Coluna

ATEÍSMOS

Seria possível um ateísmo válido? Ou seja, alguém ser ateu com razão, com convicção nesse ateísmo?

O que se sabe sobre o ateísmo é não acreditar em Deus. Porém, cabe pensar: De qual deus estamos falando? Que deus é esse que falamos tanto, e nos parece diferente para cada um. Para alguns um deus físico, para alguns um deus espiritual e para outros uma ideia, simplesmente, uma força desconhecida, muito além da nossa compreensão. Ou, simplesmente, considerar a sua inexistência, e que esta vida seria uma consequência de eventos que começou aleatoriamente e se desfará da mesma forma. O que poderia nos levar a tipos de ateísmos. Estará Deus à procura do Homem?

mão estendida
Foto: Marcos Paulo Prado on Unsplash - 

Quando fazemos um pedido ao Divino, podendo ser um pedido material ou imaterial, o bem imaterial poderia ter uma interferência Dele, partindo do pressuposto que, para Ele, nada é impossível. Pedir a Dele uma dádiva material, por outro lado, de um bem construído milênios após o seu aparecimento, faz algum sentido?

Se um deus é capaz de nos dar tudo, faz mais sentido pedir a ele um bem imaterial, impossível de ser fabricado, do que o bem material mais coerente ao poder de  algum milionário benemérito conseguiria.

Nesse contexto, ateísmos fazem todo o sentido quando desprezamos um deus que está mais próximo do gênio da lâmpada do que de um criador de um universo tão amplo.

Os ateísmos, neste contexto, assumem ares concretos, quando rejeitamos os deuses de alguns, simplesmente, porque eles colocam Deus em um patamar mais humano do que divino.

Portanto, ser ateu tem um sentido mais amplo, e, ao mesmo tempo, mais restrito. Os ateus são pragmáticos na sua capacidade de refletir. Tentam imaginar um mundo concreto, separado do abstrato, e poderiam, por que não, colocar Deus em um lugar mais respeitável do que aqueles que O tratam como um companheiro, ou um subalterno, obrigado a atender desejos, completamente, abaixo da sua grande capacidade de doar.

Para aqueles que não compactuam com o desfazimento da imagem divina, acreditando que os pedidos não O desrespeitam, acreditando poder prosperar, materialmente, e que isso tem a Sua mão, nos leva a crer que alguns ateus terão mais o respeito Dele do que de outros.

Quando se imagina que a imagem do Seu filho pode ser associada a um gesto armado, e crer que Ele respeita isso, me faz crer que uma forma de ateísmo seja o único regaço onde poderemos acolher um Deus verdadeiro.

O mundo se divide entre esses ateísmos e a uma adoração material. Resta saber qual deus está comandando cada um dos lados.

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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