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Vereadora trans deixou o país após sofrer ameaças de morte

O autoexílio temporário da vereadora travesti Benny Briolly (PSOL-RJ) por sofrer ameaça de morte - ela divulgou o fato nas redes sociais já fora do Brasil, dia 13/5 -, repercutiu em jornais, sites e emissoras de rádio e TVs pelo país. Foi assunto predominante principalmente em Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, município em que exerce o mandato parlamentar. Ela obteve 4.358 votos nas eleições ano passado e é a primeira travesti eleita vereadora na cidade. Explicou sua saída dizendo que “me sinto mais uma vítima do Estado de barbaridade, racista, genocida, que é cruel com nossos corpos”.

Com 29 anos de idade, a travesti é estudante de Jornalismo e mora no Morro da Penha, no Bairro Ponta d’Areia. Nasceu em Niterói e residiu no Bairro Fonseca por duas décadas.

Ameaçada de morte, a travesti Benny Briolly, vereadora de Niterói, deixou o Brasil
Ameaçada de morte, a travesti Benny Briolly, vereadora de Niterói, deixou o Brasil. (Reprodução/Facebook)

Na ameaça recebida por mensagem no correio eletrônico (e-mail) recentemente e à qual a levou a tomar aquela decisão, seguindo orientação da direção do PSOL, o agressor exigia que Benny Briolly renunciasse ao mandato, pois do contrário iria até a sua casa para matá-la. Ela já tinha sido alvo de outras intimidações nas redes sociais, entre as quais dizia que “a metralhadora do Ronnie Lessa” a fuzilaria. Ronnie, que é ex-PM, está preso acusado de ter assassinado a tiros a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o seu motorista Anderson Gomes, em 2018.

A parlamentar, temerosa com sua integridade, devido as seguidas ameaças de morte, disse que “o povo escolheu uma travesti, preta, favelada, para ocupar esse espaço (Câmara Municipal de Vereadores) porque represento as vozes das mães que choram pelos filhos vítimas de violência do Estado, que são pretos. Das travestis e transexuais que se encontram ainda nas esquinas, becos e nas noites sem o direito de vida assegurado. De muitas pessoas LGBTQIA+ e mulheres que todos os dias são vítimas das barbaridades misóginas e lgbtfóbias que acontecem no Brasil”.

O autoexílio de Benny Briolly está previsto para 15 dias, com sua atuação parlamentar feita on-line, como já vem ocorrendo na Câmara de Vereadores de Niterói no decorrer da pandemia do COVID-19. Ela entrou no Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos, após as ameaças serem comunicadas às várias instâncias do governo. A direção da Polícia Civil informou que o inquérito da Delegacia Especializada de Atendimento a Mulher foi encaminhado para o MP-RJ e que, por sua vez, devolveu os autos solicitando mais informações às investigações.

Em entrevistas, a vereadora disse que “neste ano completamos 133 anos da falsa abolição do processo escravocrata, 89 anos em que as mulheres têm direito ao voto; mas, ainda, somos o país que mais mata travestis e transexuais no mundo e um dos que mais extermina defensores de direitos humanos”. Em 2020 foram assassinados 175 travestis e transexuais, correspondendo ao aumento de 41% em relação ao ano anterior, quando foram registrados 124 homicídios.

Depois das eleições e antes de tomar posse, a travesti Benny Briolly esteve na Câmara de Vereadores, em dezembro passado, para acompanhar uma das sessões. E, naquela ocasião, foi hostilizada por um grupo liderado pelo também eleito vereador Douglas Gomes. Precisou sair do parlamento protegida por agentes da Guarda Municipal, mobilizada por outros parlamentares que temiam agressões físicas. Desde então as ameaças aumentaram. Ano passado, Talíria Petrone, deputada federal (PSOL-RJ) – ela fora vereadora de Niterói e tinha a travesti Benny como sua assessora parlamentar -, denunciou à Organização das Nações Unidas (ONU) que estava sendo vítima de atentado contra sua vida.

Talíria Petrone, que também buscou autoexílio depois de ameaçada de morte, comentou que “é inadmissível, intolerável e inaceitável essas intimidações à integridade física à vereadora Benny Briolly”.

Lenin Novaes

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Crônicas do Athaliba

LENIN NOVAES jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

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