Se tem um órgão do Governo Federal que trabalha - e muito - é o Departamento de Recuos e Desmentidos (DRD).
Ligado à Secretaria de Comunicação Institucional, antiga Secretaria de Comunicação - SECOM - o DRD funciona numa salinha nos fundos do Palácio do Planalto, ao lado do gabinete do ódio, sob o comando do secretário especial Flávio Augusto Viana Rocha
Todo mundo sabe que uma das funções mais importantes no governo, hoje em dia, é a de recuar e desmentir as histórias do capitão e de sua prole.
Se o presidente ficar adulterando fatos, desmentindo e fraudando todo tipo de informação, daqui a pouco ninguém mais vai acreditar nas suas declarações.
Como vocês devem saber, a popularidade do presidente Bolsonaro anda ladeira abaixo e isso tem preocupado o Palácio do Planalto.
Quando o secretário especial Flávio Rocha entrou no gabinete da presidência, o capitão estava lendo a ‘Folha de São Paulo’:
- Quem é que faz a merda dessas pesquisas?! Esses jornais comunistas tinham que pegar fogo, como o Museu e a Cinemateca. Como é que pode uma coisa dessa daí? Aqui diz que eu perco pro Lula no primeiro turno. E se fosse para o segundo turno perderia para o Lula, para o Haddad, para o Ciro, para o Dória e até para a Marina Silva.
- E segundo pesquisa do Datafolha 70% dos eleitores acreditam que há corrupção no governo federal. Pior. Cerca de 65% acreditam que o senhor está envolvido diretamente - apontou o secretário.
- É tudo culpa daquela CPI da Covid! Onde já se viu rachadinha ser corrupção!? E não teve corrupção na compra da vacina. Zero!
- De acordo com a pesquisa, sua popularidade continua caindo. 58% da população brasileira considera o seu governo ruim ou péssimo - disse o secretário, apontando para a manchete do jornal.
- Mas como eu posso ser ruim!? E o auxílio emergencial? Se não fosse eu esse povo tava morrendo de fome!!
- Presidente, o senhor diminuiu o auxílio de R$600 para R$150 e deu um aumento de 69% para os militares. Até o seu salário e o do general Mourão tiveram reajustes substanciais - disse o secretário, apontando para outra notícia do jornal. - R$150 não dá nem para 2 quilos de carne!! Dá muito mal para um botijão de gás - completou.
- Essa ‘cuestão’ daí é com o Paulo Guedes. Ele disse que se aumentarmos o auxílio o país quebra. Periga virarmos uma Venezuela.
- A sua popularidade tem caído muito. As pessoas estão preocupadas com a inflação, com o desemprego, com a alta do dólar, da cesta básica, da energia elétrica, do gás de cozinha e dos combustíveis.
- Vamos culpar os prefeitos e os governadores - disse o presidente.
- Mas, presidente, o senhor já culpou os prefeitos e governadores pela pandemia, pelo número de mortos pelo vírus e acusou eles de roubarem o dinheiro que o governo destinou ao combate da Covid-19.
- Precisamos pôr a culpa em alguém, nisso daí. No PT, no Adélio Bispo, no padre Júlio Lancellotti, no Dória, na derrota do Trump, na seca do Nordeste, sei lá. Inventa um culpado aí. Você é da Comunicação. É pago pra isso.
- Não podemos sair culpando as pessoas sem ter provas.
- Já sei. Vamos por a culpa naquele imposto criado pelo PT, o tal do ICMS. Os combustíveis e o gás de cozinha estão caros por causa do ICMS dos Estados, né?
- Presidente, o ICMS não é um imposto novo e nem foi criado pelo governo do PT. Foi criado junto com a Constituição Federal de 1988 e passou a vigorar em 1º de Março de 1989. Lula só foi eleito presidente em outubro de 2002.
- Mas o Paulo Guedes me disse que o aumento da gasolina é culpa do ICMS.
- Em 2019, a gasolina custava R$4, hoje custa R$ 7 e já havia o ICMS naquela época - ponderou o secretário.
- Chama o Paulo Guedes aqui. Ele vai ter que arranjar uma solução para essa ‘cuestão’ daí.
Depois de desligar o telefone o secretário informou:
- Presidente, o Paulo Guedes não pode vir agora, ele está numa reunião com os banqueiros discutindo um meio de aumentar o lucro dos bancos.
- Tudo bem. A inflação pode esperar - concluiu o presidente.
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