Coluna

SOBRE A ESCRITA DE STEPHEN KING

livro de stephen king
Reprodução

Rio de Janeiro - Volto a escrever aqui no “O Folha de Minas” sobre Stephen King.

Aliás, mais precisamente sobre seu livro “Sobre a Escrita” (Companhia das Letras - 255 págs), considerado um dos melhores livros sobre a escrita. De todos os tempos.

Volto a escrever sobre os conselhos - realistas e práticos - que Stephen  dá aos escritores - iniciantes ou não. 

Insisto, porque Stephen King  - com mais de 50 romances escritos, 6 livros de não-ficção, mais de 200 contos, mais de 60 filmes adaptados a partir de suas histórias e já tendo vendido ao todo mais de 350 milhões de livros - certamente entende uma coisa ou outra sobre escrever.

“Sobre a Escrita” é uma obra extraordinária de um dos autores mais bem sucedidos do mundo. Uma verdadeira aula sobre a arte de escrever.

Dele, retirei mais 20 regras, seguidas por Stephen, em seu estilo de escrever. Aqui estão elas, nas palavras do próprio autor:

1. Primeiro escreva pra você, depois se preocupe com o público.

“Quando você escreve uma história, você está contando essa história pra você. Quando você a reescreve, sua principal tarefa é jogar fora tudo que não for a história”.

2. Não use a voz passiva.

“Escritores tímidos gostam da voz passiva pelo mesmo motivo que amantes tímidos gostam de parceiros passivos. A voz passiva é segura. O tímido escreve ‘a reunião acontecerá às sete horas’, porque de alguma forma isso lhe diz, ‘Coloque dessa forma e as pessoas acreditarão que você realmente sabe’. Coloque os ombros pra trás, levante o queixo, e faça essa reunião acontecer! Escreva ‘a reunião é às sete’. Pronto! Não se sente melhor?”

3. Evite advérbios.

“O advérbio não é seu amigo. Considere a frase ‘Ele fechou a porta firmemente’. Não é de forma alguma uma frase horrível,  questione a você mesmo se ‘firmemente’ realmente precisa estar lá. E o contexto? E toda a inspiradora (pra não dizer emocionalmente tocante) prosa que veio antes da frase? Não seria isso que deveria nos dizer de que forma ele fechou a porta? E se a prosa precedente realmente diz, não seria ‘firmemente’ uma palavra sobrando? Não seria redundante?”

4. Evite advérbios, especialmente depois de ‘Ele disse’ e ‘Ela disse’.

"Enquanto escrever advérbios é humano, escrever ‘ele disse’ e ‘ela disse’ é divino”.

5. Mas não fique obcecado pela perfeição gramatical.

“A linguagem não precisa sempre usar gravata e sapatos amarrados. O objeto da ficção não é a correção gramatical, mas sim fazer o leitor se sentir bem vindo e contar uma história. Fazer ele ou ela esquecer, sempre que possível, que ele ou ela estão lendo uma história”.

6. A mágica está em você.

“Estou convencido de que o medo é a raiz da maior parte das escritas ruins. Dumbo conseguiu voar com a ajuda de uma pena mágica; você pode sentir o desejo de usar um verbo passivo ou um desses péssimos advérbios pelo mesmo motivo. Antes de fazê-lo apenas se lembre que o Dumbo não precisava da pena; a mágica estava nele.”

7. Leia, leia, leia.

“Você precisa ler amplamente, refinando e redefinindo constantemente seu próprio trabalho enquanto o faz. Se você não tem tempo para ler, você não tem tempo (ou as ferramentas) para escrever.”

8. Não se preocupe em fazer outras pessoas felizes.

“Ler durante refeições é considerado grosseria em sociedades educadas, mas se você pretende ser bem sucedido como escritor, a grosseria deve ser sua penúltima preocupação. A última deve ser uma sociedade educada e o que ela espera. Se você pretende escrever tão verdadeiramente quanto pode, seus dias como membro de uma sociedade estão contados, de todo jeito.”

9. Desligue a TV.

“A maioria dos recintos são equipados com TV, mas a TV – enquanto se está escrevendo ou em qualquer outro lugar – é realmente a última coisa que um escritor precisa. Se você sente que precisa de um analista político falando com você enquanto escreve, ou um economista ou um comentarista esportivo, então é hora de se questionar sobre o quão sério é seu desejo de escrever. Você tem de estar preparado para se atirar seriamente na interioridade, na direção do mundo da imaginação. E isso quer dizer que os apresentadores de TV precisam ir embora. Ler nos toma tempo, e a TV rouba muito desse tempo.”

10. Você só tem três meses.

“A primeira versão de um livro – mesmo um livro longo – não deve demorar mais de três meses para ser escrita, que é a duração de uma estação do ano.”

