Coluna

A REFORMA DA PREVIDÊNCIA E OS APOSENTADOS

Rio - O Governo Federal afirmou que se as pessoas continuarem se aposentando cedo demais isso custaria R$ 700 bilhões ao Tesouro Nacional e quebraria a Previdência Social.

Isso tem prejudicado o relacionamento do governo com os aposentados que pareciam se dar bem um com o outro.

Bolsonaro só chamou os aposentados que foram às ruas protestar de “idiotas úteis”, porque pensou que eles queriam se aposentar para viajar para Cancún como queria o presidente da Câmara de Ribeirão Preto (SP), Walter Gomes (PTB).

nani
Cartum (Nani)

Chegará o dia - se a classe não for extinta antes - em que os dois, aposentados e governo,  estarão frente a frente.

De repente, o aposentado diz ao ministro Paulo Guedes:

- Sou um aposentado. Vim receber minha aposentadoria.

O ministro pergunta:

- Quantos anos o senhor tem?

- 65.

- O senhor não tem vergonha de se aposentar tão jovem? Que exemplo o senhor quer dar para o país? O senhor ainda pode trabalhar até os 80 anos, tranquilamente.

O aposentado, meio surdo:

- Hein? 80 anos!? Eu trabalho no campo. Na Lavoura. Olhe minhas mãos! Preciso descansar.

Paulo Guedes, como se não acreditasse no que ouviu:

- O senhor sabia que Oscar Niemeyer trabalhou até os 104 anos?

O aposentado, resignado.

- Eu quero apenas descansar e, se der, comprar um par de sapatos novos, ministro.

O ministro quase teve um troço:

- O senhor quer dizer que vai comprar sapatos novos numa época dessas? Não ouviu o presidente pedir para que se evite gastos supérfluos?

O aposentado, mostrando a sola do sapato:

- O que o senhor quer dizer com “uma época dessas”? Veja quantos buracos!! Chama isso de supérfluo?

Paulo Guedes:

- Por acaso o senhor sabe que no nordeste existem milhões de pessoas que nunca tiveram um par de sapatos, e nem por isso vivem tentando extorquir o governo?

- Tudo bem, Ministro, não vamos discutir por uma coisa tão banal. Pensando bem, ele ainda aguenta mais uma meia-sola. Vou usar o dinheiro da aposentadoria para cuidar dos dentes. Há anos que não vou ao dentista - diz o aposentado, submisso.

O ministro:

- Vai precisar de um salário mínimo para cuidar dos dentes!? O que o senhor está pretendendo fazer? Uma incrustação de pedras preciosas?

O aposentado, abrindo a boca:

- Ãh! Ãh! Vou colocar uma ponte!

O ministro, furioso:

- Insensível!! Com esse dinheiro o governo resolveria o problema de todas as pontes do país.

O aposentado, já convencido que estava pedindo demais:

- Ministro, eu só quero resolver pequenos problemas que tanto tenho adiado por falta de dinheiro...

O ministro, irritado:

- E quanto aos problemas do governo? Já pensou neles?

O aposentado, sentindo-se como a tomada de três pinos, que tem sido a grande dor de cabeça do governo:

- Desculpa, ministro, eu não pensei que pudesse prejudicar o governo por tão pouco.

O ministro, arregalando os olhos:

- Prejudicar? Se atendêssemos a vocês, aposentados, o país quebraria de vez.

O aposentado foi embora sentindo-se o ser mais desprezível da terra. Culpado por todos os males que afligem o governo. 

Inclusive, pelo Queiroz.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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