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"Circo Voador, 40 anos"

CIRCO VOADOR
Divulgação - 

Rio de Janeiro - Escrevi certa vez que ‘quem nunca leu o ‘Pasquim’ não pode ser considerado carioca’. O mesmo pensamento serve para quem nunca frequentou o ‘Circo Voador’.

Minha geração frequentou. E muito.

O Circo Voador, é um tradicional espaço cultural carioca, localizado no bairro da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro, que faz este mês, 40 anos.

Inaugurado em outubro de 1982, o Circo Voador teve seu primeiro endereço na praia do Arpoador, em Ipanema. Em 1996, sua lona azul e branca foi desmontada pelo então prefeito Cesar Maia. 

Em ação popular movida pela produtora Maria Juçá, em 2004 o Circo Voador teve o seu direito reconquistado na Justiça para retornar às atividades. Ainda em 2004, o espaço foi reconstruído na Lapa e devolvido aos produtores e funcionários que estavam no Arpoador, em 1996. 

Na Lapa, de um pequeno circo mambembe, o Circo Voador  transformou-se em um mega projeto, ocupando o prédio de uma desativada fábrica de fogões e cofres, imóvel de grande valor histórico.

Atualmente, o Circo conta com uma infraestrutura para receber cerca de 2.500 pessoas em seus 3.000 metros quadrados. O Circo Voador disponibiliza uma larga pista para o público assistir aos espetáculos, arquibancada com acesso por rampas, além da área dos bares e do telão. Seu palco mede 11 metros de boca de cena por 6 metros de profundidade e 4,5 metros de altura.

Reaberto em 22 de julho daquele ano, o local, além de palco para shows e festas, também abriga atividades voltadas à educação e à cultura. Em 1982, se apresentou ali um grupo de vanguarda na cultura carioca, que já vinha revolucionando a cidade desde os anos 1970, a companhia teatral ‘Asdrúbal Trouxe o Trombone’. Ali, também, no dia 18 de novembro, foi realizado, pelo pessoal da Feira de São Cristóvão, um ato pela permanência da Feira no Campo de São Cristóvão, que contou com a presença de Fagner, Hermeto Pascoal, Marcus Lucenna, Luiz Vieira, Azulão, Lenine e vários outros artistas.

A sua retomada de atividades foi um dos tantos itens que revitalizaram resgataram a boemia do bairro. No entorno do Circo, havia também a ‘Fundição Progresso’, a 'Forroteria' - outro popular palco da música - e o ‘Asa Branca’, além de uma série de casas de espetáculos, bares e restaurantes.

Fruto do anseio de uma enorme onda de artistas carentes de espaço para atingir o grande público, o Circo foi a grande alavanca para muitos grupos hoje consagrados. O primeiro passo foi dado pelos grupos de teatro criados a partir dos cursos ministrados pelos integrantes do Asdrúbal Trouxe o Trombone. Perfeito Fortuna, Patrícia Travassos, Evandro Mesquita, Regina Casé, Luis Fernando Guimarães e Hamilton Vaz Pereira.

Concebido e administrado por Perfeito Fortuna, Maurício Sette, Márcio Calvão e José Carlos Fernandes, o Circo foi o pioneiro em iniciativas que, hoje, estão instituídas no cenário cultural e social do Brasil. Além dos grandes nomes, o Circo investiu e apoiou projetos e festivais que se consagraram dentro e fora da lona como a MoLA - responsável pelo lançamento de novos artistas desde 2005, nas áreas de música, artes plásticas, artes cênicas e audiovisuais-, a Favela Festa, o Golearte - realizado no período das Copas do Mundo -, o Eu Amo Baile Funk, o Verão no Circo, o Folia no Circo, entre outros.

Como espaço para a vanguarda de todas as artes, todas as tendências se apresentaram. Muitos deram os primeiros passos no Circo Voador, fazendo os primeiros shows para cinquenta pessoas e depois, no mesmo local, para três mil: Barão Vermelho, Legião Urbana, Camisa de Vênus, Blitz, Os Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Lobão, Marcus Lucenna, Débora Colker, Engenheiros do Hawaii, Intrépida Trupe e muitos outros.

Além de lançar, o Circo também trouxe, para o grande público, artistas de gerações passadas, mas com talento à flor da pele. Assim, aconteceu com Ângela Maria, Cauby Peixoto, Luiz Gonzaga, Adoniran Barbosa e a Orquestra Tabajara, que manteve a Domingueira Voadora durante quinze anos.

Parabéns e vida longa ao Circo Voador.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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