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Entrevista com o cartunista Ediel Ribeiro - Parte III

Ediel Ribeiro é jornalista, escritor e cartunista. Autor de “Patty & Fatty” uma tira de quadrinhos nacional, de humor ácido, publicada desde 2003, no jornal “O Municipal”, do Rio de Janeiro.

A tira foi publicada também na revista “Megazine”, do jornal “O Globo”, no jornal “Expresso”, do Rio de Janeiro e em vários blogs e sites na Internet. 

O site “Tribuna HQ” conversou com o cartunista, em seu estúdio no Rio de Janeiro.

Tribuna – Como você vê o futuro dos quadrinhos no Brasil?

Ediel – As tiras estão passando por um momento delicado. Pouco espaço nos jornais, a concorrência do preço do exterior, falta de distribuição adequada… Por outro lado, a qualidade dos trabalhos melhorou muito. Estamos em um momento bom para os livros de quadrinhos no Brasil. Antigamente, os quadrinhos eram comprados em bancas de jornais, hoje só em livrarias. Isso ajudou na percepção dos quadrinhos como arte e não só como uma tirinha qualquer publicada em jornais que depois de lidos iam embrulhar peixe. Hoje as pessoas colecionam quadrinhos como colecionam quadros ou outra arte qualquer.

Tribuna – Você considera quadrinhos uma forma de arte?

Ediel – Sim, claro. Por outro lado, nada é realmente arte, a não ser que alguém lucre com ela (risos).

Tribuna – Como anda a distribuição de tiras nacionais no país?

Ediel – Os sindicatos que distribuem tiras cômicas para jornais funcionam como agências distribuidoras dos trabalhos de cartunistas, que cedem seus direitos mediante licença e com isso seus trabalhos são enviados aos jornais do país. No Brasil, até 1980, 80% das tiras de jornais brasileiros vinham de fora. Nessa época surgiu a Fundação Nacional de Arte (Funarte), destinada a distribuição de trabalhos de autores brasileiros. E com isso a situação se inverteu. Em 1990, o órgão federal foi extinto. Aí surgiu a Pacatatu, uma distribuidora que garantia o fornecimento de 50% das tiras produzida por autores nacionais e publicados em jornais brasileiros. A Pacatatu ainda hoje é uma das formas, senão a única, de se chegar aos jornalões. Mas eles estão meio saturados também. Eles estão distribuindo mais de trinta tiras. Fica difícil colocar uma tira lá.

Arte: Ediel

Tribuna – Quanto eles pagam por tira?

Ediel – Geralmente pouco. Mas, se a sua tira for bem aceita e você conseguir publicá-la em vários jornais, dá uma boa grana. Se não

Tribuna – Você já pensou exportar a Patty? Traduzir pro inglês?

Ediel – Sim. Eu sempre pensei nisso. Desde a criação da tira, a ideia sempre foi essa. Por isso todos têm o nome em inglês. Andei fazendo umas tiras em espanhol e estou, aos poucos, entrando no mercado latino. Acho que a exportação das tiras, a publicação de livros, a animação e o licenciamento são o futuro dos quadrinhos. Eu já estou começando a disponibilizar na rede alguns produtos com a minha marca. Muitos cartunistas já fazem isso em seus sites e blogs. O Caco Galhardo é um dos que mais faturam com produtos como canecas, camisetas, travesseiros, cinzeiros e desenhos originais. Li, recentemente, na “Revista o Globo”, uma matéria sobre um ainda restrito grupo de pessoas – fãs incondicionais de quadrinhos – que andam comprando de tudo que remete aos quadrinhos; desde quadros, almofadas, poltronas, papel de parede, até estantes com personagens de HQ. É uma tendência.

Tribuna – Tem espaço para novos autores de tirinhas na imprensa. Qual o caminho pra quem quer publicar?

Ediel – Hoje tá muito difícil. Antigamente havia o concurso da “Folha de São Paulo”. O Fernando Gonsales, criador do Níquel Náusea e outros começaram lá. Hoje, nem isso. O caminho mais curto é a Internet. Criar um blog e publicar lá os seus trabalhos. Serve pra dar experiência, melhorar o traço, incrementar a produção, dar visibilidade. E hoje alguns blogs têm mais visibilidade que muitos jornais. As minhas tiras são lidas nos Estados Unidos, França, Cuba, Argentina e outros países da América Latina. Coisa que eu jamais conseguiria sem a Net.

Tribuna – O que você fazia antes de desenhar quadrinhos?

Ediel – Publicidade, rádio, jornal de sindicatos.

Tribuna – E os fãs? Como é o relacionamento?

Ediel – É legal. É um negócio meio esporádico. Só em eventos. As pessoas que gostam de quadrinhos e frequentam feiras, exposições, salões de humor e curtem o teu trabalho, sempre te tratam com muito carinho. O sucesso relativo é bom. Você só é artista até vir a fama. Depois vira estrela. Fica inacessível, aí acaba a graça. É como o cara que batalha a vida inteira pra fazer sucesso e quando chega lá, bota uns óculos escuros pra se esconder das pessoas.

Tribuna – Você criou algum personagem que não deu certo?

Ediel – Eu fiz um gato. Nem cheguei a dar nome a ele. Não deu certo. Não gosto de gatos. Gato é a versão gay do cachorro (risos). Eu nunca tive gato. E você precisa conhecer o animal pra desenhar e falar sobre ele. O Jim Davis, criador do Garfield, mora numa fazenda com trezentos gatos. Por isso seu gato é um sucesso.

Tribuna – Quem foi sua maior influência no desenho? O Quino?

Ediel – Não. É o Crumb, o Julles Feiffer, o Palomo e o Angeli. São os caras que, em minha opinião conseguem reunir traço e texto com a mesma qualidade. O Quino é ótimo, mas a Patty não tem muito da Mafalda. A personagem do Quino é mais politizada; a Patty é uma adolescente porra louca.

Tribuna – Você poria seus personagens em campanhas publicitárias ou políticas?

Ediel – Campanha política, não.  Acho que não. Até porque os Palmer´s não são uma família funcional. São figuras politicamente incorretas. Não atrairiam eleitores, pelo contrário. Campanha publicitária, já fiz uma com a Patty.  Para uma rede de lanchonetes. Fiz pra ganhar dinheiro. Mas não gostei muito. Expõe muito o personagem.

Tribuna - Obrigado pela entrevista.

Ediel - Eu que agradeço a vocês. Sucesso!!

 

Entrevista publicada originalmente no site “Tribuna HQ”, em janeiro de 2013 

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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