Brasil

QUERO SER PALHAÇO

Rio de Janeiro - Todo mundo tem uma memória artística de infância. A minha, curiosamente, foi em um circo, na Praça Quinze, no Rio de Janeiro, com o lendário palhaço Carequinha.

Eu devia ter o quê, uns cinco anos... Minha mãe me levou ao circo. Era aquele cenário mágico, cheiro de pipoca, o barulho da criançada, a lona balançando com o vento...

A gente sentou bem pertinho do picadeiro.

Em um dado momento o famoso palhaço, do nada, me pegou no colo e me deu um beijo. Sim, eu estava no colo do palhaço mais famoso da época.

Este foi meu primeiro contato com um artista. Aquilo me marcou tanto que, até hoje, eu consigo lembrar de cada detalhe... da maquiagem dele, do sorriso, daquele cheirinho de tinta... Pura magia.

Mais tarde, no colégio, a professora veio com a clássica pergunta: 'O que você quer ser quando crescer?' E eu, na lata, sem pensar duas vezes: 'Palhaço!'

Palhaço Carequinha - Reprodução internet - 

Na verdade, eu ainda não sabia, mas o que eu queria mesmo era ser humorista. Queria fazer humor. E esse foi o começo de tudo. Com o tempo, virei desenhista de histórias em quadrinhos e escritor de humor. Acho que consegui o que queria: fazer as pessoas rirem.

Carequinha, meu ídolo de infância nasceu com o nome de George Savalla Gomes, na cidade de Rio Bonito (RJ), no dia 18 de julho de 1915.

Mais conhecido pelo nome artístico de Carequinha, foi um ator e artista circense brasileiro, considerado um dos maiores e mais notórios palhaços do Brasil.

Carequinha nasceu em uma família circense. Seus pais eram os trapezistas Elisa Savalla, de origem peruana, e Lázaro Gomes.

Ele, literalmente, nasceu no circo, pois sua mãe estava grávida e fazia performance de trapézio quando entrou em trabalho de parto, em pleno picadeiro. Aos dois anos de idade, seu pai morreu e sua mãe casou-se com Ozório Portilho, que deu ao menino uma peruca, uma maquiagem e a missão de ser o Palhaço Carequinha, quando ele tinha cinco anos de idade.

Sua primeira apresentação ocorreu em Carangola, cidade do interior do Estado de Minas Gerais. Aos doze anos era palhaço oficial do Circo Ocidental, pertencente ao seu padrasto. Em 1938 estreou como cantor na Rádio Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro, no programa "Picolino".

Fez história na televisão brasileira por ser o primeiro palhaço a ter um programa, o "Circo Bombril", posteriormente rebatizado como "Circo do Carequinha", programa que comandou por dezesseis anos na "TV Tupi", nas décadas de 1950 e 1960. Carequinha também apresentou-se na "TV Gaúcha", que foi o embrião da Rede Brasil Sul de Comunicações (RBS), na "TV Curitiba" e na "TV Difusora", além de apresentar nas tardes de sábado o programa americano "O Circo".

Nos anos 1980 apresentou um programa infantil chamado "Circo Alegre", na TV Manchete, que tinha como assessora a empresária Marlene Mattos. Após deixar a TV Manchete, várias atrações do seu programa foram incorporadas por Xuxa, ao programa "Clube da Criança".

"Eu inventei essas brincadeiras com crianças, tão comuns hoje nos programas infantis. Eu as pegava para dar cambalhota, rodar bambolê, calçar sapatos, vestir paletó primeiro, brincadeiras com maçã e furar bolas", dizia o palhaço.

Carequinha na mesma época também participou de alguns quadros do "Programa do Bozo" (SBT), "TV Criança" e "Clube do Bolinha", ambos da Band. Na Globo participou dos programas "Os Trapalhões", "Cassino do Chacrinha", "Escolinha do Professor Raimundo" e da novela "As Três Marias".

Seu último trabalho na televisão foi na Rede Globo, com uma participação na minissérie ‘Hoje é dia de Maria’, de 2005.

George Savalla Gomes morreu no dia 5 de abril de 2006, em sua casa, na cidade de São Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro, aos 90 anos.

Ediel Ribeiro (RJ)

709 Posts

Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

Comentários