Rio de Janeiro - Não é só o presidente Bolsonaro que tem sofrido criticas por causa dos palavrões.
Tudo bem, ele abusa.
Mas o patrulhamento tá foda!
Tem leitor - são poucos, mas tem - dos meus textos que se ofende quando a gente escreve "merda", "porra" ou outro palavrão qualquer.
Calma, gente!
Explico: Sou um jornalista da época do Pasquim.
O Pasquim, pra quem não sabe, foi um tablóide de humor irreverente, que, entre outras coisas, mudou a forma de se escrever na imprensa brasileira.
Lançado há 50 anos, pelos jornalistas Tarso de Castro, Jaguar e Sérgio Cabral; o Pasquim tirou a gravata da imprensa, como disse o jornalista Ruy Castro.
Pela primeira vez, um jornal foi escrito inteiramente com a linguagem coloquial - incluindo aí os palavrões - usando a linguagem riquíssima do nosso povo, porém esquecida pelos acadêmicos.
A novidade, no entanto, não foi, como parece, uma sacada genial da turma que criou o tablóide. Foi, na verdade, bebedeira e preguiça.
Tarso, Jaguar e Sérgio Cabral, munidos de um gravador e duas garrafas do uísque Buchanan´s, foram entrevistar o colunista Ibrahim Sued para o primeiro número do Pasquim, no dia 26 de junho de 1969, no boteco Au Bon Marché, em Copacabana.
Jaguar ficou encarregado de transcrever e editar a entrevista, mas, por preguiça, o cartunista resolveu publicar, na íntegra, o papo com Ibrahim. O leitor gostou do formato e a fórmula virou padrão do jornal.
Eu falo assim.
Eu escrevo assim.
O tempo já libertou certos xingamentos.
Hoje, "merda", "cacete" e "puta que o pariu", entre outros, virou linguagem popular.
Ninguém mais se ofende com isso.
Ou, quase ninguém.
Lembrei de uma história célebre do grande escritor Graciliano Ramos, quando revisor da seção editorial do Correio da Manhã.
Um dia, Graciliano estava lendo um texto e leu a palavra "Outrossim".
No texto, a palavra se repetiu várias vezes: outrossim, outrossim...
Por fim, gritou: "Outrossim é a puta que o pariu!"
E riscou a palavra sórdida.
O Pasquim converteu o expletivo de Graciliano em texto completo.
As vezes, o palavrão é redundante, mas dá graça, força e personalidade ao texto.
Acabou, porra!!!
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