Polícia

Chacina no Jacarezinho

O Rio transbordou em sangue na chacina de 25 pessoas, entre as 29 baleadas, no dia 6/5, na Favela do Jacarezinho, na ação policial denominada Exceptis, com seis prisões, além de seis fuzis, 16 pistolas, uma submetralhadora, uma escopeta, 12 granadas e drogas apreendidas. Duas pessoas foram baleadas dentro de um vagão de trem do metrô, numa estação perto do local. Por cerca de nove horas, os moradores ficaram em pânico sob ameaça de intensos tiroteios, no fogo cruzado entre policiais e traficantes da facção criminosa Comando Vermelho. Caveirões (carros blindados) cercaram os principais becos de acesso à favela, enquanto helicópteros fizeram vôos rasantes sobre as casas com policiais fortemente armados.

A ação Exceptis, considerada a mais letal entre outras ocorridas no Rio de Janeiro, e que ganhou imediato destaque da imprensa em diversos países, investigava o aliciamento de crianças e adolescentes para o crime. De três policiais feridos, André Leonardo de Mello Frias não resistiu e morreu, com tiro na cabeça. E dos presos, três tinham mandado de prisão expedido. Para o delegado Rodrigo Oliveira, “a única execução que houve foi a do policial, infelizmente; as outras mortes que aconteceram foram de traficantes que atentaram contra a vida de policiais e foram neutralizados. As investigações continuam, outras ações virão, e a gente busca não permitir que essas crianças sejam aliciadas pelo tráfico”.

ação policial em Jacarezinho
Policiais carregam corpo em saco no interior da Favela do Jacarezinho. Foto:  Ricardo Moraes. 

O Supremo Tribunal Federal - STF -, em junho do ano passado, proibiu ações policiais desse tipo durante a crise sanitária, considerando apenas “hipóteses excepcionais” e desde que justificadas ao Ministério Público do Rio de Janeiro. O MP-RJ, no entanto, foi notificado algumas horas a ação já em curso. Segundo dados do GENI - Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense - UFF -, depois da decisão do STF, as ações diminuíram em cerca de 80%, mortes em tiroteios caíram em 70% e feridos em 50%. Porém, desde novembro, os números voltaram a crescer. É o que aponta o Instituto Fogo Cruzado, que monitora tiroteios no Rio de Janeiro.

Na estatística do GENI consta 23 mortos em Duque de Caxias, em jan/1998; 15 mortos em Senador Camará, em jan/2003; 14 mortos no Morro do Alemão em jul/1994; 13 mortos no Morro do Alemão, em mai/1995; 13 mortos no Morro do Vidigal, em jul/2006. E ainda, 19 mortos no Morro do Alemão, em jun/2007; 13 mortos no Catumbi, em abril/2007; 12 mortos em Vila Isabel, em out/2009; 12 mortos no Barreto, em Niterói, em set/2010; e 12 mortos no Morro do Alemão, em mai/2020. 

A Favela do Jacarezinho e o Palácio da Polícia tem vizinhança estreita, com localização em lados opostos na Avenida Dom Helder Câmara, ex-Avenida Suburbana, entre estações do metrô de Maria da Graça e Triagem, na Zona Norte.

Caberá ao Ministério Público esclarecer a chacina que, segundo moradores, teve execução à queima-roupa, além de abusos de policiais, como confisco de aparelhos de telefones celulares com argumento de envio de mensagens para traficantes, em casas invadidas. A ação teve origem da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, com apoio de unidades do Departamento Geral de Polícia Especializada, da Coordenadoria de Recursos Especiais - CORE.

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