- Athaliba, ocê que é um dos gajos mais fixe de sua malta, como define Amália Rodrigues, a cantora portuguesa que faria aniversário de 100 anos de nascimento neste ano de 2020?
- Ora, pois, Marineth, rapariga de Viseu, a Amália é a fada do fado.
- Muito bem, Athaliba. Ela nasceu 23 de julho de 1920, na Freguesia da Pena, Lisboa, mas adotou a data de 1º de julho como dia para comemorar o seu aniversário por toda a vida. Os pais Lucinda da Piedade Rebordão e Albertino de Jesus Rodrigues a deixaram aos cuidados dos avós e retornaram ao Fundão - cidade do distrito de Castelo Branco -, depois de buscar vida melhor na capital. Quando tinha seis anos mudou-se para Alcântara, onde ela viveu até os 19 anos, primeiro com os avós e, depois, com os pais.
- Marineth, tu que és rapariga bué alta, sabia que Amália aprendeu a costurar, bordar e foi operária de fábrica de chocolates, e mais tarde, com a irmã Celeste, vendeu frutas pelas ruas do caís de Alcântara?
- Athaliba, a Amália, antes de torna-se a fadista mais célebre no mundo, esteve ligada as atividades musicais. Foi solista aos 15 anos cantando o “Fado Alcântara” nos festejos dos Santos Populares, seguindo a Marcha Popular do seu bairro. Casou-se com o guitarrista Francisco da Cruz, em 1940, após audições para o Concurso da Primavera, em 1938, que revelaria a Rainha do Fado. O casamento foi breve e o divórcio aconteceu em 1949. E, em 1961, no Brasil, casou de novo, com o engenheiro César Henrique de Seabra Rangel, com o qual viveu até a morte dele em 1997.
- A fadista, Marineth, por sugestão de Filipe Pinto, trocou o nome de Amália Rebordão para Amália Rodrigues, com suas atuações musicais transbordando do Retiro da Severa, do Solar da Alegria e do Café Mondego, até alcançar o Café Luso. Nos anos de 1940 se apresentou em vários palcos, como na Cervejaria Luso, Esplanada Luso, Casablanca, Retiro dos Marialvas, no Cassino Estoril e no Comboio das Seis e Meia, um programa de variedades gravado no Teatro Politeama.
- Sabe Athaliba, a retrospectiva da carreira artística da Amália Rodrigues, infelizmente, não cabe aqui no espaço da crônica. É como diz o compositor Monarco: “Se for falar da Portela, hoje não vou terminar”, no samba “Portela, passado de glória”. Ela atuou em teatro e em filmes. Viajou por vários países, incluindo o Brasil, abarcando os cinco continentes, obtendo sucesso com seus espetáculos. E, no Brasil, gravou os primeiros discos, oito edições de 78rpm para a Continental.
- Marineth, nas comemorações dos 50 anos de carreira, em 1989, Amáilia fez tournée pela Espanha, Suíça, França, Índia, Israel, Coreia, Bélgica, Japão, EUA e Itália. É bom lembrar que ela relacionou a poesia na carreira, através de Pedro Homem de Melo, David Mourão-Ferreira, Luiz Macedo, Sidônio Muralha, Alexandre O’Neill, José Régio, Vasco de Lima Couto, José Carlos Ary dos Santos e Luís de Camões. E foi também autora de vários poemas que registrou em discos e reunidos no livro “Versos”, pela editora Cotovia, em 1997.
- Athaliba, em 1987, Vítor Pavão dos Santos lançou a biografia oficial da fadista, com base em entrevistas realizadas entre 15/11 de 1985 e 16/9 de 1986. Narrado na primeira pessoa, o texto é um documento fundamental para compreensão da vida e da carreira de Amália Rodrigues, que faleceu 6 de outubro de 1999.
- Marineth, o funeral constituiu-se de grande manifestação de dor e saudade, com Portugal chorando a fada do fado. Em 2001, no dia 8 de julho, os restos mortais foram transladados do Cemitério dos Prazeres para o Panteão Nacional.
- Athaliba, por vontade testamentária da fadista, em 10/12 de 1999, foi criada a Fundação Amália Rodrigues. Ela, que recebeu diversos prêmios e condecorações por cerca de 170 álbuns gravados em 30 países, vendendo mais de 30 milhões de cópias, número mais que duas vezes a população de Portugal, merecerá extensa programação nas comemorações do seu centenário de nascimento. Terá Missa Campal; Concerto Amar Amália, em Lisboa e no Porto; Exposição Amália Rodrigues; Relógio Comemorativo; Selo Centenário; entre outras tantas atividades.
- Bem, Marineth, essa crônica é dedicada à portuguesa Lucília, que fincou raízes no Rio de Janeiro e deu continuidade à sua linha, com a filha Júlia, jornalista e professora universitária; os netos Juliana, cineasta; Gabriela, psicóloga; e Pablo, engenheiro, atualmente cursando mestrado na Embraer; e esperando com aparente ansiedade a chegada da bisneta Maya.
- Ocê é gajo solidário, Athaliba, e te ofereço “Grândola, vila morena”, de José Afonso, que abriu a Revolução dos Cravos, sequenciada por “Tanto mar”, de Chico Buarque. Ouça no link: https://www.youtube.com/watch?v=k-9uq14G2s4.
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