Casa Fiat de Cultura apresenta novo olhar sobre a visibilidade LGBTQIA+ na exposição Aqueles (In)visíveis
Na mostra, Rodrigo Mogiz mescla bordados e fotografias de séculos passados para contar histórias e mostrar como as questões de diversidade têm evoluído.
Fotos antigas, camisas e bordados tecem uma ponte entre o passado e o presente na exposição virtual “Aqueles (In)visíveis”, do artista belo-horizontino Rodrigo Mogiz, selecionado no 4º Programa de Seleção da Piccola Galleria. A mostra, que tem curadoria de Marco Antonio Vieira, fica em cartaz nas plataformas digitais da Casa Fiat de Cultura entre 18 de maio e 4 de julho e integra a programação da 19ª Semana Nacional dos Museus. É composta de 19 obras, entre bordados, camisas com cores e ornamentações contemporâneas e fotografias que retratam pessoas LGBTQIA+. As fotos são trabalhadas pelo artista a partir de intervenções poéticas, que contam histórias imaginárias das pessoas retratadas e refletem sobre as relações entre palavra e imagem e propõem um olhar para a questão da visibilidade ou invisibilidade das diversidades afetivas e identidades sexuais e de gênero. Para marcar a abertura, no dia 18 de maio, às 19h, a Casa Fiat de Cultura realiza um bate-papo online com Rodrigo Mogiz. A participação é gratuita, com retirada de ingressos pela Sympla. Ainda na programação da mostra estão programadas visitas virtuais com mediação ao vivo, vídeo do artista e tour virtual.
A mostra “Aqueles (In)visíveis” é resultado de uma pesquisa imagética de fotos e retratos antigos de casais e pessoas LGBTQIA+, no final do século 19 e início do século 20 – época em que a fotografia começava a ficar mais popular. Rodrigo Mogiz explica que os invisíveis do título são justamente esses anônimos retratados naquilo que pode ser considerado “um breve marco da visibilidade do afeto entre pessoas do mesmo sexo, assim como a identificação com gêneros opostos a que nasceram”. As 19 obras abordam a visibilidade (ou falta de) de questões de gênero, traçando um paralelo com o passado e mostrando como elas vêm mudando. “Hoje, inclusive temos essa sigla enorme que tenta representar tantas diversidades e o trabalho tendo um aspecto tradicional, cria um estranhamento à primeira vista justamente para provocar reflexões sobre aceitação, preconceito, violência e sobretudo afetividade”, destaca o artista.
O curador da exposição, Marco Antônio Vieira, reforça que a obra de Mogiz se constitui de contraposições, tanto ao dar visibilidade àquilo que se ocultou longamente quanto à própria produção de bordados, que, segundo ele, “são objeto de banimento da cena da alta cultura encarnada pelas Belas Artes e sua História e sentenciadas ao rebaixamento conceitual e intelectual a que se condena o vernáculo (arte e produção populares e artesanais), campo no qual a pertença do têxtil ( tapeçarias, bordados, rendas, tricôs, costura) se aloja como uma prática fincada no solo de um essencialismo feminino”.
Em “Aqueles (In)visíveis”, o bordado mostra sua potência subversiva em obras que são, ao mesmo tempo, poéticas, políticas e sensoriais. A intensidade das cores reverbera em discussões atuais, em uma atmosfera lúdica, que cria histórias para as personagens que estão nas obras.
A exposição “Aqueles (In)visíveis” é uma realização da Casa Fiat de Cultura, com apoio do Ministério do Turismo, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, patrocínio da Fiat e do Banco Safra, copatrocínio da Expresso Nepomuceno, da Sada e do Banco Fidis. A mostra tem apoio institucional do Circuito Liberdade, do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico (Iepha), do Governo de Minas e do Governo Federal, além do apoio cultural do Programa Amigos da Casa, da Brose do Brasil e da Brembo.
Sobre as obras
“Aqueles (In)visíveis” é composta por oito obras de bordado sobre tecidos Jacquard coloridos com rendas que os ornamentam e emolduram, trazendo uma atmosfera de casa, requinte e aspecto vintage para cada uma. Duas camisas bordadas e com ornamentações ficarão suspensas na galeria e complementam a estética da mostra.
