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BOLSONARO QUER A COPA E O VÍRUS NO PAÍS

A notícia foi destaque nas capas dos principais jornais do país. Li-a duas ou três vezes, sem entender, embora fosse clara, concisa e objetiva.

O problema não é a notícia em si, é a necessidade de o país, em plena pandemia, sediar um evento absolutamente inoportuno.

Enquanto todo mundo está discutindo sobre uma terceira onda, a variante indiana, a falta de vacinas, de leitos nos hospitais, os mais de 460 mil mortos, e 16,5 milhões de infectados pela covid-19, no país, Bolsonaro está num feroz debate com a imprensa e os jogadores para que a Copa América seja realizada no Brasil.

A decisão do presidente Jair Bolsonaro - demonstrando uma agilidade e capacidade de ação que não demonstrou na compra das vacinas - fez com que, na última hora, o país se dispusesse a realizar o campeonato de seleções sul-americanas, já rejeitado por Argentina e Colômbia.

Em todo o país, os jornalistas acham que essa decisão do presidente é, na verdade, uma forma de distração para encobrir a pandemia, o atraso da campanha de vacinação contra a covid-19, a falta de vacinas, a exposição de aliados na CPI da Pandemia, a queda de popularidade do presidente e as recentes crises do governo.

Arte: Nani. 

Governos autoritários, frequentemente, usam o futebol como instrumento político; como o fascista Benito Mussolini, que fazia uso constante do futebol na tentativa de driblar crises em seus governos.

Mussolini promoveu sua ditadura usando a Copa do Mundo da Itália, em 1934. No Brasil, o ditador militar Emílio Garrastazu Médici surfou na onda de popularidade da seleção brasileira na Copa do Mundo, em 1970.

O único compromisso de Bolsonaro com o futebol é se servir dele para melhorar a própria imagem que anda meio embaçada.

A notícia pegou de surpresa até o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga:

– Mas presidente, numa época dessas,com tantas mortes e infectados pelo país, o senhor acha mesmo uma boa ideia, trazer jogadores e a comitiva dos doze países mais infectados do mundo para jogar um torneio aqui?

– O que você quer dizer com “uma época dessas”? A doutora Nise Yamaguchi disse que estamos melhores que a Argentina, e que, qualquer sintoma, é só tomar a cloroquina. E depois, isso não passa de mi-mi-mi em cima de uma gripezinha.

– Presidente, eu quero ficar do seu lado, mas, isso não me parece uma “gripezinha”, já morreram quase 500 mil brasileiros.

– E o Campeonato Brasileiro, A Copa do Brasil, A Copa Libertadores, hein? Nesses campeonatos não se transmitem o vírus?

– É um erro. Já deveríamos ter paralisado todos os torneios disputados no país; mas um erro não se conserta com outro erro.

– Só porque chegou a vez do Sílvio Santos? Quando era na Globo ninguém reclamava. Como é que o ministro Fábio Faria vai explicar o cancelamento da Copa para o sogro dele?

– Quando estava na Globo ainda não estávamos na pandemia. E eu? O que eu vou dizer na CPI da Covid? Os senadores vão querer uma explicação.

– Faz como você fez da outra vez: mente.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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