Rio - Dei meus primeiros passos no jornalismo no jornal “Luta Democrática”, fundado em 3 de fevereiro de 1954, pelo político fluminense Tenório Cavalcanti.
No seu auge, em 1962, o jornal chegou a circular com uma tiragem de 150 mil exemplares. Era o terceiro maior jornal do Rio de Janeiro, atrás apenas de “O Globo” e “O Dia”.
Criado como “palanque político” de seu fundador, o jornal exercia ferrenha oposição ao governo de Getúlio Vargas.
Desde o primeiro número, logo na primeira página, o jornal já exibia grandes manchetes sensacionalistas indicando o que seria sua linha editorial.
Adotando uma linguagem popular e valendo-se de apelos sensacionalistas, e manchetes ambíguas que ficaram famosas, a “Luta Democrática” conquistou grande aceitação junto às camadas mais pobres da população carioca e fluminense, difundindo a imagem de Tenório sempre envolto em uma vasta capa preta que escondia a sub-metralhadora alemã, apelidada de “Lurdinha”, da qual nunca se separava.
Trabalharam na redação, além de Tenório Cavalcanti - que mantinha uma coluna diária chamada “Escreve Tenório Cavalcanti” - os jornalistas Carlos Alberto Caó Oliveira; Iara Cruz; Santa Cruz Lima e Hugo Baldessarini, o primeiro editor-chefe. O jornalista Arlindo Silva - biógrafo do apresentador Silvio Santos - escrevia a história de Tenório Cavalcanti.
Nas páginas internas, uma história em quadrinhos intitulada “Vida Paixão e drama de Tenório Cavalcanti” contava a saga do fundador do jornal, um homem de personalidade violenta que aterrorizava seus adversários e resolvia tudo na bala (tinha mais de 50 perfurações de bala no corpo).
Quando cheguei ao jornal, a “Luta Democrática” já não exibia mais a vitalidade do tempo em que era dirigido pelo polêmico deputado udenista.
O jornal pagava mal, mas era o lugar ideal para um jovem jornalista, como eu, começar a carreira.
Comecei fazendo pequenas ilustrações e charge política, um dia, deixei sobre a minha mesa um texto que tinha escrito e o editor viu e me deu uma coluna que ocupava um quarto de página do jornal que eu escrevia e ilustrava.
Depois do golpe militar de 64; a cassação de Tenório e a alta no preço do papel provocaram a decadência da “Luta Democrática”.
A partir de 1970, Tenório arrendou o jornal sucessivamente aos jornalistas Raul Azêdo Netto, Boris Nikolasievski e Evandro Mendes da Costa e, em 1980, à empresa Edigrajo - Editora e Gráfica Jornalística Ltda.
A “Luta” chegava ao fim.
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