Nove reproduções das fotos que serviram como referência para as obras bordadas também fazem parte da exposição. As imagens são impressas em preto e branco e ganham intervenções poéticas, bordadas com linhas coloridas.
Rodrigo Mogiz conta que sua primeira formação é em pintura e, depois, em desenho. Dessa forma, ele emprega o raciocínio pictórico para colocar em prática a técnica do bordado. “Nessa série acredito que me aproximo mais da pintura, por escolher cores fortes e marcantes em combinações diversas, além de explorar também a diversidade por meio dos pontos em diversos preenchimentos das formas”, explana.
Lista de obras
• Reinado Queer (2018)
• A dama vermelha (2019)
• Belas, recatadas e do lar (2019)
• Le voyage dans la lune (2019)
• Olhai os amores do campo (2019)
• Les surréalistes (2019)
• Senhor Azul ama Senhor Rosa (2019)
• Senhora Rosa ama Senhor Azul (2019)
• Black elegant couple (2020)
• Chá em família (2020)
• Azul (2021)
• Cor-de-rosa (2021)
• Elegante (2021)
• Lua (2021)
• Família (2021)
• Natureza (2021)
• Queer (2021)
• Vermelha (2021)
• Surrealistas (2021)
O artista Rodrigo Mogiz
Rodrigo Mogiz (1978, Belo Horizonte) Vive e trabalha em BH. É bacharel em Pintura e Desenho pela Escola de Belas-Artes da UFMG, também é professor e atua em projetos sociais envolvendo arte, artesanato e design. Sua obra autoral aborda poéticas que transitam entre o desenho, a pintura e o bordado, utilizando também aplicação de miçangas, rendas e alfinetes. Suas obras criam narrativas muito poéticas e delicadas, que exalam grande força e um extremo rigor criativo.
Desde 2000, participa de exposições individuais e coletivas em todo o Brasil, em instituições públicas e privadas, como o Museu Guimarães Rosa (Codisburgo-MG), Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea (Rio de Janeiro/RJ), Palácio das Artes (Belo Horizonte/MG), Sesc Pinheiros (São Paulo/SP), dentre outras.
Já recebeu diversos prêmios, entre eles: I Salão Cataguases-Usiminas de Artes Visuais (2004), 2º lugar no Projeto Arte no Banheiro/Comida di Buteco (2006); 3º lugar no Edital LGBT Transarte – Galeria Transarte – São Paulo/SP (2015) e 2º lugar no VIII Salão de Arte Itabirito - Itabirito/Ouro Preto Belo Horizonte (2017).
O curador Marco Antônio Vieira
Marco Antônio Vieira é Doutor em Arte, na linha de Teoria e História da Arte, pela Universidade de Brasília (UnB). Curador independente desde 2007, com exposições com obras de artistas como Rubem Valentim, Athos Bulcão e Vik Muniz, entre outros. Autor de textos críticos e curatoriais para artistas como Marcelo Solá e a eslovaca Lucia Tallova e de artigos publicados no Brasil e no exterior.
Programação paralela
Para ampliar as reflexões sobre a temática e as técnicas artísticas da mostra “Aqueles (In)visíveis”, a Casa Fiat de Cultura preparou uma série de eventos paralelos que complementam a programação.
No dia 18 de maio, será realizado o bate-papo ao vivo com Rodrigo Mogiz. Um dos temas abordados será o seu processo criativo, que começa com a pesquisa de fotos de pessoas LGBTQIA+ de séculos passados e segue com o uso das linguagens do bordado e da poesia para propor um diálogo entre as afetividades de ontem e hoje. Rodrigo falará também sobre como seus estudos em desenho e pintura influenciam seu trabalho, que conta com fortes composições cromáticas e com diferentes pontos de bordado que fazem alusão a pinceladas.
Durante o período expositivo, também serão disponibilizadas visitas virtuais ao vivo, com mediação ao vivo do Programa Educativo da Casa Fiat de Cultura. Para participar, é necessário fazer inscrição gratuita na Sympla.
• 22 de maio, às 10h, com tradução simultânea em Libras.
• 27 de maio, às 19h.
