Coluna

A LAPA E SEUS MORADORES ILUSTRES

Divulgação - 

Rio de Janeiro - Outro dia, levei a Sheila (uma paulistana apaixonada pelo Rio e pelas coisas do Rio) para conhecer a Lapa.

Estávamos tomando um chopp no Capela (bar onde Madame Satã deu (conta a lenda) o soco que matou o compositor Geraldo Pereira) quando ela sugeriu: porque você não escreve sobre os famosos que viveram ou moraram na Lapa e que pouca gente conhece?

A Lapa, um tradicional bairro da Zona Central do Rio de Janeiro, conhecido como o berço da boemia carioca, também é famoso pela arquitetura, a começar pelo Aqueduto da Carioca - conhecido como Arcos da Lapa - sua principal referência e cartão-postal, erguido em 1745 em pedra, óleo de baleia e cal, para funcionar como aqueduto nos tempos do Brasil Colonial e que, desde 1896, serve como via para o bonde que liga o Centro ao bairro de Santa Teresa.

A Lapa de hoje está cheia de bares bem iluminados com uma moçada bonita e ordeira, bem diferente da Lapa que eu conheci, quando comprei um boteco chamado "Retiro dos Artistas" (Rua do Lavradio, esquina com Rua do Riachuelo), frequentado por artistas, boêmios, jornalistas, prostitutas e travestis.

Mudaram-se os tempos, mas a história do bairro permanece imutável. Poucos bairros do Rio de Janeiro tiveram moradores tão icônicos. Várias figuras ilustres moraram na Lapa, em diferentes épocas, como Heitor Villa-Lobos, Dalva de Oliveira, Herivelto Martins e Mário Lago.

Machado de Assis e sua esposa Carolina moraram na Lapa, por 11 meses, no ano de 1874. Durante o período em que residiu na Lapa, Machado de Assis escreveu o romance A Mão e a Luva. O imóvel onde morou, localizado na Rua da Lapa, 242 (antigo nº 96), foi tombado pela Prefeitura do Rio de Janeiro em 2008.

Lima Barreto morou na Rua do Lavradio. Em 2011, um busto de bronze do escritor foi instalado em um largo da Rua do Lavradio.

Heitor Villa-Lobos morou com a esposa na rua Dídimo, 10, na Vila Rui Barbosa e costumava tocar piano nos bordéis da Lapa como passatempo.

Madame Satã chegou na Lapa em 1907, vindo de Pernambuco. Morou inicialmente na Rua Moraes e Vale, 27, uma pequena rua onde também moraram Chiquinha Gonzaga, Jaguar e o poeta Manoel Bandeira.

O cronista João do Rio morou em um casarão na Rua Gomes Freire, perto da redação do jornal Tribuna da Imprensa, do jornalista Hélio Fernandes.

Carmen Miranda, “A pequena Notável”, morou na Rua Joaquim Silva, 53, Casa 4, de 1915 a 1925.

O poeta Manuel Bandeira morou na Rua Morais e Vale, 57, ao lado do beco da Carmelitas, onde escreveu “Beco das minhas tristezas, não me envergonho de ti. Foste rua de Mulher! Todas são filhas de Deus! Dantes foram carmelitas ...E eras só de pobres quando, pobre, vim morar aqui”.

Candido Portinari morou na Rua Teotônio Regadas, nos anos 30.

Roberto Carlos, 'o Rei', morou no edifício Augusta, na Rua Gomes Freire, quase esquina com a Rua do Riachuelo.

Silvio Santos morou durante a infância e adolescência na Lapa. Quando nasceu, em 1930, a sua família morava na Travessa Bem Te Vi, que ficava entre a Avenida Henrique Valadares e a Rua do Senado, na Vila Rui Barbosa. Mais tarde, mudou-se com a família para a Rua Gomes Freire. O apresentador costumava frequentar os cinemas da Cinelândia e fez o primário na escola Celestino da Silva, na Rua do Lavradio.

Dalva de Oliveira e Herivelto Martins moraram na Vila Rui Barbosa, onde se hospedaram ainda o cantor Nilo Chagas, parceiro do casal no Trio de Ouro.

Mário Lago morou na Vila Rui Barbosa, para onde mudou-se ainda menino.

Ziraldo mudou-se de sua cidade natal Caratinga, no interior de Minas Gerais, para a Lapa, aos 15 anos, a fim de completar os seus estudos no Rio de Janeiro. Veio morar no apartamento de sua avó, que ficava na Rua Joaquim Silva, no trecho próximo à esquina com a Rua Conde de Lages. Mais tarde, Ziraldo escreveu “Viagem de volta: Lapa”, uma matéria para o jornal “O Pasquim”, onde recorda algumas de suas memórias da adolescência vivida no bairro.

Millôr Fernandes morou na Lapa, de 1938 a 1942.

Jaguar morou no bairro, entre os anos 60 e 70. Inicialmente na rua Rua Moraes e Vale, 27. Nos anos 80, voltou e morou num apart-hotel próximo ao ‘Retiro dos Artistas’.

O pintor e ceramista chileno, Jorge Selarón, morava na Rua Manoel Carneiro, também conhecida como "Escadaria Selarón", onde foi assassinado.

Danilo Alvim, o "Príncipe Danilo", jogador do Vasco, morava na Rua do Riachuelo.

Oswaldo Nunes, compositor do Bafo da Onça, morava em um prédio em frente ao meu bar, onde foi assassinado.

O sambista Ismael Silva, que em 1928, com um grupo de sambistas do Estácio, fundou o bloco "Deixa Falar" que se tornaria o precursor da primeira escola de samba de que se tem notícia, também morou no bairro.

Aguinaldo Silva morou na Lapa de 1966 a 1970. Escreveu mais tarde o romance “Lábios que beijei”, baseado nas suas memórias do tempo em que viveu no bairro.

João Gilberto costumava frequentar os bares da Lapa durante o primeiro período em que residiu no Rio de Janeiro, entre 1950 e 1955.

Noel Rosa foi outro frequentador assíduo da Lapa onde compôs para Ceci - dançarina do cabaré Apolo -,que conheceu em 1934, “Último Desejo”. Contava-se na época que um motorista de praça deixava Noel no “Danúbio Azul”. Ali, Noel ficava horas esperando a bela Campista de 16 anos - Ceci - passar.

A Lapa era assim como a capital do Samba por lá era sempre visto Sinhô, sempre com seu violão, Francisco Alves ainda motorista de praça, Ismael Silva, que junto com Nilton Bastos, seu parceiro, vendeu vários sambas à Chico Alves.

Péricles Maranhão (autor de "O Amigo da Onça"), foi outro morador ilustre do bairro.

Também residiram na Lapa: Jorge Amado; Lamartine Babo; Orestes Barbosa, Marcus Lucenna, Zé do Norte e Belchior, entre outros.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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