- “Bandido tem comportamento respeitoso no posto de saúde, lá em Realengo, ao contrário daqui (Hospital Estadual Azevedo Lima – HEAL)”. Marineth, essa comparação absurda é de uma técnica-de-enfermagem, ao chamar a atenção de paciente na Enfermaria Sala Verde, da unidade hospitalar, na Rua Teixeira de Freitas, no bairro Fonseca, em Niterói. Fica do outro lado da poça d’água (Baia de Guanabara, rotulada como fossa, por biólogos) do Rio de Janeiro.
- Athaliba, o que ocê estava fazendo naquela Enfermaria Sala Verde?
- Ora, Marineth, fui internado no HEAL de 30/5 a 16/6 para cirúrgica de retirada da prótese (placa e parafusos) do tornozelo do pé direito. Lembra-se do ferimento da fratura exposta, no qual o osso da tíbia comeu grama e terra, exposto na crônica SUS te ama! (clique para leitura), em 12/3/2024? Pois é, o ferimento não cicatrizava, apesar da carga pesada de antibiótico, devido à bactéria camuflada no osso. Aí o osso foi raspado e identificado a bactéria. Assim, os médicos prescreveram antibiótico específico para combatê-la para a cicatrização plena do ferimento.
- Athaliba, afinal, ocê vai poder voltar a jogar as peladas de solteiros x casados?
- Sim, Marineth. A precisão da cirurgia não deixa dúvida quanto a isso. Mas, na temporada de internação, após a cirurgia, passei quatro dias no anexo do Centro Cirúrgico, por falta de vaga na enfermaria. E lá, sem poder ir ao banheiro, urinando no “papagaio” (aparelho pra coletar urina, em formato anatômico em aço inoxidável), um técnico-de-enfermagem não atendeu o meu pedido de papel toalha para “enxugar” o pênis e evitar respingar a urina na fralda descartável.
- Ocê se sentiu confortável usando fraldão, Athaliba?
- Chamei a atenção do tal técnico, Marineth. Aí, de forma arrogante, disse que eu queria tratamento exclusivo. Retruquei, com veemência, que não queria privilégio. E que sou defensor radical do SUS - Sistema Único de Saúde. Sabia do lugar que estava, sendo cidadão organizado. E, no local, a enfermeira Célia Coelho, arrogante como aquele técnico, batia no peito com orgulho e dizia da equipe ter sido premiada, porque “trato os integrantes na base da chibata, do chicote”.
- Que horror, Athaliba!
- Marineth, ela lembrava postura de agentes da Schutzstaffel, a SS nazista, sem exagero. E, na perspectiva de situação diferente, fui transferido para o leito 1 do Quatro 4, na enfermaria do 1º andar. De cara constatei que quatro dos 10 vasos sanitários estavam interditados, nos dois banheiros da ala masculina. E também três das pias. No dia da alta hospitalar, 16/6, a situação se agravara: apenas dois vasos sanitários eram aptos para uso, utilizados por cerca de 60 pacientes.
- Athaliba, como foi o contato com as equipes de técnicos-de-enfermagem e enfermeiros?
- Marineth, na internação, 30/5, tornei a encontrar a médica Larissa Costa Souza, que me atendeu por ocasião do acidente, 5/1/2024, no Hospital de Itaipu, na Região Oceânica de Niterói. Tive oportunidade de agradecer pelo atendimento de excelência e pela sugestão, na ocasião, de buscar tratamento no HEAL, onde também trabalha. E, na enfermaria, também reencontrei Karina Monteiro, técnica-de-enfermagem. Ela, além de poucas exceções, faz toda a diferença no setor, trabalhando com prazer, disposição irretocável, alta competência e sentimento humanizado.
- Athaliba, na enfermaria, o serviço dos técnicos e enfermeiros eram ineficientes?
- Infelizmente, Marineth. Por exemplo, as técnicas-de-enfermagem Valdecir de Almeida, a Val; e Regina Dutra precisam ser recicladas. A primeira é desatenta na atividade. Comprometia a aplicação de medicamentos por via intravenosa, com alguns pontos de acesso nos braços de pacientes sendo perdidos. Na outra era visível a falta de coordenação motora. Ela não conseguia interagir entre atendimentos aos pacientes. Perdia-se. Ambas são muito fracas, na função.
- Isso, Athaliba, compromete as ações dos médicos, no cuidado dos pacientes, né?
- Exatamente, Marineth. Também muito grave foi a atitude da chefe de plantão, enfermeira Milena Maia, de transformar o tripé de medicamentos em cabide para pendurar o jaleco. O jaleco azul só foi recolhido no plantão seguinte, pelo técnico-de-enfermagem Ubiratan. Mesmo método, pasme, foi repetido pela enfermeira Fernanda, ela, também, chefe de plantão.
- Como assim, Athaliba.
- Pois é, Marineth. A Fernanda seguiu o exemplo irresponsável da colega Milena Maia. E, no tripé de medicamentos, junto à cabeceira do leito 1 do Quarto 4, sem cerimônia, dependurou o jaleco verde, como se fosse cabide de roupas.

- Athaliba, a repetição da aberração revela abuso e incompetência profissional.

