Rio - A notícia da saída do Ministro da Saúde Eduardo Pazuello, não parece ter pego ninguém de surpresa.
O dólar não subiu, nem a Bolsa caiu.
Quando, na semana passada, Bolsonaro levou o Ministro da Economia, Paulo Guedes para negociar a entrega de 14 milhões de doses da vacina contra a covid-19, com a farmacêutica norte-americana Pfizer, no lugar do Ministro da Saúde, todo mundo já sabia que Pazuello estava em processo de fritura.
Todo mundo sabe que quando as coisas não vão bem, Bolsonaro ou culpa o PT, ou demite um ministro. A coisa é tão frequente, que alguns funcionários do Palácio do Planalto já estão até organizando um bolão de apostas para adivinhar quanto tempo o próximo ministro ficará no cargo.
Se isso continuar, podemos, no futuro, imaginar a seguinte cena:
O presidente Bolsonaro e o Secretário Especial Flávio Rocha estão reunidos no escritório analisando centenas de currículos de candidatos a Ministro da Saúde, enviados pelo Centrão. Ouve-se uma tímida batida na porta. “Entre”, grita o presidente.
- Boa tarde, Meu nome é Euclides, vim pela vaga de Ministro da Saúde.
- Certo - disse o presidente. - Qual é o seu passado escolar?
- Sou formado em medicina pela Universidade Gama Filho. Me especializei em Cirurgia Geral e Urologia na Columbia, e fiz pós-graduação em Harvard.
- Muito bem, Euclides. Outra pergunta: Você é a favor do tratamento precoce com a hidroxicloroquina?
- Claro que não. A Cloroquina não é um remédio aprovado no tratamento da Covid-19.
- Desculpe, Euclides. Você não foi aprovado - disse o secretário.
- Mas, por quê?
- Próximo - gritou o presidente.
A porta se abriu e entrou um senhor baixinho com ares de intelectual.
- Meu nome é Claúdio, vim pela vaga de Ministro da Saúde.
- Muito bem - disse o presidente. - Qual a sua experiência?
- Sou médico, professor do Instituto do Coração e diretor de Ciência e Tecnologia da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
- Muito bem! - elogiou o presidente. - O senhor votou na direita ou na esquerda na última eleição?
- Na direita. Votei no senhor.
- Mais uma pergunta: O senhor apoia ou rejeita o uso da cloroquina como tratamento para a Covid-19?
- Rejeito, claro. O medicamento não tem comprovação científica.
- Sinto muito, Claúdio, mas o senhor não passou no teste - disse o presidente.
- Próximo! - gritou o presidente.
A porta se abriu novamente e surgiu mais um candidato.
- Meu nome é Isac, vim…
- Já sei - atalhou o presidente. - Fale sobre sua experiência.
- Eu sou neurocirurgião. Médico do Hospital Sírio Libanês e do Hospital Israelita Albert Einstein.
- Certo - disse Bolsonaro. - Me diga uma coisa: Você sabe ler e escrever?
- Claro. Falo seis línguas e já escrevi 14 livros sobre medicina molecular.
- Muito bem, o senhor parece apto. Mais uma pergunta: o senhor é contra ou a favor do isolamento social?
- A favor, claro. A vacinação em massa e o lockdown são as únicas formas de combater o vírus.
- Desculpe, Isac. Você, infelizmente, não foi aprovado, taokey? - disse Bolsonaro.
Antes que o presidente ordenasse, mais um candidato entrou.
- Meu nome é Eduardo, vim pelo anúncio do trampo aí no Ministério da Saúde - disse o candidato, ajeitando a camiseta amarela com a palavra “Mito”, estampada em verde, no peito.
- Gostei do seu nome. Dudu? Posso te chamar assim? - perguntou o presidente. - Quais são as suas qualificações? O senhor é médico?
- Médico, médico, não. Mas, lá na comunidade eu costumo tirar balas dos corpos dos amigos que não tem plano de saúde, tá ligado?
- Humm! - rosnou o presidente. - O senhor é contra ou a favor do isolamento social?
- Oh, chefia! Claro que sou contra! Esse negócio de ficar preso em casa é para político com tornozeleira eletrônica.
- E quanto a cloroquina e a Ivermectina, o senhor é a favor ou contra o uso?
- É claro que eu sou a favor, presida! Quanto mais drogas no mercado melhor, né?
Bolsonaro olhou para o secretário e soltou:
- Acho que encontramos o nosso homem.
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