Acabo de ler “Metrópole à Beira-Mar - O Rio Moderno dos anos 20” (Companhia das Letras), o mais recente livro do jornalista Ruy Castro.
Autor das biografias de Nelson Rodrigues (1922), Garrincha (1995) e Carmem Miranda (2005). Desta vez, o “biografado” foi o Rio de Janeiro dos anos 20.
Nele, o mineiro de Caratinga e carioca de coração, Ruy Castro, traça uma sequência de pequenas biografias de tipos cariocas. Personagens que agitaram o Rio na década de 20 como Sinhô, J. Carlos, Di Cavalcanti, João do Rio, Villa Lobos, Manoel Bandeira, Lima Barreto e Pixinguinha, entre outros.
De todos, o cartunista J. Carlos cujo desenho ilustra a capa do livro, era o que eu mais admirava.
José Carlos de Brito e Cunha (1884-1950), o J. Carlos, foi ilustrador, chargista, cartunista e quadrinista.
Carioca, nascido no dia 18 de junho de 1884, era um observador da cena urbana de seu tempo. Considerado por uns, genial, irreverente, curioso, anárquico e bem-humorado, e por outros, racista e sexista, retratava os hábitos dos moradores e o processo de urbanização da cidade, além do surgimento de diversas invenções e modismos, como o telefone, a fotografia, o chope, o samba, o bonde elétrico, o automóvel, o cinema, o rádio, o avião, a cultura do futebol, a praia e o carnaval.
Porém, foi na política que seu traço característico ganhou mais repercussão. Os políticos da República Velha foram alvo de seu desenho ferino e corrosivo.
Considerado o principal cronista visual da primeira metade so século 20 no país, começou a publicar em 1902, aos 18 anos, na revista “Tagarela”, semanário que reunia importantes desenhistas da época.
Os trabalhos de J. Carlos feitos todos à mão - utilizando lápis, caneta, pincel e nanquim - apareceriam nas melhores revistas de sua época: “O Malho”, “Tico Tico”, “Fon-Fon”, “Careta”, “O Cruzeiro”, “A Cigarra”, “Vida Moderna”, “Eu Sei Tudo”, “Revista da Semana” e “Para Todos”.
J. Carlos foi o primeiro cartunista brasileiro a desenhar o Mickey Mouse. Carlos desenhou o personagem em capas e peças publicitárias para a revista “Tico Tico”. Mas o cartunista tinha também seus próprios personagens, como a negrinha Lamparina, a Melindrosa, o Almofadinha e personagens do universo infantil como Jujuba, Lamparina, Goiabada e Carrapicho.
Em 1941, Walt Disney visitou o Brasil e ficou impressionado com o estilo de J. Carlos e o convidou para trabalhar com ele em Hollywood. O cartunista recusou o convite, porém enviou para Disney um desenho de um papagaio que segundo alguns historiadores, serviu de inspiração para a criação do Zé Carioca.
J. Carlos viveu os últimos anos de sua vida em Petrópolis, no Rio de Janeiro e só parou de trabalhar quando, em 2 de outubro de 1950, na redação da revista “Careta”, sofreu uma hemorragia cerebral ao bater com a cabeça na escrivaninha, após sofrer um AVC, enquanto estava reunido com o compositor João de Barro, terminando uma ilustração para a capa de seu próximo disco.
J. Carlos faleceu dois dias depois, aos 66 anos.
O artista produziu cerca de 100 mil desenhos em quase 50 anos de carreira. Desses, aproximadamente mil desenhos originais pertencem a coleção de seu filho Eduardo Augusto de Brito e Cunha e foi incorporada ao acervo do Instituto Moreira Salles.
Quase 50 anos depois de sua morte e quase esquecido por muitos, teve sua obra catalogada e exposta em São Paulo, com a curadoria do cartunista Cássio Loredano.
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