Coluna

Craveirinha: poeta jornalista

“Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão,
Para te servir eternamente como força motriz
Mas, eternamente, não, patrão”

- Athaliba, os versos são parte do poema “Grito negro”. O autor é José João Craveirinha, poeta, jornalista e cronista moçambicano, que teve o centenário de nascimento comemorado 28/5 neste 2022. Nascido naquele dia e mês, no ano de 1922, em Maputo, faleceu dia 6/2 de 2003, em Johanesburgo, África do Sul. A poesia dele é distinguida pelo combate ao colonialismo e regime nazifascista do governo português de Antônio de Oliveira Salazar. Craveirinha integrou a Frente de Libertação de Moçambique - FRELIMO -, na luta pela independência de seu país. Passou quatro anos preso. Foi o primeiro autor do continente africano a ganhar o Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa, em 1991. Esse extraordinário personagem da literatura lusófona foi lembrado por Maria Helena, ao manifestar opinião sobre a crônica Agostinho Neto, presente!

- Marineth, os meus cumprimentos a ela pela acolhida das crônicas. Aproveito para retribuir a atenção de milhares de leitores e leitoras que prestigiam as crônicas nos e-mails, repassando a familiares e amigos via WhatsApp e Facebook. No contexto desta “vida virtual”, o caldo cultural transborda nas redes sociais. O que disse a Maria Helena?

CRAVEIRINHA
Craveirinha, poeta jornalista de Moçambique, laureado com o Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa. Divulgação

- Abreviando, Athaliba, ela conta que “trago viva a memória de semelhança da estátua que vi num museu em que um homem em cavalo empunha a espada para o herói negro, no chão. O branco, português, com outros homens, também com espingardas. O negro tombado seria, na minha leitura, o grande herói de que trata Ngulani B. Kossa. Que relação se vê com a nossa história, quando vemos a estátua de Anhanguera cruzando as duas principais avenidas da capital Goiânia? É como se as imagens fosse mais que representações de arte, apenas. Mesmo porque não há representação de arte, apenas, e, por si, sem carga ideológica”.

- Marineth, pede a Maria Helena para aprofundar a questão e, assim, ajudar na reflexão.

- Athaliba, vou fazer contato imediato com ela, tá? Pois será um prazer. Mas, retomando a abordagem sobre Craveirinha, ele driblou a perseguição da polícia usando diversos pseudônimos. Exerceu o jornalismo nos periódicos “Notícias da tarde”, “O brado africano”, “Tribuna”, “Diário de Moçambique” e “Voz africana”. Foi cronista de publicações em diversos países. Lutou contra o racismo e revelou que “escrever poemas, o meu refúgio, o meu país também; uma necessidade angustiosa e urgente de ser cidadão desse país, muitas vezes altas horas da noite”.

- Marineth, é imperativo destacar Craveirinha, no universo dos países lusófonos. A CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa - tem cerca de 300 milhões de pessoas. E reúne Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Portugal, Moçambique, Timor-Leste e Guiné Equatorial. O objetivo central é a cooperação e o aprofundamento da amizade mútua. A CPLP surgiu em 17 de julho de 1996, com sede em Lisboa, Portugal. Todos os países tem a data de 5 de maio para comemoração do Dia da Cultura Lusófona. Mas, isso é invisível!!!

- Apesar do nobre princípio da CPLP, Athaliba, ainda não existe de fato uma cooperação vital entre os países lusófonos. Pois, se o Brasil dá as costas para a América Latina, a CPLP nem é divisada no horizonte do Atlântico. Será que por ignorância alimentamos a desintegração?

- Marineth, em honra ao poeta se criou o Prêmio José Craveirinha de Literatura, em 2003.

- Sim, Athaliba. Justo o tributo. Ele mereceu o Prêmio Nacional de Poesia da Itália, 1975; Medalha do Mérito da Cultura de São Paulo, 1987; e Comendador da Ordem Infante D. Henrique de Portugal, 1997; entre tantas outras premiações. O poeta jornalista dizia que os seus poemas sempre tinham dimensão sociopolítica, mesmo que falassem de flores. Os anseios políticos e as questões sociais são notados em todas as expressões literárias de Craveirinha. Recomendo que leia Manifesto, livro que reúne coletânea de poemas e recebeu o Prêmio Alexandre Dáskalos da Casa dos Estudantes do Império. Mergulhar de cabeça na obra dele é tirar os véus dos olhos, viu!

- Marineth, que a Maria Helena atenda o teu chamado. E que essa crônica possa alcançar o Anelito de Oliveira, professor de Literaturas Africanas da Faculdade de Letras da UFMG. Vá!!!

Lenin Novaes

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Crônicas do Athaliba

LENIN NOVAES jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

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