Coluna

NOSSAS QUEDAS

Foto de Alexas_Fotos na Unsplash - 

Juiz de Fora (MG) - Quedas em nossas vidas são muitas. Nos lembramos sempre delas, nos marcam e deixam experiência ou raiva. As quedas são uma relação de amor e ódio. Caímos por diversas razões: quando o tempo não está a nosso favor; uma ação do universo que vai contra os nossos anseios, por atitudes impensadas; orgulho; covardia e tantas outras. Nossas teimosias em querer moldar o mundo de acordo com os nossos desejos, em algum momento tentando ser o único a ter razão, nos pedem a humildade, algumas vezes.

Todas as quedas são oportunidades para levantar e começar de novo. Começar de um jeito diferente. Mas podemos acreditar tanto em nossas medidas que o medo do tombo seguinte não nos assusta. É a prova da nossa perseverança. Alguma coisa no universo conspira contra nós, mas, na verdade, alguma coisa no universo quer nos mostrar o contorno do obstáculo que, muitas vezes, está bem diante dos nossos narizes e nossa teimosia insiste em não ver.

Se aventura aquele que não teme a queda mesmo não conhecendo, de antemão, o que espera encontrar do outro lado da história; que o desconhecido é um ente a ser enfrentado. Os aventureiros são mestres em cair todo o tempo, e ao cauteloso resta dizer que nunca caiu, mas também nunca terá a oportunidade de se levantar e mostrar a sua coragem e determinação.

Nossa determinação ultrapassa os obstáculos mesmo que veja a possibilidade de cair ante qualquer um deles, porque a determinação é cega para os lados e só enxerga o caminho que leva para frente.

Não nos lamentemos pelo fato de cair, porque sempre nos levantamos para continuar - o que é passado é passado e o que importa é o futuro. É o mundo que roda de mansinho como uma deusa que avança pedindo para ser alcançada.

Aprendemos com nossas quedas e desaprendemos tudo quando nos reerguemos. Esse desaprender é didático, é o olho que brilha, é a vontade de fazer, é a coragem. Ver o obstáculo intransponível não é um desafio a ser ultrapassado, mas uma maneira de mostrar que há outras formas de continuar. São as possibilidades que existem nos corações dos aventureiros e dos apaixonados.

Nos apaixonamos por nossos desejos, nos apaixonamos pela beleza que nos cerca, e nos esquecemos que os desejos, assim como as coisas belas, estão ali para estimular nossas quedas e nos sorriem porque nos levantamos para tentar alcançá-las.

Fortes são aqueles que olham os ferimentos e os curam sucessivamente, até que eles se tornem tão fúteis que a queda seguinte terá pouca importância.

Fracos e fortes caem e se levantam. Os dois se levantam depois da queda, porque é impossível permanecer grudado no chão. O chão e o frio expulsam a todos, e os fracos se amedrontam da caminhada e o forte persiste nela, porque a queda seguinte é esperada.

Não se vanglorie por nunca ter caído, aprender a levantar nos transforma mais fortes nos locais das dores.

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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