Rio de Janeiro - Se vivo, Paulo Freire - Patrono da Educação Brasileira e autor da “Pedagogia do Oprimido” - odiado pela extrema direita bolsonarista que via no educador um doutrinador e propagador do comunismo, faria hoje 102 anos.
Conhecido internacionalmente pelo método de alfabetização de adultos que leva seu nome, Freire desenvolveu um pensamento pedagógico que defende que o objetivo maior da educação é conscientizar o estudante. Preso e exilado durante a ditadura militar nos anos 1960, o educador via a Educação como prática de liberdade.
Em seu livro “O Educador”, o biógrafo Sérgio Haddad - que conta a trajetória de Freire - no texto do inquérito divulgado logo depois que o educador partiu para o exílio afirmava que ele era “um dos maiores responsáveis pela subversão imediata dos menos favorecidos”.
Essa frase diz muito sobre a metodologia de Paulo Freire e por que ela gerava tanto incômodo. O método tratava uma maneira de educar intrinsecamente ligada à vida cotidiana – e por isso também à política. O educador era contra o que chamava de “educação bancária”, que colocava o professor como detentor do conhecimento e o aluno apenas como depositório.
Para ensinar, de acordo com ele, era preciso partir da experiência do aluno e do que ele conhecia. Foi assim que um grupo de professores, sob sua liderança, ensinou 300 adultos a ler e escrever em menos de 40 horas, na cidade de Angicos (RN), em 1963.
Paulo Reglus Neves Freire nasceu em 19 de setembro de 1921 no Recife. Filho de Joaquim Temístocles Freire, capitão da Polícia Militar de Pernambuco e de Edeltrudes Neves Freire, conhecida como Dona Tudinha, Paulo teve uma irmã, Stela, e dois irmãos, Armando e Temístocles. A irmã Stela foi professora primária do Estado.
Armando, funcionário da prefeitura da cidade do Recife, abandonou os estudos aos 18 anos e não chegou a concluir o curso ginasial. Temístocles entrou para o Exército. Aos dois, Paulo agradece emocionado, em uma de suas entrevistas a Edson Passetti, pois começaram a trabalhar muito jovens, para ajudar na manutenção da casa e possibilitar que Paulo continuasse estudando.
Sua família fazia parte da classe média, mas Paulo Freire vivenciou a pobreza e a fome na infância durante a depressão de 1929, uma experiência que o levaria a se preocupar com os mais pobres e o ajudaria a construir seu revolucionário método de alfabetização.
Por seu empenho em ensinar os mais pobres, Paulo Freire tornou-se uma inspiração para gerações de professores, especialmente na América Latina e na África. O talento como escritor o ajudou a conquistar um amplo público de pedagogos, cientistas sociais, teólogos e militantes políticos, quase sempre ligados a partidos de esquerda.
Na política, integrou o Partido dos Trabalhadores, tendo sido Presidente da 1ª Diretoria Executiva da Fundação Wilson Pinheiro, fundação de apoio partidária instituída pelo PT em 1981 (antecessora da Fundação Perseu Abramo); além de Secretário de Educação da Prefeitura Municipal de São Paulo na gestão petista de Luiza Erundina (1989-1992).
Paulo Freire tem mais de 30 títulos de ‘Honoris Causa’ concedidos por Universidades de todo o mundo. Além dos prêmios ‘King Baudouin International Development Prize’, de 1980, entregue pela Fundação King Baudouin; ‘Prêmio William Rainey Harper’, da Religious Education Association (Associação de Educação Religiosa, em inglês), 1983; ‘Prêmio de Educação para a Paz’, da UNESCO, de 1986.
Foi incluído no Salão da Fama da Educação de Adultos e Continuada, 2008; Incluído no Reading Hall of Fame (Salão da Fama da Leitura); Ordem do Mérito Cultural, Ministério da Cultura, 2011; Uma escola pública independente de Chicopee, Massachusetts, é denominada Paulo Freire Social Justice Charter School.
Paulo Freire morreu em São Paulo, no dia 2 de maio de 1997.
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