11. Existem dois segredos para o sucesso.

“Quando me perguntam pelo ‘segredo do meu sucesso’ (uma ideia absurda, mas impossível de ser abandonada), eu às vezes digo que são dois: permanecer fisicamente saudável, e permanecer casado. É uma boa resposta porque faz a pergunta original desaparecer, e porque há certo elemento de verdade nela. A combinação de um corpo saudável e uma relação estável com uma mulher autoconfiante que não tolera besteiras nem minhas nem de ninguém fez a continuidade do meu trabalho possível. E eu acredito que a recíproca é verdadeira: que minha escrita e o prazer que sinto contribuíram para a estabilidade da minha saúde e da minha vida em casa.”

12. Escreva uma palavra de cada vez.

“Um apresentador uma vez me perguntou como eu escrevo. Minha resposta – ‘uma palavra de cada vez’ – o deixou sem resposta. Acho que ele não soube dizer se era ou não uma piada. Não era. No fim, é simples assim. Seja uma página simples ou uma trilogia de época como ‘O Senhor dos Anéis’, o trabalho é sempre realizado uma palavra de cada vez”.

13. Elimine as distrações.

“Não deve haver telefone no seu local de escrita, certamente não deve haver TV ou videogame pra você se distrair. Se tiver uma janela, feche as cortinas”.

14. Atenha-se ao seu estilo.

“Ninguém pode imitar a maneira peculiar de um autor de se aproximar de determinado gênero, ainda que possa parecer a coisa mais simples. Pessoas que decidem fazer fortuna escrevendo como outro autor não produzem nada além de imitações pálidas, em sua maioria, porque vocabulário não é a mesma coisa que o sentimento e a verdade compreendida pelo coração e pela mente.

15. Procure.

“Em uma entrevista eu disse que histórias são como coisas encontradas, como fósseis enterrados no chão, e o entrevistador disse que não acreditava em mim. Eu disse que tudo bem, contanto que ele acreditasse que eu assim acreditava. E acredito. Histórias não são como camisetas ou videogames, são como relíquias, parte de um mundo pré-existente não descoberto. O trabalho do escritor ou da escritora é usar as ferramentas que possuem em sua caixa de ferramentas para retirá-las tão intactas quanto possível. Às vezes o fóssil que você encontra é pequeno; uma concha. Às vezes é enorme, um Tiranossauro Rex com suas costelas gigantes e dentes enormes. De qualquer forma, contos ou romances de mil páginas, a técnica de escavação é a mesma.”

16. Dê um tempo.

“Se você nunca fez isso antes, ler seu próprio livro depois de seis semanas de descanso será uma experiência estranha. É seu, você vai reconhecer como sendo seu, até se lembrará qual a música que estava tocando quando escreveu certo trecho, e ainda assim será como ler o trabalho de outra pessoa, um irmão de alma, talvez. É assim que deve ser, a razão pela qual você deu um tempo. É sempre mais fácil frustrar os desejos de outra pessoa do que os seus próprios.”

17. Deixe de fora as partes chatas e ‘mate suas queridinhas’.

“Sempre que penso em ritmo, eu volto a Elmore Leonard, que explicou isso perfeitamente, dizendo que ele simplesmente deixava de fora as partes chatas. Isso sugere cortar para dar velocidade ao ritmo, e é o que a maioria acaba fazendo.”

18. A pesquisa não pode eclipsar a história.

“Se você precisa realizar uma pesquisa porque partes da sua história lidam com coisas que você sabe pouco ou nada sabe, lembre-se do termo ‘pano de fundo’. É nele que a pesquisa deve estar: tão ao fundo ou como pano de fundo da história quanto possível. Você pode estar arrebatado pelo que aprendeu a respeito da bactéria carnívora, o sistema de esgotos de Nova Iorque ou a inteligência dos cachorrinhos Collie, mas seus leitores provavelmente se importarão mais com seus personagens e sua história.”

19. Você se torna um escritor simplesmente lendo e escrevendo.

“Você não precisa de cursos de escrita ou seminários mais do que precisa desse ou daquele livro sobre escrita. Faulkner aprendeu seu estilo enquanto trabalhava nos correios da cidade de Oxford, no Mississippi. Outros autores aprenderam o básico enquanto estavam na marinha, trabalhando em fábricas ou na cadeia. Eu aprendi o mais valioso (e comercial) aspecto do meu trabalho de vida enquanto lavava lençóis de motel e toalhas de mesa de restaurantes em uma lavanderia em Bangor. O melhor aprendizado é ler muito e escrever muito, e as lições mais importantes são as que você ensina a si mesmo.”

20. Escrever tem a ver com ficar feliz.

“Escrever não tem a ver com ganhar dinheiro, ficar famoso, conquistar pessoas, transar ou fazer amigos. No fim, tem a ver com enriquecer a vida dos que lerão seu trabalho, e enriquecer a própria vida também. Tem a ver com se levantar, ficar bem, e terminar. Ficar feliz, ok? Escrever é mágico, é a Água da Vida tanto quanto qualquer outra arte criativa. A água é de graça. Então beba.”

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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