- Era domingo de Carnaval, 9/2 de 1964, Marineth. Na improvisada passarela do samba, na Av. Presidente Vargas, a Império Serrano se preparava para desfilar. A escola apresentava o enredo Aquarela Brasileira. Exaltação à “Aquarela do Brasil” e, por conseguinte, a Ary Barroso, autor da música. Naquele exato momento a notícia da morte dele explodiu no país.
- Situação inusitada, Athaliba!
- Sim, Marineth. Aquele dia também se comemoraria 55 anos de Maria do Carmo Miranda da Cunha, a Carmen Miranda, que fez a música ecoar no exterior. Ela, estimada amiga de Ary, nasceu em 1909, em Portugal. Morreu aos 46 anos, 5/8 de 1955, em Beverly Hills, na Califórnia, EUA. “Aquarela do Brasil”, composta em 1939, teve a 1ª gravação na voz de Francisco Alves.
- Athaliba, antes de contar por quê lembrou do Ary, devo dizer que a música perdeu o 1º lugar no ranking das mais regravadas para “Carinhoso”. A composição de Carlos Alberto Ferreira Braga, conhecido por João de Barro, e apelidado Braguinha; e Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha, tem 411 gravações. Já a “Aquarela do Brasil” soma 409 gravações.
- Tô sabendo, Marineth. O 3º lugar é da “Garota de Ipanema”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, com 402 gravações. Seguida de “Asa branca”, de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga do Nascimento, e de “Manhã de carnaval”, de Luiz Bonfá e Antônio Maria, com 316 e 290 gravações, respectivamente. Tom Jobim assina “Eu sei que vou te amar”, “Corcovado”, “Wave”, “Chega de saudade”, “Desafinado”, “Insensatez” e “A felicidade”, entre as 15 músicas mais regravadas.
- Vamos à pergunta que não quer calar, Athaliba. Por quê ocê lembrou de Ary Barroso?
- Marineth, este 2023 sinaliza 120 anos de nascimento de Ary Evangelista Barroso, 7/11, natural de Ubá, Minas Gerais, que morreu aos 60 anos. A data de nascimento foi instituída Dia do Radialista, através da lei nº 11.327 de 2006. Aos oito anos ficou órfão dos pais, João Evangelista Barroso (promotor público e deputado estadual) e Angelina de Resende Barroso. Foi criado pela tia-avó materna Gabriela Augusta de Resende. Estudou teoria, solfejo e piano com a tia Ritinha.
- Athaliba, ele, aos 12 anos, já trabalhava como pianista auxiliar do Cinema Ideal, né?
- Pois é, Marineth. À época, os filmes não tinham trilha sonora. Ou seja, eram “mudos”. O diálogo aparecia em legendas enormes. E aí o piano entrava em cena, produzindo sons alusivos às imagens. Essa atividade era comum e me fez recordar do meu padrinho José, pianista, que trabalhou em cinemas no Centro do Rio de Janeiro.
- Athaliba, ele foi herdeiro do tio Sabino Barroso, ex-ministro da Fazenda.
- Marineth, o Ary recebeu 40 contos de herança (milhões de reis - moeda corrente à época) do tio paterno Sabino Alves Barroso Júnior. Ele foi ministro da Justiça e Negócios Interiores e, ainda, da Fazenda, no governo Campos Sales. E ministro da Fazenda, no período de 15/11 de 1914 a 31/5 de 1915, no governo Venceslau Brás.
- Athaliba, ele compôs para dezenas de peças de teatro. E “Vou à Penha” foi a 1ª música gravada, em 1929, pelo colega de faculdade, Mário Reis.
- E, na voz daquele cantor, Marineth, ele conheceu o sucesso com a música “Vamos deixar de intimidades”. “Dá nela” deu a ele vitória em concurso de músicas de Carnaval, em 1930. Ano em que se bacharelou em Direito e casou com Ivone Belfort Arantes, com quem teve os filhos Flávio Rubens e Mariúsa. Na Rádio Cosmos deu início aos programas radiofônicos. E chegou à TV nos anos 1950, com programas de calouros.
- Os programas dele, Athaliba, revelaram Elizeth Cardoso, Zé Keti, Dolores Duran.
- A Elza Soares também, Marineth. Ela o recordava contando que ele a perguntava de qual planeta tinha vindo. E respondia: “Venho do Planeta fome”. Foi locutor esportivo e não escondia ser torcedor do Flamengo. Nos EUA, compôs para filmes de Walt Disney. Em 1946 se candidatou e foi eleito vereador do então Distrito Federal pela UDN - União Democrática Nacional. Mas não se reelegeu em 1950. E isso o fez abandonar a política.
- Qual a colocação da escola de samba Império Serrano no desfile de 1964, Athaliba?
- Marineth, a agremiação carnavalesca ficou em 4º lugar. Cabe registrar que Ary Barroso foi fundador da União Brasileira dos Compositores - UBC -, e, depois, da Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Editores Musicais - SBACEM -, à qual presidiu. Dele, cultivamos a obra de excelente qualidade, na lembrança de Silas de Oliveira, compositor de “Aquarela brasileira”. E, de 1964, expresso eterno repúdio ao golpe civil-militar que tantos males ainda refletem no Brasil.
Comentários
Lembranças interessantes q prestam merecida homenagem ao compositor. Salve, Ari