria do crime que coloca a população refém, e como sobreviver na pátria amada tornou-se uma grande aventura. Será que o Rio é recuperável?
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