Coluna

NISE DA SILVEIRA E O CAPITÃO

Às vezes, fico imaginando que Jair Bolsonaro não é tão incompetente como todo mundo diz.

O presidente é apenas um sujeito azarado.

Creio que não há mais dúvidas de que Jair Bolsonaro atrai todo tipo de problema para o seu governo. E os que ele não atrai, como um imã do mal, ele cria. Bolsonaro é adepto da política do “não há nada tão ruim que não se possa piorar”. O último caso de atração foi o da médica Nise da Silveira.

Houve muitas críticas contra o veto, por parte do presidente, à inscrição do nome da psiquiatra alagoana, Nise da Silveira, no livro dos 'Heróis e Heroínas da Pátria', não somente por parte de pessoas que representam a medicina e a psiquiatria, mas também por parte dos cidadãos comuns, que ficaram bastante irritados com o presidente.

Foto: Ed Alves - 

O presidente Jair Bolsonaro, nesta quarta-feira (25), vetou a homenagem à médica, conhecida por revolucionar o tratamento de transtornos mentais, aprovada pelo Senado em 27 de abril.

Na justificativa para o veto, o capitão afirma que "não é possível avaliar a envergadura dos feitos da médica Nise Magalhães da Silveira e o impacto destes no desenvolvimento da Nação, a despeito de sua contribuição para a área da terapia ocupacional".

- Mas, como não, presidente!? - disse um congressista. - A doutora Nise desenvolveu um importante trabalho no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, onde travou uma verdadeira luta contra os métodos violentos de tratamento que eram comuns na época.

- Pra falar a verdade, eu nunca ouvi falar nessa mulher daí, taokey? Mas ela tá me parecendo mais uma dessas comunistas que andam por aí falando em direitos humanos para as pessoas humanas, taokey?

- O senhor nunca leu sobre a doutora Nise da Silveira?

- Nem sobre ela nem sobre ninguém. Eu odeio ler. Quando me fizeram jurar que respeitaria a Constituição eu jurei que andaria nas quatro linhas desse livro daí mas nunca li esse troço. Nem sei se tem essa regra lá. Deve estar do lado da regra do impedimento, que é outra sacanagem - disse o capitão.

A verdadeira objeção ao nome da médica, pelo que pude descobrir, não é nem o fato do presidente ter total ignorância sobre quem foi Nise da Silveira, mas pelo fato de que ela era contra qualquer forma de violência.

- Já pensou se essa regra fosse aplicada no dia-a-dia? Já pensou se as pessoas exigissem que a polícia não baixassem a porrada nos meliantes? Como é que a polícia ia acabar com as greves? Como é que o Exército poderia dissolver as manifestações dos estudantes? E se na época da Ditadura Militar não tivesse o pau-de-arara? Nem o choque elétrico? Tem hora que tem que baixar o cacete nesses malucos, taokey?!

Muitas pessoas aplaudiram as palavras do presidente.

- Ás vezes - disse o presidente - me dá vontade de mandar trazer essa tal de Nise de Oliveira aqui para dar uns corretivos nela - disse.

Um general sussurrou no ouvido do presidente:

- Presidente, a doutora Nise morreu em 1999…

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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