Coluna

ERTHAL E COISA & THAL

O cartunista Erthal anda sumido. 

Digitalizando a coleção do jornal “Cartoon” - um tablóide de humor que editei no final da década de 80 - me deparei com uma charge do cartunista Erthal, que, na época, trabalhava no jornal “O Globo”. 

Conversei com alguns amigos, e ninguém sabia do Erthal. Ou melhor, quase ninguém. Edra, cartunista mineiro, sabia. 

Fui atrás do homem.

Julio Cesar Dias Erthal, o Erthal, nasceu em Niterói, no Rio de Janeiro, no ano de 1962. 

No final da década de 80, Erthal vinha de uma produtora de animação de um argentino e fazia “frilas” para algumas agências de publicidade, inclusive num dos setores de criação da "TV Globo", (núcleo Roberto Talma). 

Ao mesmo tempo, tocava a carreira de cartunista, participando de Salões Nacionais de Humor.

Foi duas vezes vencedor do Salão Carioca de Humor (1990 e 1995), na categoria “caricatura”; primeiro lugar no Salão Nacional de Humor de Volta Redonda, na mesma categoria (1990); e primeiro lugar no Festival Internacional de Humor de Pernambuco (1999), na categoria “charge”. 

Auto-caricatura - Erthal

Um dia, indicado pela diretora de uma agência de publicidade, procurou o jornal “O Globo” que estava precisando de um chargista para cobrir as férias do Chico Caruso.

“A diretora, ansiosa, até insistiu que eu fosse naquele mesmo dia à redação. Resisti um pouco. Meu foco era a publicidade, não pensava na charge como uma profissão. Mas fui”, diz ele. 

Erthal dividia a charge política, na página de opinião do jornal do jornalista Roberto Marinho, com Aroeira, outro cartunista carioca. Mesmo com a volta do Chico Caruso ao trabalho, Erthal foi efetivado e ficou no diário de 1992 a 2002.

“A equipe de arte de “O Globo” era jovem e super talentosa. Foi um imenso prazer trabalhar com aquela turma, em especial, com o Chico Caruso. Um craque. Uma referência”, diz. 

Charge do Erthal no jornal Cartoon

Além de “O Globo”, o chargista colaborou com os jornais “O Pasquim”, “Cartoon” e as revistas “Época”, “Veja” e “Manchete”.

Criou vinhetas animadas (Plim-Plim) para os 30 anos da “TV GLOBO” (entre as preferidas do público) e contribuiu com o curta premiado “O Curupira” (MultiRio), em 2003. 

Publicou em 1998 o livro “Fatores de Risco”, uma coletânea de seus trabalhos na imprensa, eleito o melhor livro de caricaturas pelo 11º Troféu HQMix. Em 2008, foi premiado no concurso literário Horácio Pacheco, da Academia Niteroiense de Letras, na categoria “crônica”.

O cartunista mantém na internet o blog “Coisa & Tal” (https://erthalcartoon.blogspot.com/ ). Coisa linda. Um portfólio de trabalhos recentes. São tiras, cartuns, caricaturas e charges. Publicados e inéditos, como a excelente tira Zig & Zag.

Entre os novos projetos, Erthal se dedica, principalmente, aos livros infantis. Tem dois prontos, e outros tantos em fase final  de desenvolvimento.

Sobre as influências em seu trabalho, ele comentou: “As influências são muitas. Tantas, que não saberia listar. Difícil, teria que escrever um tratado (risos). Mas as influências que considero mais visíveis nos meus desenhos (excluindo-se a charge) são: Disney (toda trupe genial de animadores clássicos, encabeçada por Milt Kahl); Dick Browne (Hagar o Horrível); Albert Uderzo (Asterix); e Bill Watterson (Calvin e Haroldo). E bem mais recentemente: Ronald Searle”. 

Fã dos clássicos, tanto na música, quanto na pintura e na literatura, Erthal é bem conservador. “Tenho ídolos na música (Bach, Jobim, Mozart, Djavan); na literatura (Rubem Braga, Guimarães Rosa); na pintura (Rembrant, Michelângelo); e ídolos que nada têm a ver com a arte também”, diz.

Hoje, Erthal mora em Niterói, onde trabalha como servidor público - uma profissão de pouco “risco”.

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