Rio de Janeiro - Só conheci um pé-sujo menor que o Bip-Bip, bar do Alfredinho, em Copacabana: O Bar do Samuca, em Santa Tereza.
Pensa num boteco pequeno. Pequeno, não. Minúsculo. O bar era tão pequeno que só tinha uma mesa. Quem chegava depois, sentava na calçada, encolhendo a bunda por causa do bonde, que passava na porta.
Eu costumava frequentar o Bar do Samuca com o saudoso Ykenga, na época, cartunista do jornal ‘O Dia’. Ykenga dizia que o bar era tão apertado que até pra mudar de opinião o sujeito tinha que ir lá fora.
Samuca - como Samuel era conhecido pelos frequentadores - era um sujeito super animado. Estava sempre no bar contando mil “causos” e histórias de Santa Teresa. Adorava contar piadas. Sempre que eu chegava ao boteco o Samuca me chamava e mandava: tenho uma nova do papagaio.
O boteco era frequentado por artistas e intelectuais de Santa Teresa. Artistas plásticos, artesãos, músicos, cartunistas e jornalistas que subiam a ladeira, depois do fim do expediente nos jornais, Pasquim, Tribuna do Povo, O Dia, Jornal dos Sports e O Povo. Todos com redações na Lapa ou Centro do Rio.
O bar do Samuca (ou Barmácia, como o gozador Samuca chamava o próprio boteco). era uma galeria de arte. As paredes eram cobertas de cartuns até o teto, literalmente. Eram trabalhos de cartunistas - Lan, Redi, Ziraldo, Jaguar, Amorim, Luscar e Ykenga, entre outros - que, a pedido do Samuca, deixavam suas artes nas paredes do pé-sujo. Fiz para o Samuca uma caricatura dele num corpo de papagaio.
Samuca era tão gente fina que aceitava cartuns como pagamento dos cartunistas que não tinham como pagar a conta. Luscar era um deles. Sempre duro, Luscar desenhava em troca de cerveja e comida.
Luscar chegou ao Rio na década de 70. Morou 15 anos no Rio. Através do amigo Fortuna conheceu Ziraldo e a turma do “Pasquim” e começou a colaborar com o semanário, onde ficou até o fechamento em 1991.
O início na Cidade Maravilhosa foi brabo. Dividia um pequeno apartamento no Flamengo com o jornalista Luís Pimentel e, para sobreviver, escrevia histórias de terror para a revista “Spektro”, com o pseudônimo de Basílio de Almeida.
O cartunista Amorim, editor do +Humor, contava que Luscar cavucava os arquivos do Pasquim para pegar seus cartuns para “empenhar” no Bar do Samuca.
Samuca, formava com Diógenes Paixão, dono do ‘Bar do Mineiro’ e Arnaldo Gomes de Souza, proprietário do ‘Bar do Arnaldo’, a Santíssima Trindade da boemia de Santa Teresa.
Samuca era bolsonarista (ninguém é perfeito) e não acreditava na vacina. Morreu de Covid, durante a pandemia.
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