- Acertou, Marineth. A larga maioria dos técnicos-de-enfermagem sugestiona os pacientes ao bel-prazer deles/as. Exemplo de incompetência, inabilidade, foi demonstrado pela enfermeira Ludimila. Ela levou bronca da enfermeira Fernanda quando fazia curativo de maneira ineficaz no paciente Jorge Luiz Roza. Com o olhar disperso à atividade, também deixou de fazer curativo no cisto no punho da mão esquerda do paciente Rogério Oliveira da Costa, à espera de cirurgia.
- Athaliba, tô abismada com os relatos de incompetência e de irresponsabilidade.
- Marineth, a Ludimila, ao fazer curativo no tornozelo, não atendeu meu pedido de passar gaze pela planta do pé, evitando, assim, que o curativo se bagunçasse. Como fora feito outras vezes. Deu ruim! Aí pedi ao técnico-de-enfermagem Pedro dos Santos para refazer o curativo. E, ao contar o que havia ocorrido, ele evitou comentários, mas, com olhar fez a desaprovação.
- Athaliba, a direção do HEAL precisa tomar pé da situação, sob o risco de responder sobre ocorrências graves que se divisam no horizonte. O trem pode sair dos trilhos, descarrilar.

- Marineth, o paciente Jorge Luiz Roza, imóvel no leito, devido à paralisia generalizada, tinha as refeições e lanches servidos, diretos na boca, pelo paciente Geraldo Pereira Junior. Ele deu belo exemplo de solidariedade. Os técnicos-de-enfermagem não o alimentavam de forma plena, com exceção de Karina Monteiro, Pedro dos Santos e Lucimar Jesus. Outra questão é que os medicamentos eram ministrados fora dos horários determinados pelos médicos.
- Isso é muito grave, Athaliba.
- Marineth, geralmente, a antecipação da aplicação dos remédios acontece às 4 horas da manhã, pois a troca de turno das equipes de enfermagem ocorre às 7 horas. O serviço se dá em ritmo apressado, com corre-corre de mesas-carrinhos apunhadas de medicamentos no corredor dos cerca de 10 quartos que integram a enfermaria. E, antes, até a meia-noite, também, todas as medicações são ministradas de antemão, possibilitando repouso para os técnicos e enfermeiros.
- Athaliba, compreendo o que ocê tá sinalizando em favor da eficiência do atendimento aos pacientes. O serviço é mecanizado. Ao contrário, deve ser humanizado, como é praticado por Karina Monteiro, Lucimar, Pedro dos Santos, Luciane Carvalho, Flávia Teixeira e os técnicos e instrumentadores cirúrgicos Luan Daltio e Flávio Vieira. Acontece que os segmentos de técnicos e enfermeiros têm baixo salário, com carga de trabalho 24 horas (um dia), por 120 horas (cinco dias de folga). Aí, buscando por melhor remuneração, esses trabalhadores têm três empregos.
- Ocê, Marineth, está dizendo que os técnicos-de-enfermagem e enfermeiros loteiam as enfermarias de hospitais e de clínicas e postos de saúde?
- Ocê tem dúvida disso, Athaliba? É claro que loteiam as enfermarias e postos de saúde. É a luta pela sobrevivência nesse sistema econômico repressor, excludente, de arrocho salarial. O salário do técnico é de R$1.500,00, contrariando o piso salarial nacional que é de R$ 3.325,00. Os auxiliares de enfermagem e parteiras têm piso de R$ 2.375,00; enquanto o piso de enfermeiro é R$ 4.750,00. É o que determina a Lei nº 14.434/2022 para jornada de 44 horas semanais.
- Marineth, esses pisos salariais, constituídos por lei, são desrespeitados. E isso causa alta tensão nas enfermarias, com violências explodindo, inclusive. A terceirização de serviços, que a princípio reduz custos operacionais, por outro lado, gera desafios. Como garantia da qualidade e segurança dos serviços, além de questões trabalhistas e de vínculo empregatício.
- Boa leitura da situação, Athaliba. A crise salarial nas esferas federal, estadual e municipal é aguda, no serviço público, o que compromete o desempenho do SUS. Isso corrobora de forma absurda para as pessoas desorganizadas politicamente defender a privatização da saúde. O cenário é caótico devido à inoperante atuação das instituições representativas dos trabalhadores da saúde.
- É mesmo, Marineth. Mas, antes de entrar no mérito da questão, agradeço daqui, através dos médicos Gustavo Braga da Silva, Carlos Francisco Bittencourt, Henrique Pagotto Gaburro e Jean Antônio Valadão, à equipe médica que me operou. O contato beirou ao sentimento afetivo da concepção política ideológica. Bem, amiga, o Conselho Federal de Enfermagem - COFEN - e tentáculos, Conselhos Regionais - CORENs -, além da Associação Brasileira de Enfermagem - ABEn -, Sindicatos de Enfermagem e federações e outras entidades, como a Federação Nacional de Enfermeiros, precisam romper o estágio imobilista. É preciso ação unitária na luta para garantir qualidade da profissão, defesa dos direitos dos profissionais e promoção do desenvolvimento da saúde. Os trabalhadores devem acabar com peleguismo nas instituições representativas, já!
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