Coluna

S.O.S COBAL

Rio de Janeiro - Dias atrás, ou meses, sei lá - com o isolamento social a gente perde a noção do tempo -, a convite do ator Otávio Augusto, voltei a Cobal do Humaitá. 

Conheci a Cobal do Humaitá em 1999, quando fiz lá - a convite da amiga Eulália Figueiredo - uma entrevista com os “puxadores” Preto Jóia, Dominguinhos do Estácio, Serginho do Porto, Wantuir e o saudoso Jackson Martins, que lançavam o CD “Puxadores do Samba”, pela gravadora BMG.

Para quem não sabe, existem duas Cobais: a do Humaitá e a do Leblon e as duas estão sempre lotadas de gente badalando entre um bar e outro.

COBAL
Divulgação

Criados, originalmente, para serem entrepostos de distribuição de alimentos frescos - numa época em que ainda não haviam os grandes supermercados - hoje são, na verdade, centros gastronômicos com vários bares e restaurantes, onde os cariocas de diversas idades se reúnem para beber e encontrar os amigos.

Tanto a Cobal do Humaitá quanto a do Leblon, pela localização privilegiada, há muitos anos, deveriam ter sido  revitalizadas. A ideia, já há alguns anos,  era fazer algo do porte do Mercado Central, em Belo Horizonte, em Minas Gerais e do Mercado São José, popularmente conhecido como La Boqueria, em Barcelona, na Catalunha, na Espanha. Nada foi feito. Agora, esses dois templos da boemia carioca estão ameaçados de despejo.

Meus botequins preferidos, na época, eram o Adriana e  o Arataca, no Leblon e Aurora e Joaquina, no Humaitá.

A Cobal do Leblon é mais famosa. 

Anos atrás - no auge da boemia carioca -, uma turma de celebridades passou a frequentar o lugar aos sábados, entre meio-dia e às três da tarde.  A turma, que ganhou até camiseta do Jaguar com a inscrição: “unidos beberemos”, tinha, além do próprio Jaguar, Tom Jobim, Hugo Carvana, Otávio Augusto, Chico Caruso, Paulo César Peréio, David Pinheiro, José Lewgoy, Jards Macalé, Abel Silva, João Ubaldo Ribeiro, Ana Maria Magalhães, Paulo Casé, Eric Nepomuceno, Antônio Torres e Claude Amaral Peixoto, entre outros. 

COBAL
Divulgação

Mas a vista da Cobal do Humaitá, inaugurada em 1971, é bem melhor. Da calçada dos botecos você pode admirar o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar, enquanto toma um chopp acompanhado de comida de boteco, mexicana, japonesa, pizza e outras mais.  

Mais tudo isso pode acabar. 

O governo federal avalia se desfazer dos terrenos onde hoje funcionam a Cobal do Humaitá e a do Leblon. Atualmente, os dois complexos comerciais são administrados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mas, para a empresa pública, os empreendimentos não são rentáveis à União.

Mas parece que nem tudo está perdido. Atendendo o apelo de comerciantes e moradores locais, o prefeito Marcelo Crivella estuda modernizar os dois prédios. Tudo agora depende de um acordo entre Estado e União.

Vamos torcer para que o point sobreviva,e que tudo acabe em pizza. Com chope, claro. 

Ediel Ribeiro (RJ)

702 Posts

Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

Comentários