Rio - A coluna “O Avesso da Vida”, do jornalista Léo Montenegro, no jornal "O Dia", foi, durante 37 anos, a mais lida do jornal.
De 1º de maio de 1965 até julho de 2003, leitores buscavam diariamente no jornal os personagens de nome exóticos.
O carioca corria para as bancas, todos os dias - menos às segundas-feiras, que era classificadas pelo jornalista como o ‘Dia Nacional da Ressaca’ - para ler as histórias de Astrologildo, Pandemônico, Arnobaldo, Bregonildes e Luarlindo, entre outros.
A história de um dos mais conhecidos cronistas cariocas começou quase que por acaso. Em 1965, Léo atuava no jornal ‘O Dia”, como repórter policial, chefiado por Thassilo Mitke. Thassilo queria criar no jornal um jornalismo popular e impôs essa linha como orientação para sua equipe de repórteres, redatores, colunistas, cronistas e editores.
Mitke, então, criou o “Avesso da Vida”, cuja fórmula foi inspirada na coluna “A vida como ela é”, de Nelson Rodrigues, publicada no jornal carioca, “Última Hora” , de 1950 a 1961.
O secretário de redação do jornal, era Carlos Vinhais. Vinhais, era um homem de voz firme que dava suas ordens aos berros sem levantar de sua cadeira na chefia de reportagem do matutino carioca. Um dia, Vinhais berrou para o Léo Montenegro escrever “O Avesso da Vida'', porque Bouças, jornalista que escrevia a coluna, não estava indo para a redação há alguns dias e não teria enviado seu texto.
Léo escreveu quatro laudas (algo em torno de 120 linhas datilografadas) e entregou. Vinhais leu, cortou os excessos para caber no espaço e publicou.
“Carlos Vinhais me escalou para fazer qualquer bobagem. E foi o que fiz. Algo engraçado e completamente diferente. O pior é que gostaram, e a coluna passou a ser assinada por mim.” - disse, Léo.
De repórter à cronista, foi um pulo. O sucesso da primeira crônica de Léo foi tanto, que Vinhais o efetivou no espaço. Com uma linguagem simples, as histórias se passavam nos morros, na praia, em botecos, trens e, claro, no Maracanã.
Apesar de ter escrito mais de 15 mil crônicas, Léo só teve um livro publicado. Foi “Aconteceu no Rio - Avesso da Vida”, lançado em 1976 pela editora Unipress, com capa do cartunista Sampa e 32 crônicas em papel jornal. Vendeu 100 mil exemplares em 15 dias!
As crônicas publicadas pelo jornalista Léo Montenegro durante 37 anos ininterruptos na coluna ‘Avesso da Vida’, em “O Dia”, em breve serão reeditadas em livro. Marcelo Ramos, sobrinho de Léo, com a ajuda de Lydia Montenegro, viúva do saudoso jornalista, digitalizou grande parte do acervo para transformá-lo em livro. A obra terá o prefácio escrito por Ziraldo, capa do cartunista Jaguar e contará com textos inéditos de Montenegro. Já diagramado, o livro só depende de uma editora para ser publicado.
O cartunista Ziraldo, colega de redação de Léo, acredita que a nova publicação poderá fazer com que o jornalista seja finalmente reconhecido. “O livro pode surpreender e fazer com que o público descubra o talento dele”, diz o cartunista.
Para Ziraldo, Léo era o Nelson Rodrigues do jornal “O Dia”, só que sem o reconhecimento que o ‘Anjo Pornográfico’ teve e tem até hoje.
“Infelizmente, Léo não chegou a ser um cronista influente. Ele era muito modesto, de uma humildade tão grande que esse traço da sua personalidade impediu que ele fizesse mais sucesso fora do circuito dos leitores de “O Dia”.
Após a morte do cronista, Ziraldo chegou a publicar alguns de seus textos no “Jornal do Brasil”. “Publiquei poucas, já que o JB (edição impressa) fechou logo depois. Uma pena, porque tenho certeza de que ele seria reconhecido pela qualidade do que escrevia” - recorda o cartunista.
O cartunista Jaguar, que naquela época trabalhava na redação do jornal “A Notícia”, comemora a coletânea: “Saber que um livro do Léo vai ser publicado em breve me enche de alegria e de esperança”. Para ele, Léo era daqueles cronistas que tinham a ‘cara do Rio’. “Extrovertido, brincalhão. Só não era muito de beber. Se bebesse como eu bebia, a gente teria se encontrado muito mais nessa vida”, brinca Jaguar.
Léo Montenegro morreu dia 5 de julho de 2003, de infarto após assistir na TV a notícia da morte do presidente de O Dia, o jornalista Ari de Carvalho, seu amigo.
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