Coluna

O mito destrambelhado

presidente jair bolsonaro
A expressão de raiva do mito estrambelhado que chamou universitários de idiotas úteis, ao criticá-los por manifestações contra contingenciamento de verba para a educação (Foto Mauro Pimentel)

- Athaliba, as transexuais Mary Help e Gina - aquela que fez cirurgia de redesignação sexual e, por isso, foi largada pelo namorado, o PM Brucutu, lembra? - faziam comentários sobre a crônica Rio de Janeiro sob a lama e me perguntaram onde mora a Maria da Guia. Sem especificar o bairro, a pedido da amiga, pois teme represálias por denunciar a violência da polícia, respondi às transexuais que ela reside em favela perto de “bairros nobres” da Zona Oeste do Rio de Janeiro, na ex-Cidade Maravilhosa..

- Marineth, por quê Gina e Mary Help queriam saber o local de moradia da sua amiga, que solicitou, por carta, reportagem para delatar as ações de violência do aparato policial do Estado e o alto índice de corrupção, que levou ex-governadores à cadeia, entre outros políticos?

- Bem, Athaliba, elas ficaram comovidas com a atitude da Maria da Guia e manifestaram o intuito de homenageá-la, escrevendo uma carta de apoio.

- Essa solidariedade das transexuais, Marineth, é importante. É o que está faltando.

- Athaliba, naquele momento chegou à praça, onde tem o monumento de concreto à Bíblia, o minerador Bigurrilho. Aliás, junto ao emblema religioso, às 18 horas das 2ª feiras, tem romaria de algumas beatas que rezam, cantam e acendem velas pedindo proteção para que as barragens com milhões e milhões de m³ de rejeitos de minério de ferro não se rompam, pois Alucard sumiria do mapa, assim como a cidade de Pompéia foi soterrada após a erupção do vulcão Vesúvio.

- Marineth, o empregado da mineradora Yale que sempre protesta pelo fim de Alucard ser curral eleitoral de forasteiros, principalmente da família do evangélico Lincoln Portela, está unido ao ritual?

- Nada disso, Athaliba. Imagina. É agnóstico e tem o socialismo como concepção política de vida. Bigurrilho vibrava e gesticulava muito ao nos contar que a reprovação do governo do Jair Messias tá à beira de 40%, na pesquisa de 26/8 da CNT/MDA, com aprovação apenas de 29,4% da população. O resultado é semelhante às de outras pesquisas recentes.

- Marineth, é visível o aumento de rejeição, de repulsa, de desprezo a Jair Messias. Mesmo na retrógrada Alucard do Mato Dentro, à qual o poeta Antônio Crispim disse num célebre poema que a cidade era “apenas uma fotografia na parede; mas como dói”.

- Bigurrilho, observador que é em pesquisas, Athaliba, em seguida deitou falação sobre os dados da análise popular feita pela Datafolha, 29 e 30/8, em 175 municípios no país para saber a opinião referente às declarações controversas feitas por Jair Messias. Uma das frases registrada pela imprensa foi sobre a preservação ambiental: “É só você deixar de comer um pouquinho; você fala para mim em poluição ambiental; é só você fazer cocô dia sim, dia não”.

- Marineth, também tem: “Daqueles governadores ‘de paraíba’, o pior é o do Maranhão; tem que ter nada com esse cara”. O sujeito em questão é Flávio Dino, do PCdoB, e Jair Messias classificou os brasileiros das regiões do Norte e Nordeste, pejorativamente, de “paraíba”.

- Athaliba, a pesquisa mostrou que maciça maioria dos entrevistados discorda do que diz o Jair Messias. Para Bigurrilho, ele é “um mito destrambelhado”. Justificou que o perfil de adoidado e de desqualificado do presidente da República está nos comentários dos leitores no rodapé da matéria sobre a pesquisa publicada no jornal paulista.

- Como assim, Marineth?

- Athaliba, antes de explicar porque o minerador considera o “mito” destrambelhado, cabe informar que outra declaração, submetida à opinião dos entrevistados, é aquela a respeito da indicação do filho Eduardo a embaixador do Brasil nos EUA: “Pretendo beneficiar um filho meu, sim; pretendo, está certo. Se puder dar um filé mignon ao meu filho, eu dou”.

- O presidente fez essa declaração ao vivo em rede social, dia 18/7, Marineth.

- Sim, Athaliba. Vamos aos comentários registrados por Bigurrilho. Uma das postagens diz que “a presidência caiu no colo do Bolsonaro dada a rejeição ao PT, a facada maldita, ao suicídio verborrágico do Ciro Gomes. Aí, as pessoas de bem inventaram para elas mesmas que não tinha jeito, que a única opção menos ruim era o Bolsonaro. Mas, o maior culpado de tudo isso foi o Lula, que boicotou uma dobradinha Haddad e Ciro. Foi isso que elegeu o culto, inteligente, eficaz, diplomático, estudioso, competente, produtivo, imparcial, elegante e técnico mitomaníaco”.
Outro comentário respondeu assim: “Não. Se tivesse vencido uma dobradinha com Ciro e Haddad, eles estariam comendo o pão amassado pelo diabo. O melhor para o Brasil é passar por esse purgatório e, ao final, nunca mais fazer esse tipo de besteira”.

- Marineth, os comentários de leitores nos rodapés das principais matérias publicadas nos jornais on-line possibilitam, além da oportunidade de livre manifestação, formar melhor juízo de opinião sobre questões relevantes ao Brasil.

Bem, amiga, ouça a música “Pesadelo”, de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós, pela internet, clicando no link https://www.vagalume.com.br/paulo-cesar-pinheiro/pesadelo.html, prá mantermos a esperança, pois o “importante é que a nossa emoção sobreviva”.

“Quando o muro separa uma ponte une
Se a vingança encara o remorso pune
Você vem me agarra, alguém vem me solta
Você vai na marra, ela um dia volta
E se a força é tua ela um dia é nossa
Olha o muro, olha a ponte, olhe o dia de ontem chegando
Que medo você tem de nós, olha aí

Você corta um verso, eu escrevo outro
Você me prende vivo, eu escapo morto
De repente olha eu de novo
Perturbando a paz, exigindo troco
Vamos por aí eu e meu cachorro
Olha um verso, olha o outro
Olha o velho, olha o moço chegando
Que medo você tem de nós, olha aí

O muro caiu, olha a ponte
Da liberdade guardiã
O braço do Cristo, horizonte
Abraça o dia de amanhã, olha aí”

 

Lenin Novaes

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Crônicas do Athaliba

LENIN NOVAES jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

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