Coluna

O EXAME DO PRESIDENTE

Arte - Nani

Rio de Janeiro - Se tem um órgão do Governo Federal que trabalha - e muito - é o Departamento de Recuos e Desmentidos (DRD).

Ligado à Secretaria de Comunicação - SECOM - o DRD funciona numa salinha nos fundos do Palácio do Planalto, sob o comando do secretário especial Fabio Wajngarten.

Todo mundo sabe que uma das funções mais importantes no governo, hoje em dia, é a de recuar e desmentir as histórias do capitão e de sua prole.

O governo de Jair Bolsonaro já mudou de ideia, desmentiu ou recuou de decisões que estavam tomadas ou anunciadas, tantas vezes que o setor de comunicação do governo está em pânico.

Se o presidente ficar adulterando fatos, desmentindo e fraudando todo tipo de informação, daqui a pouco ninguém mais vai acreditar nas suas declarações.

Bolsonaro, às vezes, se confunde com o próprio nome. Não sabe se se chama Messias, Ailton, Rafael ou 05 e por isso tem que recorrer a uma da quatro carteiras de identidades que tem.

Como os heróis dos quadrinhos, Bolsonaro também tem sua identidade secreta. Mas isso, às vezes, lhe causa dores de cabeça.

Bolsonaro pegou o interfone e ligou para o secretário Fabio Wajngarten:

- Fabinho, veja se meus exames da “gripezinha” já chegaram, talkey?

- Ainda não, presidente! - respondeu o secretário.

- Como não! Eu fiz os exames a mais de um mês - vociferou o capitão.

- Vou olhar novamente, só um minuto.

- Vê se não demora, senão acabo trocando você por um general. Tem um monte deles lá no quartel, sem fazer nada - ameaçou o presidente.

Alguns minutos, depois:

- Presidente, sinto muito, ainda não chegaram. Chegaram três exames aqui, mas nenhum é seu. Um é de Airton Guedes, outro do Rafael Augusto Alves da Costa Ferraz e o terceiro de um tal de 05…

- São meus, idiota! Traga eles aqui, agora!

O secretário entrou no gabinete do presidente, exausto:

- Desculpe, presidente, é que os nomes…

- São meus!!

- O senhor tem mais de um nome? Isso é ilegal, presidente!

- Como ilegal? O nome é meu! O país é meu! Eu sou o presidente, talkey? Eu posso tudo! E depois é uma questão de segurança nacional, entende?

- Bom, se o senhor diz. Mas, pra que três exames, presidente?

- É que se algum deles atestasse positivo para o coronavírus, eu mostraria o outro para a imprensa. Senão essa imprensa marronzista ia ficar no meu pé, e eu não quero mais "pobremas".

- Bom, acho que o senhor tem mais um problema, presidente. Aquele ministro “mortinho” que o senhor botou lá no Ministério da Saúde, ligou agora dizendo que tem 37 generais na sala dele dizendo que o senhor mandou empregá-los.

- Qual o “pobrema”? Ele quer que eu faça o que? Tá todo mundo desempregado. A culpa é do Witzel e do Doria. Manda ele reclamar com eles!

- Mas, presidente, eles já estão empregados nas Forças Armadas. Além disso, ele já tem sete militares no Ministério.

- E daí?

- Mas, logo no Ministério da Saúde? Eles são médicos, pelo menos?

- Claro que não. É que o Teich anda “disconcordando” de mim, então, eu botei eles lá pra botar ele na linha.

- Ah, tá!

Depois de bater continência, o secretário já ia saindo, quando o telefone tocou:

- Quem era? - quis saber o presidente.

- Presidente, a mãe do Rafael Augusto Alves da Costa Ferraz veio buscar o exame do filho dela.

- Puta que pariu!!!

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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