Coluna

O SATÉLITE DO PRESIDENTE

Rio de Janeiro - Se tem um órgão do Governo Federal que trabalha - e muito - é o Departamento de Recuos e Desmentidos (DRD).

Ligado à Secretaria de Comunicação - SECOM - o DRD funciona numa salinha nos fundos do Palácio do Planalto, sob o comando do secretário especial Fabio Wajngarten.

Todo mundo sabe que uma das funções mais importantes no governo, hoje em dia, é a de recuar e desmentir as histórias do capitão e de sua prole.

Se o presidente ficar adulterando fatos, desmentindo e fraudando todo tipo de informação, daqui a pouco ninguém mais vai acreditar nas suas declarações.

Não é segredo para ninguém que o presidente tem feito tudo o que pode para dar boas notícias a nação; mas as notícias das últimas semanas não são exatamente boas:

A notícia de que o presidente Jair Messias Bolsonaro vai ao mercado para comprar um satélite para monitorar as queimadas na Amazônia provocou uma corrida de vendedores ao Palácio do Planalto.

charge do Nani
Arte - Nani

O secretário Fabio Wajngarten entrou esbaforido, na sala do presidente:

- Presidente, tem um chinês, um americano e um russo, lá fora. 

- Estão querendo invadir o palácio?

- Não. São vendedores. Vieram vender satélite para o governo brasileiro!!

- Ah! Manda entrar.

- Mas presidente, por que o senhor quer comprar mais um satélite. Nós já temos vários deles instalados no país? E funcionando bem! E logo agora, em plena pandemia, quando o país está de pires-na-mão!?

- Não se preocupe, Flavinho, vai custar a bagatela de 145 milhões.

- 145 milhões!!! Não temos dinheiro nem para o auxílio emergencial!

- Os 145 milhões vão vir do fundo de combate à corrupção. 

- Mas o dinheiro apreendido pela operação Lava Jato não seria usado para o
combate a corrupção no seu governo? 

- Que corrupção!? No meu governo não tem corrupção!

O secretário segurou o riso. - Mas, presidente, o INPE já tem satélites que revelam desmatamentos na Amazônia mesmo em regiões cobertas por nuvens, e fazem isso de graça. Eles, inclusive, já mostraram que a Amazônia está pegando fogo.

- Isso é uma calúnia! Vamos demitir o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), esse rapaz faz parte do grupo comunistas que querem acabar com o meu governo. 

- O senhor já demitiu ele!

- Então demite o diretor de Proteção Ambiental do Ibama.

- O senhor também já demitiu. Aliás, o seu governo já demitiu presidentes, diretores e fiscais na Funai e no INPE . Com isso, as multas caíram, os desmatamentos cresceram, as queimadas aumentaram...

- Isso já é outra “cuestão”. No tocante às denúncias de desmatamento e queimadas na Amazônia, isso é um complô orquestrado pelos comunistas, o PT, as ONGS, os índios, o povo venezuelano, os ET´s, o Leonardo di Caprio, a Greta, o Papa e o pessoal do MST para desestabilizar o meu governo. 

- Não temos outro remédio senão instalar o novo satélite para flagramos os índios tocando fogo na floresta.

- Mas não há índios ateando fogo na mata.

- Vamos colocar alguns lá - diz o presidente.

- E depois, presidente o satélite que estão querendo lhe vender é um satélite com menos de 100 quilos e sem muita precisão e não acredito que ele vá melhorar os dados do INPE.

- O Paulo Guedes me garantiu que esse novo satélite vai melhorar a nossa imagem no tocante a “cuestão” das queimadas, e , depois, ouvi dizer que este satélite pega até o programa do Sikêra Jr.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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