- Marineth, à noite, entre flamboyants, em Itaipu, na Região Oceânica de Niterói, olho para a imensidão dos céus e busco avistar a sonda espacial Chang’e 4 da China que orbita o lado oculto da Lua. Mesmo sabendo que até então não é visível da Terra. A façanha inédita e histórica chinesa, que pela primeira vez realizou pouso naquela parte do satélite, aguça minha curiosidade. Essa ocasião serve para refletir sobre os vôos que a China realiza com asas de águia, enquanto que, infelizmente, na história da nossa amada pátria, observamos vôos com asa de pardal na sua trajetória. E fico a planear o que a China ainda é capaz de realizar, ao analisar a mensagem de “expansão irreversível”, manifestada no discurso do presidente Xi Jinping, na solenidade, há dias, da celebração do centenário de fundação do Partido Comunista Chinês – PCC.
- Athaliba, realmente não dá para fazer qualquer analogia política, cultural, econômica e social da China com o Brasil. As diferenças, resguardadas as identidades peculiares entre os dois países, são brutais. No cenário atual da conjuntura geopolítica mundial, então, no enfrentamento da pandemia do COVID-19, a nossa pátria é achincalhada devido às atrocidades, truculências do governo do mito pés de barro sentado no trono da presidência da República. Mas, creia, tenho fé, que o Brasil ainda mostrará ao mundo uma sociedade sem essa gritante disparidade econômica e social. Com o povo usufruindo da pujança da riqueza esplendorosa que inveja tantas nações.
- Oh, Marineth! Que esse tempo não tarde tanto. Já estou consumindo o limite da reserva de esperança que me resta do tempo de vida. Quando, por exemplo, nosso Brasil, como a China, deixará de ser uma nação paupérrima, com milhões de brasileiros vivendo à míngua e se tornar uma potência respeitada, admirada? Quando vamos eliminar a violência e injustiça que escraviza, em larga maioria, a população? Quando, efetivamente, vamos acabar com a exploração inumana das crianças, garantindo para elas proteção e educação de qualidade para torná-las cidadãos de fato? As nossas próximas gerações já estão fadadas ao infortúnio que atravanca o progresso.
- Athaliba, esse tempo virá. Espero que ocê ainda em vida possa presenciar o processo de profunda transformação da vida brasileira. Sinto na pele e na alma essa mesma angustia que nos sufoca. São insuportáveis as mazelas de autoridades e as futilidades de forjadas “celebridades” alimentadas pelos oligopólios de comunicação explorados por poucas famílias no país.
- Marineth, o trem é doido. A gente ensaia à exaustão, mas continuamos sendo cozinhados por esse caldeirão anticultural do sistema putrificado. Recordo-me, quando ainda menino, do meu pai contando sobre a transformação da China, com Deng Xiaoping que, junto com personalidades como Mao Tsé-tung, Chen Yun e Zhou Enlai, cujas ideias/ações políticas mudaram radicalmente a face da sociedade chinesa. Oh, sorte, como dizia o saudoso baterista Wilson das Neves.
- Athaliba, ocê acompanhou a celebração dos 100 anos do PCC?
- Marineth, consegui notícias do evento lendo jornais do estrangeiro. Por aqui, sabes como é, né? As notícias sobre a China e Cuba, principalmente, são produzidas de maneira depreciativa aos respectivos países. A mensagem de Xi Jinping de “expansão irreversível” da China, exaltada no seu discurso na cerimônia oficial dos 100 anos de fundação do PCC, na Praça Tiananmen - o centro físico e espiritual do sistema do governo -, foi aplaudida por uma multidão num verdadeiro mar de bandeiras vermelhas. Xi Jinping destacou o papel indispensável e fundamental do partido nos gigantescos avanços obtidos pela China, com ênfase em que o PCC deve servir ao povo, ao invés de se deixar guiar por outros interesses.
- Athaliba, a cerimônia deve ter sido muito emocionante, né?
- Sim, Marineth. Afinal, a maioria esmagadora da população da China tem motivo de sobra para ostentar orgulho. O contraponto às críticas que se possa fazer ao regime chinês é constatar as imensas e profundas realizações que o país obteve nos últimos 50 anos na saúde, educação, ciência, tecnologia e, principalmente, na área social. O local do discurso de Xi Jinping, ao público e à nação, foi no portal Tiananmen, onde Mao Tsé-tung proclamou a República Popular da China, em 1º de outubro de 1949. Naquela ocasião, o Grande Timoneiro, afirmara que “o povo chinês se levantou”.
- Athaliba, as realizações da China são, de fato, incontestáveis.
- Marineth, é isso aí. Xi Jinping, diante do pedestal da foice e o martelo, bradou: “O tempo em que o povo chinês podia ser pisoteado, em que sofria e era oprimido, terminou para sempre”.
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