Brasil

Caravana da Resposta vai percorrer 3 mil km até a COP30 para denunciar impactos do agronegócio na Amazônia

Mobilização de indígenas e movimentos sociais parte de Mato Grosso rumo a Belém, com atos e ações culturais ao longo da “rota da soja”

Foto: Fernando Frazão | ABR. 

Belo Horizonte – Indígenas e movimentos sociais anunciaram a Caravana da Resposta, uma mobilização que vai percorrer mais de 3 mil quilômetros entre Mato Grosso e Belém (PA), em direção à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30). O grupo pretende denunciar os impactos da monocultura e dos grandes corredores logísticos do agronegócio na Amazônia e no Cerrado.

Mais de 300 participantes — entre representantes de povos tradicionais, organizações e comunidades — seguirão pela chamada “rota da soja”. Durante o trajeto, estão previstos atos públicos, manifestações culturais e encontros com comunidades locais.

O barco que fará a etapa final da viagem também servirá como alojamento coletivo e cozinha solidária em Belém, garantindo a presença dos participantes na conferência. A iniciativa busca se contrapor ao modelo econômico exportador que, segundo os organizadores, “concentra riquezas, destrói florestas e ameaça modos de vida”.

Corredores logísticos e megaprojetos

A mobilização é organizada pela Aliança Chega de Soja, formada em 2024 e hoje composta por mais de 40 organizações. O movimento se opõe a megaprojetos como a Ferrogrão, ferrovia planejada para ligar Sinop (MT) a Itaituba (PA) e escoar grãos pela Amazônia.

Estudo da Climate Policy Initiative (CPI), da PUC-Rio, aponta que a construção da Ferrogrão pode gerar até 49 mil km² de desmatamento. O projeto está suspenso por decisão liminar do Supremo Tribunal Federal (STF), após pedido de vista do ministro Flávio Dino.

Além da Ferrogrão, o movimento critica os projetos de hidrovias nos rios Tapajós, Madeira e Tocantins, e defende o fortalecimento da agroecologia, da pesca artesanal e de um modelo de infraestrutura “voltado às pessoas, e não ao lucro”.

Alessandra Korap Munduruku, líder dos povos indígenas Munduruku da Amazônia - Foto: Tânia Rêgo | ABR. 

“Não vamos permitir que o interesse de grandes corporações destrua nossos rios e florestas. Querem transformar nossos rios em hidrovias mortas e nossas casas em corredores logísticos. Nós vamos defender nossos territórios, porque disso depende o futuro de todo mundo”, afirmou Alessandra Munduruku, liderança indígena.

Caminhos e alternativas

Com duração prevista de 14 dias, o percurso será feito por terra — pela BR-163, conhecida como “rodovia da soja” — e por água, pelos rios Tapajós e Amazonas, com paradas em Miritituba e Santarém.

A caravana também busca dar visibilidade a alternativas agroecológicas e a sistemas de sociobiodiversidade, valorizando a produção de pequenos agricultores e comunidades tradicionais.

Em Belém, os participantes se unirão às mobilizações Cúpula dos Povos e COP do Povo, reforçando o protagonismo dos povos da floresta na construção de uma agenda climática justa e inclusiva.

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