• 3 e 17 de junho, às 16h.
• 19 de junho, às 10h.
• 24 de junho, às 19h com tradução simultânea em Libras.
Para escolas, universidades e grupos interessados em mediação exclusiva, o Programa Educativo está promovendo visitas em horários alternativos. Os interessados devem enviar e-mail para agendamento@fcagroup.com e conferir a disponibilidade.
Foi produzido, ainda, o Ateliê Aberto “Inspirações de Minas – Bordando Afetos em Fotografias”, que ensina como criar um bordado diretamente sobre uma fotografia, resgatando as tradições das bordadeiras de Minas Gerais e as memórias que essas fotografias evocam. O ateliê já está disponível no YouTube e no Instagram da Casa
Fiat de Cultura.
A coordenadora do Programa Educativo da Casa Fiat de Cultura, Clarita Gonzaga, ressalta que as Artes da Fibra (o bordado) vêm se tornando cada vez mais significativas no cenário da Arte Contemporânea, por isso a escolha por incluir a temática nas iniciativas da programação. “A Arte da Fibra propõe uma aproximação entre o universo das artes e saberes populares, desconstruindo estigmas de gênero historicamente entrelaçados aos fazeres relacionados à matéria têxtil”, explica.
Piccola Galleria
O espaço é destinado a artistas da cena contemporânea e foi criado em 2016, com o intuito de incentivar a produção nacional e internacional. Os artistas são selecionados por uma comissão de especialistas, que, nesta 4ª edição, conta com a historiadora e educadora Janaína Melo, curadora e integrante do Conselho Internacional de Museus (ICOM-BR); o curador e crítico de arte Márcio Sampaio; e o artista e professor Marco Paulo Rolla, da Escola Guignard.
A proposta é apresentar e destacar trabalhos inéditos – pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, fotografias, instalações, performances e/ou videoarte – de artistas locais, brasileiros ou estrangeiros. Além de Rodrigo Mogiz, outros cinco artistas foram selecionados na 4ª edição, e as mostras estão sendo exibidas no calendário de 2021 e 2022.
Nas quatro edições, a Piccola Galleria recebeu 424 inscrições, e, entre 2016 e 2020, já apresentou o trabalho de 18 artistas, 248 obras de arte, e recebeu mais de 150 mil visitantes. A sala expositiva é um ambiente dedicado às artes visuais e sua criação marcou os 10 anos da Casa Fiat de Cultura. Situado ao lado do painel “Civilização Mineira”, de Candido Portinari, no hall principal da Casa Fiat de Cultura, o espaço é destinado a exposições de curta duração, mas com toda a visibilidade que a instituição enseja. Local intimista e com grande circulação de público, conta com a chancela da Casa Fiat de Cultura e do Circuito Liberdade, um dos mais importantes corredores culturais do país.
Casa Fiat de Cultura
A Casa Fiat de Cultura cumpre importante papel na transformação do cenário cultural brasileiro, ao realizar prestigiadas exposições. A programação estimula a reflexão e interação do público com várias linguagens e movimentos artísticos, desde a arte clássica até a arte digital e contemporânea. Por meio do Programa Educativo, a instituição articula ações para ampliar a acessibilidade às exposições, desenvolvendo réplicas de obras de arte em 3D, materiais em braile e atendimento em libras. Mais de 60 mostras, de consagrados artistas brasileiros e internacionais, já foram expostas na Casa Fiat de Cultura, entre os quais Caravaggio, Rodin, Chagall, Tarsila, Portinari entre outros. Há 15 anos, o espaço apresenta uma programação diversificada, com música, palestras, residência artística, além do Ateliê Aberto – espaço de experimentação artística – e de programas de visitas com abordagem voltada para a valorização do patrimônio cultural e artístico. A Casa Fiat de Cultura é situada no histórico edifício do Palácio dos Despachos e apresenta, em caráter permanente, o painel de Portinari, Civilização Mineira, de 1959. O espaço integra um dos mais expressivos corredores culturais do país, o Circuito Liberdade, em Belo Horizonte. Mais de 3 milhões de pessoas já visitaram suas exposições e 560 mil participaram de suas atividades educativas.
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