Rio - Depois dos cinemas e dos jornais de papel, chegam ao fim as livrarias.
Os grandes ícones da cultura estão fechando as portas. Já escrevi aqui, neste espaço, sobre o do fim dos jornais de papel, agora, são as livrarias que agonizam.
Meus netos, Adam e Lizzy, só ouvirão falar das arqueológicas máquinas de escrever e do jornal de papel, através de seus modernos e coloridos tablets. É a geração Steve Jobs.
Nos últimos dez anos, mais de vinte mil livrarias fecharam as portas em todo o país. Isso equivale a uma redução de trinta por cento no mercado de livros.
E os sebos?
Até os velhos sebos, onde eu garimpava relíquias como “Toda Mafalda”, o livro de quadrinhos do argentino Quino e “O Contrabaixo”, uma peça de teatro - um monólogo - do escritor alemão, Patrick Süskind e testava minha alergia a poeira, estão sumindo.
Outro dia, fui visitar o João do Rio, o simpático sebo do meu amigo e cartunista, Ferdo, na Lapa, e, como “aquela tal malandragem”, do Chico Buarque, não existe mais.
Dos meus favoritos, ainda resiste o Acadêmicos do Rio, sebo que funciona desde o início da década de 70, na rua da Carioca, 61, numa loja no prédio onde funcionou a antiga redação do Pasquim, de 1984 a 1991.
Só no Rio, já cerraram as portas a livraria Cultura - maior livraria do Centro do Rio, com quatro andares e 3,2 mil metros quadrados - localizada no número 45 da rua Senador Dantas.
A livraria Cultura ocupava o espaço do antigo Cine Vitória, inaugurado em 1942 com uma sessão de O grande ditador", de Charles Chaplin.
Além dela, Saraiva (Village Mall), Leonardo da Vinci, Horus, Nobel (Via Parque), Solário (Rua da Carioca) e a francesa Fnac, que desembarcou no país em 1998, também fecharam.
As livrarias, diante do boom do e-commerce, se reinventam para enfrentar a crise e a internet.
Por um lado foi bom. A Letras e Expressões, da Visconde de Pirajá, em Ipanema, por exemplo, virou "point" para as pessoas se encontrarem depois do trabalho, tomar um bom café e bater papo.
Gostava de parar a tarde, no “Café Ubaldo”, espaço criado no segundo andar da livraria em homenagem ao "imortal" escritor baiano, João Ubaldo Ribeiro, que conheci quando ele fazia sua coluna no jornal O Globo, na rua Irineu Marinho.
Depois dela, várias livrarias montaram seus cafés. Mas, algumas, abusaram.
Para tentar salvar a pele, elas agora vendem de tudo: papelaria, artigos para presentes, eletrônicos, Cd´s , jogos, revistas. São muito mais que uma livraria. Viraram bazares barulhentos.
Elas, a rigor, não são mais livrarias, mas lojas que vendem livros, o que parece a mesma coisa, mas não é.
Talvez a crise seja uma ótima oportunidade para as livrarias repensarem a urgência da lei do preço único do livro, que as grandes redes tanto criticaram, criando dificuldades para a implantação que agora se mostra tão oportuna.
E salvadora.
*Ediel Ribeiro é jornalista e escritor
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