Rio - Todos que, como eu, já subiram a Ladeira Saint Roman, na zona sul carioca, em direção a sede do "O Pasquim", já esbarraram, na entrada, com a figura de uma senhora carismática, e extremamente simpática.
Era Dona Nelma.
Nelma Quadros era a secretária de redação de "O Pasquim". Na verdade, mais do que secretária: era timoneira, administradora, confidente e conselheira. Era quem organizava o caos que reinava na sede do jornaleco.
Sempre citada nas crônicas feitas pela turma que reunia Tarso de Castro, Millôr Fernandes, Ziraldo, Jaguar, Ivan Lessa, Henfil, e, também, Sérgio Cabral, Dona Nelma era o anjo da guarda dos criadores do genial hebdomadário.
Dona Nelma era apaixonada pelo Brizola. Uma das fundadoras do PDT, foi ela quem apresentou Jaguar ao ex-governador do Rio.
Sofreu, junto com toda a turma, os perrengues da ditadura. Era confidente de pessoas do calibre de Fausto Wolff, Carlos Drumond de Andrade, Jaguar e Sérgo Cabral, entre outros.
No auge da perseguição à imprensa, "O Pasquim" recebeu uma carta igualzinha aquela que a dona Lida, secretária do presidente da OAB, em 1980, abriu e explodiu na cara dela - dona Lida morreu no atentado. Mas, como no dia não havia ninguém na redação, Dona Nelma, guardou em uma gaveta. Trinta dias depois, o troço explodiu sozinho.
Durante a Operação Lava Jato, Dona Nelma voltou a ser notícia - desta vez, por motivos não tão nobre.
Investigadores da Lava Jato descobriram que Sérgio Cabral, o filho, usou, durante uma década, ao longo de seus dois mandatos no governo do Rio, o codinome Nelma para se comunicar, clandestinamente, com seus colaboradores.
As investigações descobriram que o telefone registrado em nome de Nelma era, na verdade, do próprio Cabral.
O ex-governador combinava pagamentos de propinas e, também, viagens a Paris e outros compromissos, usando o nome da lendária secretária do Pasquim.
A personagem, inventada e jogada na lama pelo então governador, não poupou sequer a imagem do pai - um dos fundadores, junto com Jaguar e Tarso de Castro, do tabloide.
Nelma Correia Quadros - a original - segurou o tranco por longos anos à frente do "O Pasquim", até que jogou a toalha.
Nada risível, só triste - notadamente sua morte, em 1991, por tétano.
*Ediel Ribeiro é jornalista e escritor
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