Sem dúvida, o gaúcho Tarso de Castro e o paulistano Reynaldo Jardim foram dois dos mais importantes jornalistas da história da imprensa brasileira.
Tarso na política e Reynaldo na cultura.
Já escrevi neste espaço sobre o indomável Tarso de Castro, um dos criadores do ‘Pasquim’, hoje vou falar do poeta Reynaldo Jardim, a cabeça pensante por trás do jornal ‘O Sol’.
Reynaldo foi um artista insólito, capaz de transformar pequenos devaneios em grandes ideias. E ele teve muitas.
Pelos jornais, revistas, suplementos, emissoras de rádio e de televisão por onde passou - ao longo de uma carreira de mais de 60 anos - como poeta, jornalista, artista gráfico, escultor e desenhista, exerceu completamente sua capacidade de invenção, reinvenção e inovação.
Jardim inventou ou reformulou diversos jornais e emissoras de rádio do país. Criou o ‘Suplemento Dominical’ do ‘Jornal do Brasil’ - o mais importante e influente caderno de cultura da história da imprensa brasileira - e o jornal ‘O Sol’. Foi editor dos jornais ‘Correio da Manhã’ e ‘Última Hora’. Comandou a revista ‘Senhor’ - onde Guimarães Rosa e Clarice Lispector publicaram seus primeiros textos - e dirigiu a icônica ‘Rádio Mundial’.
Foi uma figura inspiradora para as novas gerações. ‘O Sol’, sua obra mais conhecida, foi um jornal em formato tablóide, que teve vida curta. Abatido pela ditadura, circulou entre setembro de 1967 e janeiro de 1968. Idealizado antes do AI-5 e lançado após o golpe de 1964, reunia na sua redação, sob o comando de Jardim e dos editores Zuenir Ventura, Ana Arruda Callado e Marta Alencar, cerca de 30 jovens formados nas faculdades de jornalismo. Apesar de ter durado pouco, marcou a vida de gente como Ruy Castro, Ziraldo, Henfil, Tetê Moraes, Otto Maria Carpeaux, Carlos Heitor Cony e Fernando Duarte, entre outros.
Reynaldo também fazia um programa de poesia na ‘Rádio Jornal do Brasil’ onde criou uma coluna na versão impressa do JB, em um caderno de receitas gastronômicas. Participaram do suplemento: Glauber Rocha, Ferreira Gullar, Oliveira Bastos, Mário Faustino, Mário Pedrosa, Antonio Houaiss, Augusto de Campos, Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Lygia Clark, Sérgio Paulo Rouanet e José Guilherme Merquior, entre outros.
Natural da capital paulista, Reynaldo Jardim, em 1982, chegou a Brasília para editar o caderno de cultura do ‘Correio Braziliense’. Só ficou dois anos. Saiu para dirigir a Fundação Cultural do DF.
Ele respirava poesia e escrevia compulsivamente. Publicou doze livros, entre eles: ‘Paixão segundo Barrabás’, ‘Maria Bethânia Guerreira Guerrilha’, ‘Joana em flor’, ‘Viva o Dia’, ‘Cantares Prazeres’ e ‘Lagartixa escorregante na parede de domingo’.
O maior legado literário que deixou foi o livro “Sangradas Escrituras”, um tijolaço de mais de 1.200 páginas, com a síntese do que produziu em 64 anos de poesia.
Ferreira Gullar disse, em entrevista ao Correio, sobre "Sagradas Escrituras”: O livro é de uma criatividade, de uma lucidez poética incrível.
Morto em 2011, aos 84 anos, Reynaldo deixou a esposa Elaina Daher e três filhos.
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