Coluna

A FUGA DE WEINTRAUB

Rio de Janeiro - Se tem um órgão do Governo Federal que trabalha - e muito - é o Departamento de Recuos e Desmentidos (DRD).

Ligado à Secretaria de Comunicação - SECOM - o DRD funciona numa salinha nos fundos do Palácio do Planalto, sob o comando do secretário especial Fábio Wajngarten.

Todo mundo sabe que uma das funções mais importantes no governo, hoje em dia, é a de recuar e desmentir as histórias do capitão e de sua prole.

Se o presidente ficar adulterando fatos, desmentindo e fraudando todo tipo de informação, daqui a pouco ninguém mais vai acreditar nas suas declarações.

GABINETE DO ÓDIO. Tá escrito na porta.

O Secretário de Comunicação, Fábio Wajngarten bate três vezes, antes de entrar. É a senha.

- Entra - grita o presidente.

- Mandou me chamar, presidente?

- Mandei. Precisamos fazer uma “alteraçãozinha” no Diário Oficial da União, talkey?

- Outra”!? O D.O. já está cheio de rasuras e liquid paper. Tá parecendo o diário de uma adolescente. Só falta os coraçõezinhos vermelhos, brincou o secretário. - Vamos alterar o quê, dessa vez?

- Precisamos alterar a data da exoneração do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub. Do sábado, dia 20, para o dia 19, sexta-feira.

- Qual o motivo?

- O Ministério Público pediu ao Tribunal de Contas da União (TCU) para apurar a nossa participação na “fuga”, quer dizer, na viagem do Weintraub aos EUA.

- O Ministério Público descobriu que ele se aproveitou da condição de ministro, mesmo não estando mais no governo, para obter visto especial para entrar nos EUA?

- Nessa “cuestão” daí, eu não tô sabendo de nada, entende? Mas é melhor “se” prevenir que “se” remediar.

- Sei. Vou ver o que posso fazer. O senhor tem dinheiro para comprar borracha? As da Secretaria já acabaram. O senhor sabe, tenho apagado muita coisa.

Arte - Nani

ENQUANTO ISSO, NA ALFÂNDEGA DOS EUA:

Um senhor baixinho, com óculos e nariz de plástico, parecido com o Groucho Marx, tenta entrar no país.

- O senhor é americano? - pergunta o policial.

- Não, sou brasileiro. Não está me reconhecendo?

- Lula!?

- Que Lula!? Sou Abraham Weintraub, Ministro da Educação do Brasil.

- A barba - disse o policial, passando a mão no rosto.

- Parece com a do Lula? Mas eu não sou comunista. “I not PT”, disse, tentando se fazer entender. Meu patrão é amigo do Trump. “Friend”, entende? Vim para ser diretor do Banco Mundial.

- Sinto muito, o senhor não pode entrar nos EUA. Brasileiros não podem entrar. Ordens do presidente. Cidadãos brasileiros devem fazer quarentena antes de entrar no nosso país. O senhor sabe, a pandemia. Já morreram mais de 50 mil pessoas no Brasil.

- Eu sou Ministro da Educação do Brasil. Tenho acesso livre ao seu país. “Free”, entende?

- O Ministro da Educação do Brasil foi exonerado, ontem - disse o policial, mostrando a manchete de um jornal americano. O Brasil está sem Ministro da Educação, sem Ministro da Saúde, sem Ministro da Cultura...tá uma bagunça lá.

- Deve ser  um erro da imprensa. De fuso horário, sei lá. O presidente disse que só publicaria a exoneração no sábado.

- Posso ver seu passaporte diplomático? - pediu o policial.

O ex-ministro procurou nos bolsos do paletó, na carteira, na mala...Nada.

- Não estou encontrando. Devo ter perdido na “fuga”... Quer dizer, na viagem.

- Sua viagem tem caráter oficial?

- Sim, estou “oficialmente” fugindo.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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