- Marineth, a Lagoa de Marapendi, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, virou latrina, poluída por fezes e xixi. E lá, manhã ensolarada de 1º de maio, ocorreu um fato inusitado, que resultou em morte. Um biólogo, ao praticar paraquedismo, caiu e engoliu águas putrefatas. O resgate foi imediato. Mas, a tentativa de fazer respiração boca a boca para salvá-lo foi abortada, devido ao risco de contaminação. Ninguém quis ousar fazer a respiração boca a boca.
- Ocê pode explicar isso melhor, Athaliba?
- Marineth, o nome da lagoa tem origem tupi, expressando “rio do mar raso”, abundante em vegetação de manguezal. Abrigava espécies nativas, como crustáceos, garças, jacarés-de-papo-amarelo e patos selvagens, entre outros. Era farta a pesca de corvina, robalo e camarão. E, além de atrair banhistas, reunia praticantes de esportes náuticos. Virou latrina de fezes e de xixi. Imprópria para banho, a pesca e pratica esportiva. Mesmo após criação de reserva ecológica, em 1991, não se recuperou. As águas turvas são avistadas lá do espaço e a pesca é risco de morte.
- Mas, Athaliba, a conclusão do emissário submarino da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá não eliminaram o lançamento de fezes e de xixi dos condomínios luxuosos na lagoa? Parece que a poluição se concentra, atualmente, nas Lagoas da Tijuca e Camorim, assoreadas, e Lagoinha das Taxas, infestada por gigogas. As gigogas estão sempre enroscando os cariocas nas praias.
- Marineth, as águas se encontram, sempre. E aí, nesse ritual natural, se purificam. Mas, a imensa quantidade de fezes e de xixi in natura, com lixos descartados de pneus, sofás, materiais plásticos e carcaças de animais mortos, sufocam as águas das lagoas. As favelas da Muzema e Rio das Pedras, cujos moradores são subjugados por grupos de milicianos e de narcotraficantes, não têm saneamento básico. O lixo acaba sendo despejado no sistema de lagoas da baixada de Jacarepaguá, no qual está inserida Marapendi. É a latrina da região. A contaminação das águas causa a mortandade de toneladas de peixes, constantemente. Há décadas.
- Athaliba, a força da grana constrói belas edificações na Barra da Tijuca e no Recreio dos Bandeirantes, entocadas em condomínios fechados e armados. Lá estão os “novos emergentes” e personagens que alimentam o noticiário policial. Também “o papel bordado” destrói a beleza da natureza existente no local. É o paraíso sendo dominado pela ganância do sistema selvagem que corrói a pátria amada. Até quando, senhor dos desgraçados? Como diria o poeta Castro Alves?
- Marineth, a recuperação do sistema de lagoas da baixada de Jacarepaguá é possível. No entanto, a incapacidade e falta de vontade dos governantes do Rio de Janeiro é visível, palpável. Não perca de vista que alguns dos últimos governadores foram acusados de corruptos e presos, como Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho, Sérgio Cabral Filho, Luiz Fernando Pezão e o ex-juiz Wilson Witzel. Incompetentes também são os ex-prefeitos César Maia (duas gestões), o bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, Marcelo Crivella e Eduardo Paes (em exercício na segunda gestão). A população do Rio há muito tempo sobrevive no purgatório político da vida brasileira.
- Athaliba, e por falar em governantes desqualificados, o ex-governador Sérgio Cabral, está de volta ao presídio de segurança máxima, em Bangu. Ele e colegas de cela, incluindo os oficiais da PM, Cláudio Luiz de Oliveira e Daniel Benitez, assassinos da juíza Patrícia Acioli, foram pegos em flagrantes por irregularidades graves no Batalhão Especial Prisional, em Niterói. Celulares e até cigarros de maconha foram apreendidos na cela, em inspeção da Vara de Execuções Penais.
- Marineth, o Sérgio Cabral já soma mais de 400 anos de prisão, condenado por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, em 22 processos na Lava Jato. Além dos celulares e cigarros de maconha, soube que foi apreendido um caderno com anotações de pagamentos em dinheiro, crédito, débito e até para aplicativo de comida. Um banquete de comida árabe bancado por ele no valor de R$1.508,00 teve esfihas, kafta e lentilha.
- E vida boa, Athaliba. Mesmo preso ele não nivela nada por baixo. No aptº, no Leblon, tinha assento na privada sanitária com controle remoto para regular a temperatura. As fezes e xixi recebiam temperaturas adequadas com as variações das estações do ano. Mas, ocê acredita que as lagoas poderão ser despoluídas? E quem foi o biólogo que morreu por contaminação de fezes e xixi ao cair de paraquedas na Lagoa de Marapendi?
- Marineth, em verdade, tudo foi um pesadelo, fruto das notícias frequentes de poluição nas lagoas denunciadas pelo combatente biólogo Mário Moscatelli. A ele dedico esta crônica.
Comentários
Ótima crônica. Torço para que em 2022 possamos acertar e tirar tudo de errado que já passou na presidência.