Rio - Anos 70.
Vivíamos - com a implantação do AI-5 -, o auge da Ditadura Militar no Brasil. Foram anos de massiva propaganda militar, falta de liberdade, censura e perseguições. Jornais e revistas eram fechados, empastelados ou viviam sob censura prévia.
Mas, foram, também, anos de resistência formada por intelectuais, artistas, estudantes e operários. Muitos foram presos, torturados e banidos para fora do país.
Neste cenário, jovens e talentosos cartunistas, ilustradores, jornalistas e escritores resistiam, criando um movimento alternativo na imprensa brasileira. Jornais e revistas de humor e quadrinhos surgiam em guetos pelo Brasil afora, entre eles:
“O Pasquim" e "O Bicho”, no Rio de Janeiro; “O Balão” e "O Bondinho", em São Paulo; “Almanaque do Humordaz” e "Uai!, em Belo Horizonte; “Araruta”, em Porto Alegre; “Casa de Tolerância, em Curitiba; “Cabra Macho”, em Natal; “O Outro”, em Recife e “Risco”, em Brasília.
A maioria teve vida curta.
Morreram assassinados pela Ditadura Militar; como o “Almanaque do Humordaz”, que sobreviveu apenas a duas edições.
A breve história do “Almanaque Humordaz” começou como uma pequena coluna do jornal “Estado de Minas”, chamada “Humordaz”, escrita pelo Procópio.
A coluna, publicada todos os sábados, no Segundo Caderno do jornal, fazia muito sucesso. Com o sucesso, a coluna ganhou mais espaço, chegando a ocupar uma página inteira do jornal.
Procópio, então, convidou os amigos Lor, Nilson, Afo, Benjamin, Mário Vale, Clacchi, Aroeira e Dirceu.
O jornal começava a ficar pequeno pra tanta gente; e eles começavam a pensar numa revista independente que abrigasse tanto talento e criatividade.
As reuniões, regadas a cerveja, aconteciam nas mesas da Cantina do Ângelo e no bar Lua Nova, na galeria do Edifício Malleta, ponto de encontro de artistas, jornalistas e intelectuais, no centro de Belo Horizonte.
Foi naquelas mesas, entre cervejas, cachaças e torresmo, que o “Almanaque” ganhou vida própria e tornou-se o maior sucesso da imprensa mineira.
O nome escolhido foi o da coluna no “Estado e Minas”, que já fazia sucesso a quase dez meses. Geraldo Magalhães veio para assinar como jornalista responsável pela publicação; Nilson era o editor e a primeira capa foi criada pela dupla Afo e Lor.
Henfil escreveu o primeiro editorial falando da dificuldade de se manter uma publicação independente como aquela e desejando sorte aos rapazes.
Uma das idéias da revista era a cada edição entrevistar um cartunista já consagrado. O convidado para o primeiro número foi o cartunista Nani, mineiro de Esmeraldas, que já fazia sucesso no “Pasquim”, no Rio de Janeiro.
O lançamento do “Almanaque do Humordaz”, no Teatro Marília, foi um grande acontecimento em Belo Horizonte. Jornalistas, artistas, intelectuais e boa parte da imprensa mineira estava lá. Foram vendidos, no lançamento, mais de quatrocentos exemplares.
Para o segundo número, os caras tiveram uma sacada genial: cartuns inéditos do desenhista Carlos Estevão - que fazia enorme sucesso na revista “O Cruzeiro” - encontrados nos arquivos dos “Diários Associados” e a reprodução da última entrevista dada pelo jornalista ao “Diário da Tarde”, poucos meses antes de sua morte - em julho de 1972 - viraram matéria especial e capa da revista número dois.
A publicação fazia muito sucesso criticando os políticos e apontando os crimes praticados pela Ditadura Militar, o que incomodava os militares.
Antes da publicação do número três, a redação recebeu a notícia que a partir daquele número (julho de 1976), a revista estava sujeita à censura prévia.
A medida, tomada pelos militares, obrigava os editores a enviar a revista para Brasília para avaliação dos censores, antes da publicação.
Os editores, no entanto, preferiram acabar com a publicação, à submetê-la a mutilação dos militares.
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