Rio de Janeiro - Eu estava em Paris, quando Carol Cospe Fogo, mansamente, partiu.
Só fiquei sabendo de sua morte quando voltei ao Brasil. Fiquei tão abalado, que até hoje não tinha escrito uma linha sequer para me despedir e homenagear a guerreira e amiga.
Haviam poucos dias do nosso último encontro. Naquela tarde, eu, Aroeira, Ykenga, Brown, Amorim e outros amigos cartunistas, nos encontramos com Carol no boteco Sat´s, em Botafogo, no Rio de Janeiro. Naquele encontro, sem saber, estávamos nos despedindo dela.
Mineira de Belo Horizonte, Carol Andrade tinha 40 anos. Desde os 14 trabalhava com publicidade. Era diretora de arte e ilustradora. Há 6 anos vivia no Rio de Janeiro e se dedicava às charges políticas, cartuns e ilustrações.
Carol ganhou o apelido de “Cospe Fogo” pela maneira ácida que retratava o cotidiano e, principalmente, o cenário político nacional e internacional.
Canhota e ativista LGBTQIA+, Carol produziu centenas de charges e cartuns pautados na defesa dos direitos das mulheres e das minorias. Foi a primeira mulher a vencer o ‘Prêmio Angelo Agostini’ de melhor cartunista/caricaturista do Brasil, em 2019. Participou de diversos salões de humor do país e no exterior, entre eles, o ‘Salão de Humor Gráfico Pandemonium’, na França, em 2020.
Ativa nas redes sociais, seu trabalho era publicado no site ‘Jornalistas Livres’ e em alguns blogs e sites de humor. Os trabalhos da artista também foram publicados na revista independente ‘A Zica’, no ‘Jornal da Faculdade de Direito UFMG’ e no ‘Livro Mulheres e Quadrinhos’ – Editora Skript, 2019.
Carol Cospe Fogo deixa um inestimável legado no mundo do cartum. Suas criações, marcadas por traços provocativos, eram uma manifestação de indignação contra as injustiças sociais e ao mesmo tempo um tributo à diversidade e ao amor.
O cartunista e amigo Renato Aroeira, resumiu bem a arte de Carol: “O traço dela é muito gostoso, delicioso, fofinho, muito bonitinho, e com a carga que ela colocava ali, a combinação ficava explosiva”.
“Ainda outro dia brinquei dizendo que ela cuspia chumbo derretido, que é bem mais difícil. Produtiva demais. Inteligente demais. Artista demais. Comprometida demais. Muito jovem, foi retirada de nosso entorno, este entorno das charges e cartuns que fazem a gente rir e chorar. De raiva ou tristeza. Ativa e radioativa, fazia charges pertinentes e impertinentes. Com graça, mostrava e denunciava nossas desgraças, bem como comemorava nossas vitórias” - disse o chargista e amigo Bira Dantas.
"A Carol veio do meio publicitário e nos últimos anos ela começou a fazer charges em função do momento que a gente vivia no Brasil. Ela se sentiu compelida a participar e expressar a indignação dela por meio das charges e, logo de cara, já começou com um trabalho muito contundente", disse o chargista Duke, amigo e colega de trabalho da cartunista.
A morte da cartunista Carol Cospe Fogo, ocorrida no último dia 9 de julho, em Belo Horizonte, foi causada por uma parada cardíaca resultante de complicações de diabetes. Em seu perfil na rede social, Carol escreveu: “O desenvolvimento do meu trabalho e a construção do meu pensamento vem de um perfil de muita observação e curiosidade”.
Carol sabe como foi importante tudo o que fez.
Adeus, amiga!
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